[RP ABERTA] - WHEN THE SUN GOES DOWN

Ciente de que o crepúsculo não tardaria a aparecer, tomei o centro do pátio de treinamentos após o término do embate entre Tury e Eridan, tendo o segundo como vencedor. Trajando uma leve vestimenta revestida em couro fino, empunhei a velha espada em uma das mãos, ostentando um escudo de ferro e coberto de talhos na outra. O olhar que dirigi ao Mestre de Armas revelou-me o adversário que me fora designado para o treino naquele fim de tarde. Sor Alastor, um homem velho – ou experiente como diziam -, corpulento e possuidor de cabelos ralos e de coloração opaca.

Havia algo no semblante despojado do guarda que me fazia ter certeza de que ele me desdenhava como seu oponente. É bem verdade que, aos dezessete anos, eu não aparentava ser tão grande ou forte como a maioria daqueles ali presentes no pátio. Seria isso uma desvantagem? Ao meu ponto de vista, não. Eu chamaria de oportunidade. Sor Alastor arrastou-se vagamente pelo chão barrento, postando-se à minha frente. O sorriso debochado em seus lábios não o impediram de cumprimentar-me brevemente com a cabeça, assim como eu também fiz. Com o aval do Mestre de Armas, fora dado início ao confronto.

Inicialmente, caminhamos em círculos, observando atentamente aos movimentos do outro. Ao longe, o intenso baque entre ondas e pedras emitia um agradável som aos meus ouvidos, algo que me permitia focar no senhor diante de mim. Ele empunhava apenas uma espada, grande e larga, e a manejava com ambas as mãos. Subitamente, os passos circulares foram cessados em meio a minha primeira investida contra o guarda. Com agilidade – e esta talvez fosse a minha vantagem no embate – ergui o escudo à altura do peito, empurrando-o contra as mãos do homem, no tempo em que minha espada cortava o ar ao seu lado, em uma frustrada tentativa de acertá-lo.

Sor Alastor gargalhou alto para que todos os outros se unissem a ele ao me zombar. Meu orgulho não era ferido por seus risos roucos, não. Sentia-me tomado por uma vontade de abrir-lhe um novo corte em meio ao castigado rosto. Contudo, teria de ter cautela ao tratar de um cavaleiro experiente como era. Afastei-me ligeiramente, mantendo a peça de ferro alta enquanto buscava algum ponto fraco em meu oponente. O guarda balbuciou algumas palavras indecifráveis, e desta vez fora ele quem acusara um golpe. Visualizei a longa espada procurar pela lateral de minha cabeça e não vacilei ao escapar da lâmina agachando-me sob os joelhos. Sem vacilar, a perna direita do homem, em um movimento forte e instintivo, atingiu o pesado escudo em um chute. O choque da peça de ferro contra meu peito fez-me rolar pelo chão de terra, ainda que não me causasse tanta dor.

Jogado ao chão, rolei para a direita, escapando do novo ataque desferido pelo mais velho. Cambaleante, levantei-me do chão, pondo-me em posição de embate novamente. A presente brisa chacoalhava o cabelo louro preso em algumas tranças e me peguei pensando se teria de voltar a treinar com guardas compatíveis com minha idade. À medida que alguns arranhões superficiais revelavam-se em meio aos rasgos na vestimenta, aproximei-me cautelosamente de meu oponente. Em um giro rápido, o grave tilintar oriundo do choque entre nossas duas espadas fora emitido. Tentei acertá-lo novamente em seu peito, mas Sor Alastor era experiente o bastante para bloquear grande parte de meus ataques, contragolpeando-me com astúcia.

— Para quem aparenta ocupar cargos na cozinha do Rochedo Casterly, devo admitir que suas habilidades não são de todo ruim, Sor Alastor. — Provoquei-o em uma clara referência a protuberância de sua barriga avantajada. Ainda jovem e imaturo, fora difícil imaginar que tal comentário despretensioso despertaria uma chama de raiva no interior do guarda. Enfurecido, o homem dirigiu sua espada na minha direção novamente, desta vez projetando acertar-me na região da cintura. Engrandecido, defendi seu golpe sem dificuldade, impondo o velho escudo à frente do corpo. Contanto, ao passo em que a espada se chocou contra minha defesa, a mão pesada e calejada de Sor Alastor invadiu-me os lábios com um soco certeiro.

Com o corpo enrijecido, desabei ao chão novamente, antes mesmo de reagir ao ataque do homem. O gosto salgado e a coloração rubra de meu próprio sangue reinou em minha boca, escorrendo timidamente pelo queixo. Ligeiramente zonzo, tentei erguer-me para dar continuidade ao combate antes de ser impedido por alguns dos companheiros que apreciavam a bela surra. O velho guarda ainda sedento e insatisfeito, relutava em abandonar o pátio enquanto era abraçado de forma nada amigável pelo Mestre de Armas que tentava acalmá-lo. Os fios dourados do cabelo misturavam-se ao escuro da terra do chão, e lá eu permaneci por mais alguns instantes, até finalmente sentir-me seguro o bastante para levantar.

Com as costas das mãos limpei o sangue em minha boca, visivelmente irritado e contrariado. Joguei longe o velho escudo de ferro, sentando-me ao banco de madeira mais próximo, evitando os olhares zombadores oriundo dos demais presentes. Mantive-me afastado por instantes que trouxeram um turbilhão de pensamentos em minha mente, e a figura desapontada de meu pai repetia-se novamente como um filme diante de meus olhos.

Visivelmente transtornado e embaraçado, permaneci sentado sob o duro banco, isolado de todos aqueles que presenciaram o intenso embate. O sangue rubro contrastava com minha pele alva, ainda que já não se fizesse tão presente em meus lábios. Os longos fios loiros misturavam-se ao marrom da terra que também sujara grande parte de minha vestimenta. Era inegável que, além de minha boca, o velho Alastor também havia ferido meu orgulho, e eu não deixaria que se gabasse por muito tempo. Não. Trataria de solicitar ao Mestre de Armas que me colocasse diante dele novamente em nosso próximo treino, e então o homem pagaria pela dor em meu maxilar.

Cabisbaixo e pensativo, mal percebi a aproximação de Erin, minha prima e filha mais nova de Lady Cora. A pequena, doce e espoleta garota dirigiu-se à mim com uma comparação ao tradicional símbolo de nossa casa. - Antes fosse um bravo leão, pequena Erin... O homem semelhava-se mais a um porco velho e gordo. - Esbravejei, cuspindo as palavras com rispidez. Sabendo que ela pouco se interessaria por tal assunto, esforcei-me para sorrir à minha prima, tentando ignorar toda a dor que sentia em meus músculos e dentes.

Ajeite-me ao banco duro para que a jovem pudesse ocupar o lugar ao meu lado, embora achasse improvável que ela o fizesse, tendo em vista a sujeira impregnada e espalhada por todos os membros do meu corpo. - Não está na hora da suas aulas de tecelagem? - Indaguei, sem ter certeza de que horas eram. - Lady Cora ficará furiosa se encontrá-la aqui fora comigo, prima. - Estremeci ao lembrar-me das raras oportunidades em que vi a raiva instalar-se no corpo da Senhora do Rochedo Casterly, e desejei não presenciar novamente tal ato.

Entretanto, em meio aos inúmeros sentimentos frios que invadiam-me o corpo, a presença alegre de Erin me animava. Sua voz doce e seus dedos pequenos e finos me acalmaram naquele dia, e por um breve instante senti vontade de abraçá-la, mas não o fiz, afinal minha roupa estava tomada por barro, como disse anteriormente. - Pois bem, agora que já está aqui fora e o sol ainda não se escondeu atrás das montanhas, gostaria de fazer algo em especial? - Questionei, certificando-me de que o dia ainda estava claro, mesmo que os raios se mostrassem cada vez mais tímidos.