RP FECHADA ( Flashback) - Reflexões I

A chuva que caía copiosamente nas Terras de Tempestade deixava Cersei melancólica. Não chovia assim fazia muito tempo, talvez fosse um bom ou mau presságio, a Baratheon não sabia dizer. Estava deitada na cama fazia muito tempo, não dormira desde que pousara a cabeça sobre o travesseiro, assombrada por pensamentos e memórias que a perturbavam de tal modo que a impediam de descansar.
Suspirando, sentou-se , encostando as costas na cabeceira da cama e cobrindo os ombros com um xale. Fixava um ponto com o olhar, se distanciando da realidade que a rodeava e embrenhando-se em pensamentos não tão bons quanto ela desejava. Recordava Polly, uma garota que ela conhecera durante muitos anos e que fora lhe retirada cedo demais.
Polly era amiga de Cersei desde a infância, as duas partilharam muitas aventuras e segredos, mas a doença foi algo que, felizmente ou não, afetou apenas uma. Gostaria de poder ter feito algo para a ajudar mas seus conhecimentos não eram suficientes para a salvar e por isso se sentiria eternamente culpada.
Polly era uma garota carinhosa, altruísta e Cersei fora incapaz de arrumar uma solução para o problema. A Baratheon que sempre tivera soluções e respostas para tudo fora posta à prova pelos deuses e falhara.
Se levantando, caminhou até à janela, apoiando a mão sobre o vidro frio e molhado pela chuva. Lá fora não se viam ainda os primeiros raios de sol da madrugada. Talvez o sol nem viesse…
Polly sofrera durante duas semanas até ser levada para uma outra dimensão desconhecida. Cersei sentira pela primeira vez a dor de perder alguém importante, sua melhor amiga, aquela que a compreendia e com quem confidenciava. Talvez a única que conhecia todas as faces da garota e não a julgava por isso.
Não sabia porque a recordava naquela madrugada, a saudade era constante e Cersei mantinha Polly nos seus pensamentos todos os dias mas não daquele jeito tão doloroso. A mão deslizou pelo vidro deixando um rasto no mesmo, do mesmo jeito que uma pequena lágrima escorreu pelo rosto da Baratheon. Jamais fizera o luto pela amiga, ninguém iria vê-la chorar e sabia que Polly não quereria isso. Cersei precisava se mostrar uma mulher sem fraquezas, se fosse necessário se apresentar como fria e sem coração, ela iria fazê-lo, apenas para esconder aquilo que realmente a assombrava.
Foi no dia da morte de Polly que a filha mais velha de Devon perdera toda sua fé nos sete deuses e passara a adotar a religião de Stannis. R’hllor parecia ser o único a não abandonar seus crentes e mais do que ninguém, Cersei precisava de não ser abandonada de novo.
Respirando fundo e mais calma, limpou a lágrima com brusquidão e ergueu a cabeça, voltando novamente a sua postura habitual. Não seria uma criança chorosa, era uma adulta que precisava aguentar a vida tal como ela era, com desafios, perdas e vitórias. Essa era a grande lição que tirava dali, jamais poderia controlar aquilo que se atravessaria no seu caminho, mas estaria pronta para o que quer que fosse. Não voltaria a se deixar afetar porque isso, não mostraria sua dor nem a compartiria com ninguém.
Regressou à cama, sentindo seu corpo gelado pela ausência de calor dentro daquelas quatro paredes. Esse era o inconveniente do castelo de Ponta Tempestade, a humidade e as brisas assombravam o local do mesmo jeito que… não! Não ia pensar naquele assunto de novo.
Soprou a única vela que ainda iluminava o espaço e deitou a cabeça no travesseiro. Dessa vez não tardou muito para que adormecesse tranquilamente. Ou pelo menos assim foram as primeiras horas após a vigília.