[RP Fechada] O Festim dos Corvos

Melkor.

Melkor tinha a pele pálida e seu olhar transmitia uma frieza inexplicável sob o capuz que ocultava metade de seu rosto. Os olhos azuis-cinzentos ansiavam por se tornarem mais azuis, e sua albugínea ocular continha veias com sangue índigo. Seu cabelo escuro tinha mechas brancas explícitas que escorriam pela sua vestimenta caliginosa. Ele vestia um negro tão escuro quanto o céu da Longa Noite, e sua veste continha penas negras por todo o ombro. Explicitamente sobre o centro de sua capa estava o símbolo de um corvo branco com uma coroa de gelo, porém o corvo tinha olhos sobre todo seu corpo...mil olhos e mais um.

Qhorin, um intendente da Patrulha da Noite adentrava no recinto em que o Senhor Comandante estava. O rapaz tinha os cabelos negros e oleosos que escorriam pela sua face repleta de cicatrizes. -Os Corvos Brancos chegaram, senhor. - Melkor jogou seu capuz para as costas e passou a mão sobre o livro empoeirado. Ele levantou a cabeça e encarou o intendente por alguns segundos, como quem tivesse esquecido alguma coisa. -Diga para eles esperarem sobre a Muralha. - A voz de Melkor era como riscar uma lâmina cega em um cubo de gelo. O intendente acatou as ordens, e Melkor voltou seus olhos para as páginas de um livro de Samwell Tarly.

No despontar da história de Westeros, antes da chegada dos homens, e da construção de castelos e cidades, havia apenas os Filhos da Floresta. Pouco se sabe sobre eles agora, mas dizem que eles tinham estatura pequena, eram escuros e bonitos, não sendo maiores que uma criança. Eles viviam nas profundezas das florestas e vilas escondidas, geralmente em cavernas. Caçavam com arcos da árvore sagrada e se armavam com espadas de obsidiana. Eles adoravam deuses sem nome e sem face, da floresta, riachos e pedras. De acordo com a lenda, eles esculpiram as faces nos grandes galhos brancos das majestosas árvores sagradas -seus olhos em cortes profundos estavam vermelhos de seiva e sempre vigilantes.

Doze mil anos atrás os Primeiros Homens vieram do continente oriental, atravessando uma ponte de terra chamada Braço de Dorne. Montando seus grandes cavalos e empunhando armas de bronze, eles cortaram os Filhos da Floresta e os bosques sagrados. Uma guerra terrível foi travada entre os Filhos da Floresta e os Primeiros Homens, esta que durou por séculos. Finalmente as duas raças encontraram um fim para os anos de horror e derramamento de sangue. Eles se encontraram numa pequena ilha no centro de um grande lago chamado Olho de Deus. Foi lá que eles forjaram o Pacto. Aos Primeiros Homens foi garantido domínio sobre o litoral, as montanhas, os planaltos e os pântanos, mas as profundezas das florestas pertenceriam para sempre aos Filhos da Floresta, e nenhuma árvore do bosque sagrado seria cortada pelo machado dos homens. Para selar o pacto diante dos deuses, os Filhos da Floresta esculpiram faces em cada árvore da ilha, que passou a se chamar a Ilha das Faces.

Mas o pacto não suportou a chegada dos Ândalos -uma raça de altos e loiros guerreiros. Eles atacaram com fogo e armas de metal, abatendo os Filhos da Floresta onde quer que pudessem encontrá-los, queimando seus bosques sagrados, cortando os rostos dos deuses antigos, e difundindo a sua própria religião através da terra. Séculos de guerra se passaram, e os Ândalos conquistaram cada reino em Westeros, exceto um -o Norte. Os Reis do Inverno foram capazes de resistir a invasão. Os descendentes dos primeiros homens habitam ali até hoje e continuam adorando os velhos deuses. Quanto aos Filhos da Floresta...foram mortos ajudando Bran, o Corvo de Três Olhos. Eles vivem apenas em canções e lendas...e nas faces das árvores do bosque sagrado.

Melkor fechou o livro e uma enorme quantidade de poeira se levantou no ato. O Senhor Comandante se levantou e desceu a escada em espiral da torre. Suas botas negras amassaram a neve sob a sola e os olhos do Corvo miraram o céu escuro sobre Castelo Negro. -Pela neve, e pela sombra. - Concluiu a oração em voz alta. Melkor passava pelo pátio e seus olhos caminhavam pelos patrulheiros no horário de treino. O antigo Melkor estaria orgulhoso de seu progresso, agora todos ali eram verdadeiro lutadores e fiéis aliados submetidos à vontade do Grande Outro.

Quarenta homens esperavam sobre a Muralha, eles eram chamados de Corvos Brancos, ou Corvos do Inverno. Utilizavam vestes completamente negras e uma touca que cobria todo o rosto por baixo do capuz. São membros de uma nova facção da Patrulha da Noite, treinados e escolhidos a dedo por Melkor. Seus trabalhos são diversos, sujos e repletos de carnificina, porém geralmente tomam conta dos outros três castelos -Fortenoite, Atalaialeste-do-Mar e Torre Sombria. São homens de poucas palavras e só costumam abrir a boca na presença de Melkor...

-Ela diz que teremos mais alguns anos de Outono. - Com a chegada do Senhor Comandante, os encapuzados se colocaram de joelhos e depois de um aceno com o indicador os homens se levantaram. O Senhor Comandante então desvencilhou as ordens sobre os Corvos do Inverno. -Vocês vão realizar mais uma tarefa para mim e então alguns anos de Outono serão engolidos pelo Inverno. - Melkor pausou sua fala, porém após alguns segundos de silêncio ele liberava as palavras amaldiçoadas em um bordão do Grande Outro, costumeiro entre aquele grupo. Os anéis que os homens usavam, brilharam com as palavras e o corvo branco de adorno refletia uma luz azul que iluminava o céu negro sobre a Muralha. -Pelo inverno, e pela noite.

Treino: