[RP Fechada - Flashback] Days of Future Past

Naquela manhã o sol parecia disposto a presentear Porto Real com sua presença, mas apesar da temperatura relativamente quente, a brisa vinda do mar, atravessava a zona mais baixa da cidade onde se localizava o porto.
Cersei franzia o cenho enquanto observava as águas calmas que contrastavam com a agitação das ondas em Ponta Tempestade, o castelo sede de sua casa e antes desta, da Casa Durrendon. Localizado ao longo da Baía dos Naufrágios, que não tinha esse nome por um mero acaso, era um dos mais fortes castelos dos Sete Reinos, onde residiram os antigos Reis da Tempestade durante milhares de anos.
Rumores se espalhavam por Westeros falando sobre a existência de feitiços encrustados nas muralhas que impediam que magia as atravesse ou afetasse. Cersei não sabia se isso era realmente verdade ou apenas uma história para fascinar crianças, mas sua mente aberta a permitia aceitar essa possibilidade. Ela já ouvira histórias sobre o poder do Senhor da Luz, portanto duvidar de magia era algo que ela não faria, mas como teimosa que era, precisava ver para crer.

Lendas diziam que Ponta Tempestade teria sido construída por Durran, o primeiro Rei da Tempestade, durante a Era da Aurora. Durran iria casar com a filha dos deuses, Elenei, porém, durante a festa, eles assassinaram sua família e seus convidados, forçando o Rei a declarar guerra contra eles. Durran erguera seis castelos, cada um maior e mais formidável que outro, até finalmente construir Ponta Tempestade. Alguns diziam que a construção teve ajuda de feitiços das Crianças da Floresta, outros acreditavam que um garoto que, quando crescido, se tornaria Bran o Construtor, aconselhou Durran durante a construção. A verdade dos fatos era ainda desconhecida e tal informação não passava de palavras escritas nas velhas páginas de livros de História.
Cersei tinha orgulho em ter nascido num local desses, que jamais caíra sobre as tentativas de ataque a que fora sujeita , fossem elas cercos, batalhas ou tempestades.

O último Rei da Tempestade, Argilac o Arrogante, abandonara suas impressionantes defesas para enfrentar Orys Baratheon em batalha durante a Guerra da Conquista de Aegon I e acabou perdendo a vida, bem como seus títulos e castelos. Já durante a Rebelião de Robert, Ponta Tempestade estivera sob cerco por um ano pelas tropas dos Tyrell em terra, enquanto a frota Redwyne, da Árvore, mantivera o castelo cercado pelo mar.
Stannis Baratheon, comandando as defesas, não aceitara render-se, e seus homens chegaram a comer ratos para poder sobreviver. Felizmente, Davos Seaworth, contrabandista na altura, atravessara o bloqueio para entregar alguns suprimentos no castelo, de modo a que o cerco fosse suportado pelas forças de Stannis.
Quando Robert Baratheon ascendera ao trono, deu o castelo a seu irmão mais novo, Renly, e Stannis ficara com Pedra do Dragão.
O cenho franzido de Cersei devia-se a isso. Até hoje, e apesar de não se queixar de sua vida em Ponta Tempestade, ela guardava ressentimentos por sua família não possuir direitos sobre algo que fora deles. Pedra do Dragão estava sob o domínio de Serra Targaryen, uma mulher de quem a Baratheon ouvira falar e por quem nunca nutrira qualquer tipo de sentimento de amizade.
Seu maxilar se cerrou e os olhos claros se fecharam por breves segundos, se abrindo depois de Cersei soltar um longo suspiro de modo a se acalmar. A sensação de ter suas mãos atadas no que dizia respeito a esse assunto era horrível, se sentia uma inútil e não queria nem pensar o que Stannis acharia se a visse nesse momento. Certamente estaria desapontado e isso a deixava triste e zangada.
Há muito que Cersei desistira de fazer os outros verem quem fora o verdadeiro Stannis, de louvarem seus feitos, pois finalmente entendera que mentes pequenas não conseguem enxergar para além do óbvio. As pessoas desse reino geralmente se fechavam numa espécie de cúpula, não questionavam o porquê das coisas, elas simplesmente aceitavam acreditar no que lhe contavam e assim seria até o fim de seus dias.
Cersei decidiu que sua visita ao porto havia terminado e que aquele era o momento certo para regressar a Fortaleza Vermelha.
Sua viagem fora, porém, interrompida por algo que chocara contra a mulher que de imediato se voltou para ver o que teria acontecido. No chão, uma criança que teria pouco mais de 11 anos, a olhava com uma expressão assustada estampada no rosto. Cersei não estava zangada, afinal era apenas um garoto. Estendeu sua mão e o ajudou a erguer-se de novo, sacudindo a poeira de seus ombros e braços.
- Para onde você ia com tanta pressa, pequeno passarinho? - inquiriu, enquanto segurava um lenço para lhe limpar as mãos, também elas cheias de poeira. - Está machucado?
Apesar do que poderiam pensar, Cersei não tratava crianças do mesmo jeito que lidava com adultos, ela sabia distinguir a maldade de uns da inocência de outros. O garoto a fez recordar-se de Egg, e ela poderia apenas imaginar por onde essa peste andaria.