[RP Fechada] The immortal fire

Aquele princípio de noite não agradava Naerys, o clima soturno lhe causava fortes arrepios, os cabelos longos e vermelhos caíam sobre os ombros como um manto de fogo, estava vestida parcamente, mas mesmo assim eram sedarias essorianas muito finas, presente de algum admirador que a mulher conquistou em seu caminho. Caminhou sem pressa até a larga janela de seu quarto, a brisa morna bateu contra seu rosto causando-lhe certo conforto, mas ainda não era o suficiente para colocar o sorriso de volta sem seus lábios vermelhos. Não era a primeira noite em que se sentia assim, também não seria a última, precisava encontrar a verdadeira angustia de seu coração, ainda que fosse uma tarefa difícil até para ela mesma. Os olhos esmeraldas fitavam as movimentadas ruas da cidade, pessoas que iam e vinham em todas as direções, com um pouco mais de atenção poderia escutar alguma ou outra conversa paralela, mas naquele momento não desejava absorver problemas alheios, os seus já lhe eram suficientes.

Uma pequena confusão acabou por chamar a atenção da mulher, seus pensamentos se dispersaram e ela então revirou os olhos diante da estupidez masculina por causa de uma mulher. Seu olhar retornou ao firmamento negro, até mesmo as estrelas pareciam ter sido engolidas por tamanha escuridão. Sentia-se masoquista por observar algo que tanto lhe incomodava, mas uma coisa que havia aprendido era enfrentar os próprios medos. Quando o tédio lhe tomou por completo a mulher fechou as janelas, voltando ao seu aposento solitário. Ela caminhou de um lado para o outro, inquieta, nada parecia capaz de acalma-la. Naerys respirou fundo, seus olhos esquadrinhavam cada canto do lugar, mas seus olhos somente pararam quando se depararam com as chamas da pequena vela que estava sobre o móvel junto a cabeceira de sua cama. Com passos afoitos a mulher abriu um pequeno baú, tirando de lá uma rebuscada bacia de prata. A peça estava tão polida que era possível ver com clareza seu próprio reflexo, do mesmo baú, ela retirou um frasco devidamente selado.

Quando abriu o frasco o cheiro forte fez a mulher afastar um pouco o rosto, em seguida o derramou no recipiente de prata. O líquido viscoso tomou conta do objeto, a mulher observou por alguns instantes antes de pegar a vela e deixar que sua chama tocasse a solução desconhecida. Em questão de instantes o fogo já tomava a prataria, uma chama vibrante como a mulher que a observava. Suas mãos se aproximaram do fogo e seus olhos se fecharam, aquela sensação era extasiante para ela, como se sentisse o calor envolver todo seu corpo em um abraço. Por algum tempo os olhos mantiveram-se fechados, precisava sentir-se uma só com aquela sensação para que seu coração se acalmasse, para que seu íntimo encontrasse paz, algo que ela não tinha fazia alguns dias. As mãos desliaram lentamente pelo próprio pescoço como se procurasse um algo mais, algo que nem mesmo ela sabia dizer o que era.

Quando seus olhos verdes se abriram novamente as chamas os evolveram, estavam tão vívidos quanto a chama, mas não saberia dizer o quanto de sua mente estava ali, tão pouco o que era real ao seu redor. Ela fechou os olhos os apertando, as mãos escorregaram pelo corpo até chegasse em sua saia a segurando com força. Não tinha o costume de ter visões de si própria, mas algo estava mudado e naquela noite tudo se repetia. Afoita quando seus olhos se abriram, a mesma neblina pairava por todo o lugar, ainda estava em seu quarto, todavia, quando suas mãos tocaram o chão sentia o líquido quente entre seus dedos, afoita se levantou observando as próprias mãos, rubras. O cheiro ferroso tomou suas narinas e entorpeceu seus sentidos, roubando-lhe completamente o discernimento. Em meio a névoa sempre havia a mesma silhueta, aquele vulto que caminhava até ela e permanecia tão próximo de si, mas nunca a tocava, apenas a respiração morna contra sua pele, fazendo seu corpo tremer. Seu olhar buscava um rosto, mas não conseguia ver um, mas ver vários e aquilo lhe causava fascínio e medo ao mesmo tempo. Sua mão se ergue curiosa, mas antes que pudesse toca-lo, sentiu aquela enorme pressão em seu peito, obrigando-a a cerrar os olhos.

Novamente estava em seu quarto, apenas as chamas ainda frente a seu rosto, apagou o fogo abruptamente, não tinha o habito de fazer isso, mas de alguma maneira, aquela visão era tão perturbadora que mesmo despois de se desfazer, ela continuava ofegante, por uma ou duas vezes fitou as próprias mãos a procura de sangue. A mulher engoliu seco e seu coração continuava a bater acelerado, era a quinta ou sexta vez que a mesma visão a perseguia, o mesmo homem e a forma como ele mexia com todos seus instintos. Que aviso era esse que seu senhor tentava lhe dar? Tanto sangue, suas mãos estavam cheias de sangue. Nada lhe fazia sentido, nada parecia se encaixar. Naerys sentia-se tão inquieta quanto antes. Sua mão buscou o manto vermelho que sempre usava, o jogou sobre os ombros escondendo o profundo decote do vestido que usava. Naquela noite, não podia ficar sozinha naquele quarto, precisava afastar de si mesma e seus pensamentos, ou logo aquilo a enlouqueceria.