Desde Maegor - um príncipe exilado que tinha sido trazido de volta para Westeros por Visenya I a fim de assumir o trono que seria seu por direito - até Daemon e a sua esposa Laena Velaryon, que fugiram para Essos logo após o seu casamento por temerem a ira do Rei seu irmão, Viserys I, ao descobrir sobre a união matrimonial entre as duas Casas que, até então, tinham sido inimigas, eram mais que muitas as histórias sobre Targaryens exilados naquela cidade ancestral, o que trazia até algum conforto à loira. A sua história era apenas a recriação mais recente do que já se sucedera vezes e vezes, no passado. E, em algumas dessas vezes, a justiça fora feita e os exilados puderam tornar-se grandes Reis e Rainhas dos Sete Reinos. Era na mais recente dessas histórias de sucesso que, agora, Leana se concentrava.
Daenerys Targaryen, sua avó, conquistara o Trono de Ferro com Fogo e Sangue. Antes que possuísse o poderio imprescindível para conseguir executar tal proeza, porém, também ela passara uma temporada na cidade de Pentos, hospedada na grande mansão de Illyrio Mopatis, um poderoso magíster. Viserys e Daenerys permaneceram hospedados na residência de Illyrio durante quase meio ano, recebendo deste o apoio à causa de Viserys e às suas pretensões ao trono. Fora o magíster quem promovera o casamento entre a jovem Targaryen e um dos mais poderosos Khals do Mar Dothraki, bem como fora ele quem, mesmo sem saber da importância de tal ato, oferecera à Princesa os três ovos de dragão que viriam a dar vida a Drogon, Viserion e Rhaegal. Aquele fora o começo da história da conquista da sua antecessora, o ponto de partida para tudo o que os trouxera até aquele presente que se fazia conhecer mais a cada dia que passava.
Ali sentada, a ler as palavras já bem conhecidas que retratavam a forma como Daenerys desafiara todas as probabilidades e - indo contra a crença daqueles que a julgavam morta ou demasiado incapaz para algum dia chegar a constituir uma ameaça àquele que se sentava no Trono de Ferro - varrera Westeros de um extremo ao outro, Leana sentia a nostalgia dos dias em que a Septã a fazia ler e reler os mesmos livros, contando-lhe cada um dos detalhes que tinham escapado previamente à menina. Ali, Leana sentia-se novamente uma criança, a inocência conservada e a felicidade abundante, enchendo todo o castelo de alegria e animação. Recordava-se dos seus irmãos: do pequeno Desmond que sempre a seguia, fosse para onde fosse; de Arya e Rhea, sempre em brigas uma com a outra e, geralmente, demasiado ocupadas para dedicarem alguns momentos da sua atenção à mais nova; e, por fim, do independente Baelor, que nada mais queria senão divertir-se como um nobre comum. Recordava-se da paixão que sentia pelos pais, e da paixão que era notória entre os dois. Recordava-se dos grandes banquetes e festividades que tinham lugar na Fortaleza Vermelha, e até mesmo as paredes acobreada da sua antiga casa faziam o frágil coração apertar-se e contorcer-se em dor. Tudo aquilo fazia parte de um passado que nunca mais voltaria, não fazia sentido estar a relembrar-se de memórias que não eram nada mais senão pó e mágoa.
Fechando o livro com um baque surdo, levou uma mão delicada ao rosto para então secar os olhos da humidade que se concentrara naquela região, inspirando fundo. Chorar não iria reverter o que tinha sido feito. De momento, a única oportunidade que teria de vingar a sua família e todo o mal que lhe tinha sido infligido era apoiar a Princesa Blackfyre nas suas pretensões, despojando Serra do trono que não lhe pertencia. E era para isso que Leana se encontrava ali, em Pentos. Trataria de escrever um novo capítulo na história dos Sete Reinos e além, e para isso nem toda a sua força de vontade e habilidades seriam suficientes. Uma coisa, no entanto, era certa: conseguiria alcançar os seus objetivos, ou morreria a tentar.
A loira sobressaltou-se no momento em que a porta dos aposentos foi aberta, erguendo o seu olhar para encontrar a figura esbelta de Visenya. Trocando a nostalgia por um sorriso gentil, a Targaryen cumprimentou a sua anfitriã com um aceno de cabeça. - Princesa Visenya, vejo que recebeu o meu recado - acompanhou os movimentos da mulher com o olhar, voltando a assentir quando lhe foi oferecido vinho. - Aceito com todo o gosto. O Terry foi convocado para um treinamento conjunto, pelo que só estará de volta mais logo. - Pensar no garoto reconfortou-a de certa forma. Ainda que o relacionamento dos dois fosse declarado, Leana julgava que a Princesa de Pentos não conhecia plenamente a natureza do mesmo.
- Não tenho nenhum plano, na verdade. Estava a ler este livro, mas bem... - Fez uma pequena pausa em que aceitou o cálice oferecido por Visenya; não sabia ao certo o que dizer quanto ao livro que lhe despertava tantas memórias indesejadas. - Mas e você, tem alguma atividade planeada? - Elevou o metal frio, deixando-o em contacto com os lábios avermelhados para que o líquido quente pudesse ser apreciado enquanto aguardava pela resposta à sua simples questão.
- Habilidade treinada :
- História