As íris púrpura fitavam intensamente o teto do grande quarto que lhe fora designado, no Palácio da Casa Blackfyre, a mente astuta vagando por entre pensamentos variados, memórias e contemplações. Odiava o factos e que pouco ou nada podia fazer, naquele lugar, porém era forçada a aceitar a sua condição de reclusa devido ao seu exílio. Portanto não podia - tal como fazia em tempos passados - despender os seus dias em expedições por Pentos. Restavam-lhe, dessa forma, as indagações de uma mente inquieta e cada vez mais revolta, ofício esse a que se dedicava na grande parte do tempo em que se encontrava entregue a si mesma.
Ergueu-se da cama, afagando os tecidos etéreos e esvoaçantes de que era feita a sua vestimenta naquele dia, e encaminhou-se em passos lentos em direção à sacada, de onde tinha uma vista privilegiada do mercado de Pentos, das suas ruas espaçosas - e, por isso, contrastantes com as de Porto Real - e da movimentação habitual num dia como aquele. Perante uma visão tão corriqueira e mundana do que era a realidade, tornava-se até difícil para a jovem Targaryen conjeturar todo o plano constituído por conspirações, artimanhas e influências, de que a guerra que experienciava era feita. Mas a verdade era de que, uma vez mais, a guerra e o conflito tinham assolado não só o continente westerosi como também o continente essoriano.
Recordou-se então das histórias que lhe tinham sido contadas, mais que muitas vezes, sobre o Rei Joffrey Baratheon, os Reis Stannis e Renly Baratheon, o Rei Robb Stark, e a sua avó, a Rainha Daenerys Targaryen, Nascida da Tormenta. Cinco foram os reis - ou pretendentes a tal título -, cinco tinham sido aqueles que, naquele mesmo momento, tinham almejado o trono... E, desses cinco, quatro morreram na penúria, despojados de qualquer coroa ou conquista. Joffrey Baratheon sofrera pela sua insolência. Stannis morrera pelo seu orgulho; Renly morrera pelo sangue do seu sangue. Robb Stark morrera pela idiotice característica daqueles que são demasiado verdes e imaturos para saberem o que é mais sábio. E, por fim, Daenerys fora a única que - perda após perda - erguera-se alto o suficiente para poder usar a coroa sobre os cabelos valirianos que a mais nova partilhava. Montada em Drogon e fazendo-se acompanhar por Viserion e Rhaegal, chegara a Westeros juntamente com todo o poderio que conquistara previamente, consagrando-se Rainha dos Sete Reinos, Protetora do Reino, e Governante da Baía dos Dragões. Mas até mesmo a sua avó pagara o preço justo da guerra: perdera entes queridos, perdera bens e, mais ainda, a esperança de um futuro brilhante. E agora o mesmo acontecia consigo e com todos aqueles envolvidos no confronto que despoletava, lentamente.
A entrada de alguém no seu espaço privado deixou-a alerta, até ao momento em que percebeu que era Rhea quem se apresentava. Um sorriso linear e desfasado esboçou-se no rosto de belas feições da mais nova, que não conseguiu evitar uma gargalhada aquando a fala do mais velha. - Ainda te lembras de há alguns anos atrás, quando nós vivíamos em brigas uma com a outra, e com Arya? - Fez uma curta pausa, deixando que o riso voltasse a contagiar a atmosfera - Quem diria que, um dia, viríamos a dar-nos tão bem assim...
Voltou para o interior do cómodo, aproximando-se da irmã ao ponto em que, com o simples esticar de um braço, era capaz de tentar organizar os fios desenfreados da mercenária. - Mas e tu, como estás irmã?
- Habilidade treinada:
- História