[RP aberta] When tomorrow comes

A Fortaleza Vermelha era imponente, embora lhe faltasse vida. Se eu tivesse de analisar a personalidade das estruturas em pedra sólida, a compararia com um corcel utilizado por muitos cavaleiros e amazonas diferentes. Ainda que belo, forte e veloz, o corcel perde sua personalidade com os múltiplos senhores. Perde um pouco de seu brilho e de sua razão de ser. Tensa, observei apática enquanto as servas da rainha esvaziavam meus baús e instalavam meus objetos pessoais no quarto designado para mim por Sua Graça. Como prometida de um membro do Pequeno Conselho e futura parente da rainha por casamento, eu teria instalações no castelo e não no Acampamento do Torneio. Eleanor permaneceria comigo, o que por si só tornava aquela situação mais interessante. Papai e meu irmão também poderiam ficar ali, mas preferiam a agitação das tendas. E a liberdade de fazer o que desejassem quando lhes conviesse. Coisa que não estendia-se a mim.

Já estava banhada e vestindo-me para procurar por Peter, que me prometera um tour pelo castelo. Eu queria conhecer bem o local, que embora eu temesse, respeitava com franca admiração. Desejava ver a tão comentada sala do trono, e a cadeira de ferro forjada pelas lâminas de mil espadas, por fogo de dragão... Como uma mariposa fascinada pela chama de uma vela, quis conhecer melhor a vida daqueles que viviam na Fortaleza Vermelha. Apesar de não desejar o escrutínio de seus olhares. Tão absorta em meus pensamentos, assustei-me com a chegada de um rapaz nervoso, que me chamava da porta. Ele parecia ansioso por estar em minha presença, seus cabelos loiros e arrepiados totalmente disformes.

- A rainha solicita uma audiência, m’lady. Nos jardins do castelo. – Disparou, resoluto. Sorri, mais de nervosismo do que de excitação. Eu estava vestida como uma típica dama Tyrell, e meu vestido era leve e bordado com fios de ouro sobre um azul celeste. O decote em meus seios era imoral para a presença de uma rainha, bem como as aberturas laterais que revelavam partes de meu abdômem. Veloz e sem o auxílio de minha prima, apanhei um xale de seda lysena dourada, cobrindo meus seios rapidamente. O menino permanecia à porta, esperando.

- Guie-me, por gentileza. Estou há apenas uma noite na Fortaleza Vermelha. Certamente não encontraria estes jardins com facilidade. – O servo de boa aparência assentiu, caminhando à minha frente sem olhar nos meus olhos.

Cobri os lábios ao ver a paisagem que o topo da Colina de Aegon revelava. O porto, os navios ancorados, as pessoas... Tudo era sofisticado, inspirando um orgulho profundo pela união dos Sete Reinos. Num dia brilhante como aquele, era difícil compreender as razões para tantas guerras e desastres do passado. Contente devido ao impacto daquela surpresa, ignorei completamente meu nervosismo e ansiedade. Os dois retornaram no entanto, quando avistei a bela rainha. Suas vestes reais pareciam sóbrias e adequadas. A coroa em sua cabeça reluzia, embora meu estado de pânico impedisse de observar os detalhes. Tensa e escutando com atenção, mantive meu sorriso educado no rosto o tempo inteiro.

- Sim, minha rainha. Eu estou perfeitamente bem, muito obrigada. – Acrescentei, dirigindo-me para o assento indicado pela soberana. – Vossa Graça foi muito generosa no arranjo de minhas acomodações. A vista da varanda de meu quarto é quase tão bela quanto a que tive o prazer de contemplar no topo daquela colina. – Apontei para o local de onde viera, sorrindo ao notar que não ea tão difícil ser eu mesma e ainda assim não ser um desastre total. Olhei para a mesa, notando as frutas, queijos e doces disponíveis. A maioria vinha da Campina, mas um pedaço de queijo não me era conhecido. Seu cheiro era forte mas agradável, e pequenos traços esverdeados dominavam seu corpo cremoso. Parecia delicioso, mas eu envergonhava-me de comer às vistas da Rainha dos Sete Reinos. – Oh, a cidade é agitada. Todo o barulho, os cheiros, as cores... É como se pudéssemos encontrar um pedacinho de cada lugar no mundo, aqui. Estes jardins, por exemplo. São como um reflexo dos que temos na Campina. Embora nossos labirintos vivos e instalações sejam ainda maiores. A Casa Gardener fez por merecer o seu nome, no passado.

Observei, sorrindo. Megga era uma mulher agradável, e extremamente atenciosa. Era uma honra encontrar-se a sós com a rainha em um local tão exposto. Certamente algo que não passaria despercebido para os muitos olhos e ouvidos daquele lugar. Um fator para o qual sua falecida mãe a alertara constantemente, quando mantinha sonhos de casá-la com um Stark que não tivesse sido fisgado pelos Targaryen. É claro que a chegada de seu irmão de Volantis, além da presença de Zakintia, haviam modificado o seu destino. Uma mudança agradável, pois Peter era encantador. Esperava que sua tia também o fosse, pois seus ossos pareciam moles como geleia e suas mãos tremiam como as asas de um pequeno pássaro.

O rosto belo da rainha Megga parecia reconhecer meu estado de espírito. Ela pediu que eu provasse dos alimentos que eu não conhecia, mas que pareciam apetitosos. Sorrindo, assenti confirmando que realmente conhecia alguns deles, pois a Campina era mesmo o lugar mais abundante dos Sete Reinos. Muito pouco do que se podia comer em Westeros não era encontrado lá. Com delicadeza, cortei um pequeno pedaço do queijo azul que eu não conhecia, levando-o à boca. Havia um gosto acentuado de especiarias e gengibre, mas que derretia na boca com um frescor surpreendente. Sorri quando a minúscula porção desceu por minha garganta, e aprumei meus cabelos longos sobre meus ombros, ocultando parte do decote indecoroso na presença de uma rainha. Notei uma certa abstração em seu olhar, notando naquela mulher alguns traços semelhantes aos de meu futuro marido. Ele parecia mais com sua tia do que com sua mãe. O mesmo poderia ser dito de alguns dos filhos de Megga, que pareciam apenas Targaryens. Nela, o sangue Baratheon era forte, pungente. Ela era como uma fonte tranquila sob a qual se esconde uma vontade férrea. Eu não gostaria de ser inimiga daquela mulher, embora sua honra fosse evidente. Meus devaneios deixaram-me despreparada para a pergunta que viria a seguir. Mas eu não mentiria para Megga.

- A princípio, não me agradou em nada saber que casaria com seu sobrinho. Minha mãe estava muito doente, e papai se recusava a recuar nas negociações com Lord Baratheon. Ultrajada por sua insensibilidade pragmática, decidi que usaria meus... atributos, para domar Peter. Mas isto não ocorreu. – Sorri, subitamente tímida. Nem mesmo o luto pela morte de minha mãe fora frígido o bastante para armar meu coração contra o cerco do jovem Baratheon. - Sei que as mulheres Tyrell possuem certa reputação, e o fato de seu sobrinho ser mais novo do que eu deve preocupa-la, majestade. Mas não se preocupe, pois eu não poderia imaginar meu futuro sem Peter. Agora, pensando em retrospectiva clara, fico feliz por não ter sido prometida à Jensen Lannister, ou Hunter Greyjoy. – Tomei um gole de vinho, enquanto percebia aos poucos que falara com minha rainha, como se estivesse conversando com Eleanor. Pelos Sete... O que ela pensaria de mim após saber que eu planejava manipular Peter? Bem, mesmo sendo a rainha dos Sete Reinos, ela não me faria mal algum. Não abertamente.

Ao menos, eu tinha a bebida ardente em minha garganta, ajudando-me a manter a coragem.