[OP fechada] Was I dreaming?

por **Nanien Mormont** Seg Abr 12, 2021 8:52 pm

Was I dreaming?

RP fechada para moradores da Ilha do Urso, sem segundas respostas.

por **Nanien Mormont** Seg Abr 12, 2021 11:29 pm

Was I dreaming?

S

entiu uma dor no peito, como se uma de suas próprias adagas tivesse sido fincada com ódio em si. Afiada e mortal, tirou-lhe o fôlego, fazendo-a acordar num susto. Lágrimas rolavam em suas bochechas como numa caçada noturna ainda que não se lembrasse do pesadelo que lhe perseguia. A lareira do quarto estava acesa, o barulho da madeira queimando e da brasa se mantendo quente sempre fora confortável aos ouvidos, mas... algo parecia estar errado, fora dos eixos. — ...Dorian? – chamou, mas não obteve nenhuma resposta. Como de costume, repousava confortavelmente abraçada por três ou mais cobertores de pelagem animal. O frio do Norte, mesmo que não a pegasse mais de surpresa, costumava ser mais sagaz nas épocas de outono. As folhagens caíam nos jardins, as quais eram recolhidas com muito esforço para que os filhos pulassem em cima e tornassem o trabalho mais difícil. Os filhos...

— ...Norian? Danien? – Sua voz ecoava no quarto iluminado, mas ninguém respondia. A espada do Mormont não estava pendurada na parede como de costume. Seu grande sobretudo de pêlos também sumira. Eles estavam brincando, talvez? Um pouco apressada, calçara as sapatilhas. Usava uma camisola que quase escondia os pés, de mangas longas e gola alta. O barulhinho das solas batendo contra as pedras era a segunda coisa que se podia ouvir. A terceira era sua própria respiração.

Abrindo a porta e andando pelos corredores, percebeu estar sozinha no forte. Não havia ninguém em canto algum. O coração começou a bater mais rápido. Uma ansiedade tomava conta do corpo, como se não fizesse nenhum ataque furtivo há anos. Para sua própria segurança, pegou a espada de uma das armaduras de decoração de um dos salões, temendo que fosse algum ataque muito bem planejado. — ...Dorian, isso não tem graça. – Praguejou, e era possível sentir o medo em sua voz. Tudo estava no seu maior estado de calmaria e arrumação. Gostava daquilo, mas percebeu se sentir mais à vontade em meio ao caos que era estar perto de todas as pessoas que ali trabalhavam. Eram da família. Lhe davam paz. Compartilhavam de seus dias. Suspirou fundo, se locomovendo até a saída de casa.

Empurrou os portões com certa dificuldade para seu porte físico. Do lado de fora, o sol brilhava por detrás das nuvens, e o clima era tão ameno que nem pareciam estar no Norte. Não sentia frio. A adrenalina corria em suas veias. Igual àquele dia em que...

— AFASTE-SE! — Ouvira uma criança gritar. Era muito nítido o tom forte de ameaça, sobrepujado de temor. — OU EU VOU TE MATAR! — A frase completa lhe dera arrepios. Ainda com a espada na mão, a lady tentou seguir a voz chorosa que bradava tão corajosamente uma ordem, ou morte. E ali perto notou um pequeno burburinho de mulheres e homens. E uma menina que apontava uma faca maltrapilha para um jovem alguns bons anos mais velho que ela.

— Mas eu não quero te machucar... — O garoto lhe respondeu, jogando suas espadas ao chão e mandando seus homens fazerem o mesmo - somente aqueles que não seguravam piratas pela garganta. — Vocês estão salvas agora. Livres. —

E Nanien reconheceu aquela resposta. Reconheceu aquelas vozes. Seus olhos se arregalaram e num piscar de olhos, toda aquela cena tinha desaparecido. Aquelas duas silhuetas passariam correndo por si, mais crescidas, desenvolvidas, rindo e jogando facas para trás, alcançando alvos espalhados por árvores, arbustos e até animais. A - agora moça - morena já tinha sua pele mais clara pelo tempo que passara na ilha, o cabelo crescera e os olhos se arredondaram num verde profundo. Todos já estavam acostumados a vê-la correr, mas as broncas sempre chegavam. “Nanien, venha cumprir com sua obrigação e deixe o Lorde Mormont em paz!”. Os sorrisos aos poucos iam se desfazendo, e ainda que não desaparecesse, já não era mais tão feliz. Gostava de passar tempo com ele. Entregava-lhe as armas, reverenciava-o com a cabeça e se retirava em silêncio, temendo que o amanhã nunca fosse chegar e nunca pudesse vê-lo novamente.

Sentia aquilo. Aquele receio. Tão boba, pois o dia sempre raiava, e em alguma hora, eles sempre tinham uma disposição compartilhada.

Viu a garota entrando no forte e fechando a grande porta. A figura do rapaz desaparecera. “Não...”, reclamara baixinho, com medo de ficar trancada pra fora. Então correu para segui-la, e assim que abriu novamente as portas, deu-se a noite. Ela já estava crescida, trajando uma armadura e roupas mais adequadas e confortáveis. Andava pelo grande salão cumprimentando a todos e desejando-lhes bom descanso enquanto se direcionava à sala onde Dorian estudava tão ardentemente que ignorava seu sono. Ela entrara em silêncio, analisando o mapa e as peças espalhadas por cima deles. — Vamos estar prontos caso eles resolvam fazer algo estúpido. Juntos. — Sim, juntos. E se beijaram com calma, paixão. Os corpos colados. — Case-se comigo, Nanien. —

Lembrou-se de viajar por segundos eternos antes de responder-lhe que sim. Não porque tinha dúvidas ou não queria aceitar - muito pelo contrário. Era o desejo de sua alma, o grito de seu coração. Impossível de ser verdade, e ainda sim... real. Naquela noite, Dorian não chorou. Os olhos se encheram de água, mas lágrimas sempre seriam para dor e não para amor. Ele a tomou nos braços e levou-a para o quarto, onde, por uma noite inteira, emaranharam-se em ternura e confiança. Até o seguiria, se não fosse pelo sol que começava a brilhar pelas janelas. Estranho pois, até agora pouco, tinha certeza ser de madrugada.

Os corredores lhe dariam num só quarto, alto, não o deles, mas numa torre vazia, um cômodo simples. Abriu a janela e lá embaixo, no jardim, Nanien vestia branco, abaixo de uma árvore de represeiro. E Dorian, elegante, segurava sua mão. —— Pai, ferreiro, guerreiro, mãe, donzela, senhora, estranho. — Disseram juntos. — Eu sou dele. — Eu sou dela. — E ele é meu. — E ela é minha. — Deste dia em diante, até o fim dos meus dias. —

O que se seguiu num belo beijo fora desmascarado por um urro de dor que percorreu por todo o lugar. Tirou-lhe de seus devaneios. Correu atrás daquele desesperado grito de socorro. Num quarto próximo, viu a si própria com uma grande barriga, sentada numa cama macia, sangrando, acompanhada de Daphne, Mérope e Dorian; este último segurava sua mão com força enquanto ela chorava e se contorcia com as contrações. — Estou com você. Vai tudo dar certo. — Ouviu-lhe dizer, também marejado. Ela gritou mais alto, chorou um pouquinho mais, encostando-se ao pé da parede. — Eu não vou conseguir. — Desapontada, tinha dúvidas se seu primeiro herdeiro teria uma mãe viva.

Era o dia de seu aniversário. No salão, todos, antes felizes e agora apreensivos, esperavam em silêncio por novidades. Rapidamente, servas entraram no quarto com mais água quente e mais panos, e Mérope empurrou a porta com tanta vontade que bateu, deixando a ursa do lado de fora. Naquele instante, tudo ficou silencioso. Não se ouviu mais nenhum grito, ou ordem...

...Mas um choro e uma grande excitação. “É uma menina!”.

Norian. Nascera no mesmo dia da mãe, com um futuro com começo brilhantemente melhor do que o que tivera. Aquilo a fizera chorar no corredor, do lado de fora. Que grande bênção era a vida daquela pequena menina, que mais tarde se tornaria irmã mais velha de um corajoso rapazinho.

“EU QUERO TODAS AS TROPAS PRONTAS PARA O EMBATE. NÃO DEIXEM QUE NINGUÉM SAIA E NINGUÉM ENTRE. Onde está... Nanien?! NANIEN?!”

Reconheceria essa ordem em qualquer lugar. Mas Nani muito longe já estava, montada em Albien, correndo para o ponto mais alto da ilha para salvar a filha de lunáticos. Descendo as escadas para ver a correria, não encontrou ninguém, mas desenhos de Norian pintados ao chão, os quais ela examinou cuidadosamente. Lembrou-se de quando ela se queixava de dores de cabeça, sonhos estranhos, mas não deu muita trela - era uma criança de imaginação fértil.

— Mãe? — Chamaram-na, e ela teve certeza de que era a filha. Atrás dela, o menino. Eles conseguiam vê-la? — Por que está chorando?—

Chorando? Não havia notado o rosto e a roupa molhada. Não até então. Ambos foram até a mulher, que espantada, abraçou-os de joelhos.

— Não precisa chorar. Ele já volta. —

Os soluços tomaram conta da Mormont. Agarrou-os com mais força, e sentiu ser agarrada com mais força também.

— Minha ursa, — e de repente, notou estar abrançando Dorian — já passou, não tema mais. —

Com um peso no coração, levantou o rosto para fita-lo. Era o mesmo urso de sempre, com seu manto de sempre. O mesmo rosto apaixonado, apesar de parecer confuso e perdido. Em seus cabelos, um galho de lavanda. Lembrava-se do significado para eles. Seu coração se encheu de temor. Por que tinha sensação de que algo ruim estava para acontecer...?

— PEGUEM A IMPOSTORA, AGORA! — Então, seus medos tomaram forma do chefe de batalha da ilha. Guardas acataram a ordem, e fortes como o marido, cada um de cada lado de seu corpo a segurou pelos braços, puxando-a rudemente do abraço entre o casal. “NÃO, NÃO, POR FAVOR! DORIAN! ME LARGUEM! ME DEIXEM! POR FAVOR!” Os gritos de agonia eram altos e um por um começou a aparecer no salão para observar a cena e encara-la com desgosto, como se fosse mesmo alguém desconhecido a se passar por Nanien. Mas era ela.

Se debatendo em pânico enquanto era arrastada escadaria acima, ela berrava ordens inúteis. Os ali presentes iam abrindo caminho sem nada fazer, até que chegassem no ponto mais alto do forte, a segurassem pela cintura e a jogassem pela janela, como se sua vida de nada valesse. O corpo pareceu flutuar em câmera lenta até que batesse ao chão num barulho agonizante.

Sentiu então uma dor no peito, o ódio usado contra si. Sentiu também as lágrimas geradas pelo pesadelo molharem o rosto. Puxou o ar tão forte que pensou que iria morrer no segundo seguinte se não o fizesse. Levantou o corpo no susto. Era um sonho... O rosto suado, o quarto quente... Mas as coisas estavam quietas. O barulho da lareira passou de conforto para apreensão. As roupas do marido e sua espada também se faziam ausentes... O choro tornou-se ainda mais forte e a ursa fora tomada pelo terror.

— ...Dorian...?

DFRabelo

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