[RP FECHADA][FLASHBACK] No, no, don't let her smile fool

Braavos estava à beira de um colapso civil. Os comerciantes aumentaram os preços da mercadoria, os impostos dos governantes aumentaram e os menos favorecidos não tinham mais o que comer em suas mesas. O número de pedintes aumentou e todos no Templo de R’hllor viram nas chamas o que estava prestes a acontecer. O Sacerdote maior avisou a todos que se preparassem, pois uma guerra civil estava para estourar.

Layna separava toalhas limpas e pastas que haviam produzido para emergências assim. Pinças, pequenas tesouras, soluções para infecções também eram separadas. Sentia-se nervosa, suas mãos tremeluziam um pouco enquanto manuseava os utensílios. O que R’hllor reservava pra ela? Pra eles? Para Braavos. Respirou fundo e guardou tudo dentro de uma bolsa, ouvindo a porta atrás de si ranger. — Está na hora, sacerdotisa. — e a ruiva respirou fundo, rezando baixo para que R’hllor a guiasse com sabedoria.

[...]

Os corpos jaziam ao chão e em camas improvisadas abaixo de tendas sujas e caídas. O sangue espalhava-se pelas ruelas de Braavos e com certeza aquilo entraria para a história da cidade braavosi. Os olhos da sacerdotisa passavam por todos antes da mesma começar a caminhar com pressa, chegando ao primeiro ferido, que estava ao chão. Havia hematomas profundos e cortes pelo corpo, cortes superficiais possivelmente feitos com alguma lâmina pequena, como adaga. O sangue se acumulava em pequenas poças ao lado do corpo, e o homem parecia fraco em demasia para levantar-se ou pedir ajuda.

Puxou um pequeno frasco da bolsa em que havia arrumado antes, com um líquido esbranquiçado. — Beba, vai ajudar. — falou baixinho e segurou a cabeça do homem ajudando-o a levantar e levando o frasco aos seus lábios ressecados. Assim que ele havia sorvido um pequeno gole, que bastaria, a sacerdotisa voltou a guarda-lo. Ao voltar a deitar a cabeça do homem com delicadeza, Layna esqueceu-se de tudo em volta e focou sua atenção apenas no ferido à sua frente. Começaria puxando panos limpos e água, onde lavaria os ferimentos abertos. Começou com os maiores, que estavam no peitoral e flancos.

Os cortes estavam pouco abertos, o que significava que também eram pouco profundos. O que preocupava a sacerdotisa era a procedência da lâmina. Seria enferrujada? Bem, pelo corte limpo que ficou, com bordas lisas e regulares, ela julgava que não. Estaria suja de algo infectante? Isso ela não podia descobrir assim, teria que apenas limpar o máximo que conseguisse para evitar qualquer possível infecção.

Jogou um pouco de água no primeiro ferimento, friccionando o pano dentro em si da incisão, não levando para fora do mesmo nem trazendo sujeiras externas para ele. Sempre virava o pano para utilizar a parte limpa. Repetiu os mesmos procedimentos em todas as incisões, trocando os panos quando necessário e sempre utilizando água limpa. O homem não reclamava muito, já que o leite de papoula o havia deixado sonolento, deixando com que a sacerdotisa trabalhasse melhor e sem intercorrências. Após lavar as mãos, a ruiva decidiu verificar se não havia traumas internos e não visíveis. Começou apalpando os braços e pernas com os dedos, notando que os ossos e articulações estavam intactos. Nem ombros ou pés ou mãos haviam sido prejudicados. Ainda preocupada com os cortes, que não sangravam mais, a mulher decidiu passar um pouco de pasta de confrei na borda dos cortes. Os hematomas se curariam sozinhos, já  que no momento ela não teria tempo para isso. Mais feridos precisavam de seus cuidados.

Habilidade treinada:

Caminhando novamente entre os feridos, a sacerdotisa viu uma cena que a chamou atenção. Uma mulher segurava no colo um garotinho magricela e coberto de fuligem e sangue. Segurava-o com tanta força que talvez o matasse sufocado. — Com licença. O que houve? — perguntou ao se aproximar dos dois, ajoelhando-se. Um par de olhos castanhos e assustados virou-se para a sacerdotisa, a dor parecia saltar de suas órbitas, as lágrimas inundavam seu rosto magro e também sujo. — Oh! Uma sacerdotisa! Por favor, salve meu filho! Por favor! Por R’hllor! — ela gritava e jogava o corpo do garotinho em direção à ruiva.

— Calme! Irei ajuda-la, mas preciso saber o que aconteceu. Deite-o aqui. — segurando a cabeça do garotinho para que não batesse, acomodou seu corpinho no chão. — Estávamos recolhendo nossa barraca de frutas quando estourou a confusão. Nossa tenda foi a primeira a ser saqueada. Veja, nossa tenda é nossa única fonte de lucro, então tentei defende-la dos vândalos. Fui atacada e atacaram meu filho também! Meu pobre garotinho... — o soluço do choro fazia seu corpo balançar enquanto ela acariciava o rosto dele. — Fique tranquila, tudo bem? Irei ajuda-lo o máximo que conseguir. —

Layna sabia que não podia ressuscitar os mortos, por isso levou dois dedos à artéria carótida do garotinho. Uma pulsação fraca e quase nula foi detectada e a mulher pôs-se rapidamente a puxar seus utensílios e materiais. Na parte frontal de sua cabeça havia um corte demasiado. O cabelo misturava-se com sangue e sujeira. O coração da ruiva apertou-se no peito ao ver uma cena tão deplorável. Uma criança inocente pagando por maus governantes ou pessoas intolerantes.

Água limpa foi jogada no ferimento, e o pano limpo fazia o trabalho de retirar a sujeira mais grossa do cabelo e pele. Pedaços grandes de terra e sangue iam caindo ao chão, uma mistura estranha e espessa escorria até o chão. Quantas poças de sangue a sacerdotisa veria hoje? Talvez mais do que gostaria.

Um pouco trêmula pelo nervosismo, a mulher pegou uma pinça média. Iria retirar primeiro os pedaços maiores de pedras e sujeira, com um pouco de dificuldade por causa do cabelo desgrenhado. Um por um, os pedaços foram caindo ao chão, e seria a hora da parte mais delicada: A raspagem do cabelo para tratamento da ferida. O próprio cabelo causava infecção em incisões assim, além de acumular sujeira. A navalha bem afiada em mãos. A lâmina brilhante foi posta sobre a pele, uns dez centímetros para cada lado seria bom. Começou a mover a lâmina contra o corte, com cuidado e destreza. Os fios iam caindo pesadamente, deixando o local do ferimento bem mais aberto e fácil de lidar.

A ferida era grande e com bordas irregulares, com certeza não sendo feita com lâmina. Talvez o garoto em meio à confusão tenha caído ou sido empurrado. — Ele desmaiou ou vomitou na hora em que bateu a cabeça? — investigou, para descartar uma possível concussão ou trauma encefálico. —Não, só chorou bastante e ficou assustado com o sangue. Aí agora ele começou a ficar fraco e com o corpo mole... —a fraqueza devia ser da perca em demasia de sangue e possivelmente da dor também. Observando seu peito subir e descer, Layna concluiu que sua respiração era regular.

Limpando mais uma vez o sangue que insistia em escorrer, e estancando com uma das mãos, a outra segurava uma pinça de tamanho médio, onde abria um pouco mais das bordas da ferida para ter certeza que nenhum outro corpo estranho estaria ali. Retirou apenas alguns pedaços de pedrinhas ou outras coisas que não conseguiu identificar. Retirava com cuidado, sempre jogando água para limpar o sangue e qualquer resquício de sujeira.

O sangue parecia estar dando uma trégua, e com um último pano limpo, colocou sobre a ferida e pressionou com força moderada. — Pressione assim, não fraco nem muito apertado. Se o sangue encharcar, vire o pano. Depois passarei aqui para verificar. Em casa, mais tarde, dê frutas a ele e bastante líquido. — olhou bem para o garoto, sentindo algo diferente dentro de si. —Sabe, sinto que R’hllor tem planos grandiosos pra esse garoto. E ele só está vivo porque o Senhor da Luz quis assim. Caso queira, podemos cuida-lo em nosso Templo e ele crescerá conosco, tornando-se um seguidor de R’hllor. — as palavras parecem ter mexido com a mulher, e como não... Ter a perspectiva do filho crescer sendo bem alimentado, com instrução e servindo ao Senhor da Luz... Layna achou o convite uma verdadeira dádiva e não o teria feito se não tivesse sentido em seu coração.

Habilidade treinada:

Quem diria que em meio ao caos, vidas poderiam nascer? Nem mesmo a sacerdotisa havia previsto isso em suas chamas, quando ouviu gritos vindo de uma mulher com o rosto molhado em suor e a expressão contorcida em dor. Que falta de sorte nascer em meio a um pandemônio! — Respire fundo, o máximo que conseguir, e expire bem lentamente.   — orientou-a.

Havia lido em vários livros sobre partos, mas nada se comparava em fazer um assim, ao vivo, sem ajuda e sem saber de nada da paciente. Estava na hora certa de nascer? Isso contava muito. — Por favor, busque toalhas limpas e uma bacia com água quente. — pediu a uma mulher que segurava a mão da gestante com força, seria importante receber o bebê num ambiente mais “limpo”.

— Continue respirando desse jeito. Eu sei que a dor é intensa, mas respirar assim vai ajudar a aliviar e fazer com que o bebê nasça logo. — a instruiu, segurando em sua mão com força e imitando como devia respirar. Inspirando profundamente e expirando bem devagar. — Eu acho que meu bebê não tá na posição certa de nascer... — ela gemeu baixinho. Não estava virado certo?

Pelo que Layna lembrava-se, o bebê deveria estar com a cabeça virada para baixo, assim nasceria bem e a mãe teria mais chances de sobreviver também. O desespero bateu em seu peito, e Layna ajudou a mulher deitar corretamente, meio ao chão sujo. Com as pernas dela já dobradas e abertas, a sacerdotisa elevou totalmente sua roupa para deixar sua parte íntima sem tecidos impedindo a passagem da criança. Providenciou uma toalha para apenas “abafar”, contando que tinham muitas pessoas ali e suas intimidades não poderiam ser expostas dessa forma.

Olhou para a enorme barriga, engolindo em seco o medo absurdo que estava sentindo. O que estava prestes a fazer poderia matar tanto o bebê quanto a mulher, e não queria carregar esse fardo sobre si. Mas que chances a pobre mulher tinha? Pelo menos com a técnica da sacerdotisa, seria cinquenta por cento de chance de o bebê nascer. Ou menos, a cabeça da ruiva estava um turbilhão. Pingando uma quantidade generosa de óleo de coco na protuberante barriga, massageando levemente para espalhar bem todo o material oleoso.

Enquanto fazia os movimentos suaves, fechou os olhos e respirou fundo. Rezava baixinho para que o Senhor da Luz abençoasse as duas, principalmente Layna. Que as mãos dela fossem guiadas por ele, que ocorresse tudo bem e que R’hllor guardasse a saúde de ambos. Sua fé estava depositava nisso e em seu Senhor.

Posicionou uma das mãos em cima, no alto da barriga e outra no baixo ventre. Podia sentir o bebê lá dentro. — Vamos, minha pequena criança. Ajude-me, nos ajude. — sussurrou baixinho e começou a empurrar com força. O óleo ajuda na movimentação. A mão que estava em cima empurrava pra um lado, sempre em direção para baixo. A outra em direção pra cima. Por vezes colocava mais óleo, voltando com os movimentos. Eram rápidos e fortes, não tinham muito tempo.

Sentia que a criança começava a se mover, pela falta de espaço, era completamente trabalhoso. — Continue respirando; — orientou quando a mãe gritava em dor. A criança havia mexido alguns centímetros já, e o bumbum já estava na lateral da barriga, faltava tão pouco. — Ela tá sangrando muito! — a companheira gritou, ao retornar com os panos e a água quente. — Umedeça os panos e fique limpando e estancando o sangue. O bebê não pode esperar mais muito! — pestanejou, colocando mais força e agilidade.

A própria sacerdotisa sentia que a vida do bebê se esvaia aos poucos, pois antes ele estava ajudando a movimentar, agora não se sentia mais isso.  As mãos brancas da ruiva começaram a tremer enquanto fazia a manobra, seu coração palpitou quando a mulher desfaleceu em um grito sufocado.

[...]

Habilidade treinada: