[RP FECHADA] PAIN

Terminei de colocar os ingredientes sobre a mesa, olhando-os. O som das ondas quebrando era audível, entrando no quarto mesmo com a janela fechada. A cidade livre era gigante, com muitos habitantes e estrangeiros que chegavam e saíam da cidade com seus navios. Sendo portuária, não era incomum comerciantes atracarem seus barcos, assim como piratas também o faziam para buscar provisões. E era nesses tipos de pessoas que estavam as principais oportunidades de fornecer meus serviços.

Algumas horas antes tinha estado em uma das estalagens, bebendo, quando um capataz veio me chamar. Mantendo o capuz sobre a cabeça, segui com ele até um dos quartos, encontrando ali um homem acima do peso ostentando um colar de ouro em seu pescoço, juntamente com vestes requintadas. Era visivelmente um rico mercante. Abri meu sorriso, meu rosto ainda oculto pelas sombras. Após um pouco de conversa, me disse quem era seu alvo. Um outro mercador que estava hospedado ali perto. O serviço deveria ser executado naquele mesmo dia. Mesmo dizendo-lhe que essa urgência custaria-lhe ainda mais, insistiu para que fosse assim, pois no dia seguinte o inimigo provavelmente deixaria a cidade. Após assinar o contrato, peguei minha cópia, guardando em um dos bolsos internos de minha capa, voltando a me misturar a noite.

Para poder executar o serviço, precisava preparar um sonodoce. Como executaria a missão durante a madrugada, provavelmente meu alvo já estaria dormindo. Seria fácil fazê-lo nunca mais acordar. Lembrava-me das outras vezes que fizera esse veneno. Não era complicado, apenas demandava um pouco de tempo. Podia fazer mesmo sem estar com todos os utensílios, era possível improvisar.

Conseguir os ingredientes fora bastante rápido também. Peguei a minha adaga e, com o cabo, comecei a macerá-la, até que virasse um pó. Coloquei dentro de um copo e logo segui para o ingrediente seguinte. Os botões de rosa eram delicados, amassavam com facilidade embaixo do pomo da minha arma. Levantaram um odor delicioso no quarto. Misturei os pós de canela e a erva-cidreira, que já comprara nesse estado. O cheiro ficava cada vez melhor. A valeriana também não foi um problema, entretanto a casca de salgueiro era um pouco mais chata. Embora um pouco quebradiça, transformá-la em um pó não era tão fácil.

Após algum tempo, consegui terminar de macerar. Coloquei o último componente no copo e misturei-os ali, amassando-os mais um pouco ali, com cuidado para não me cortar no fio da lâmina. Sorri com o resultado final, pegando um dos frascos vazios e colocando ali.  O sonodoce estava pronto. Suspirei, limpando a sujeira que fiz rapidamente e guardando o que sobrou.

Coloquei a minha capa e guardei minha adaga novamente em um dos bolsos, escondida mas rapidamente acessível. Olhei uma última vez para o mapa que tinha sobre a mesa, revendo onde estava meu alvo e o caminho que tomaria. Saí do quarto onde estava hospedado, trancando a porta e me misturando as sombras. Era uma madrugada bastante escura, não era difícil andar pelas ruelas sem chamar atenção. De cabeça baixa, não era nada além de um vulto naquelas vielas em que ninguém mais andava. A grande maioria das pessoas estavam em suas moradas ou estalagens, ou aproveitavam os prostíbulos e bares de Pentos.

Mais um lamento estava prestes a ser realizado. Estava cada vez mais acostumado ao que fazia. A morte era algo natural, apenas chegava mais cedo para aqueles que não se precaviam. Ter atrás de si um homem pesaroso era a certeza de que em breve faleceria. Sua alma apenas teria o conforto de um sussurro lastimoso, antes de ser tirada de seu corpo. Muitos achavam que meu tipo de serviço era desonroso. A forma como a maioria o executava de fato o era, entretanto eu o fazia de maneira bastante eficaz e sem deixar traços.  

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