[RP fechada] Let the ashes fall

A luz jamais entrava nas masmorras de Porto Real. Apenas uma tocha, pendurada numa parede distante, a permitia não ficar em plena escuridão. Não havia forma de diferenciar dia de noite. Não havia forma de contar o tempo que se passava. Mas esse era o menor dos problemas da Rainha Megga.

Água, comida. Duas necessidades que nunca haviam sido um problema para ela eram agora agonizantes. Não fora totalmente privada destes, mas tampouco lhe eram dados em quantidade suficiente. O carcereiro não ajudava; o homem parecia ter um gosto perverso em despejar uma boa parte da água que lhe era destinada no chão, enquanto ela, por lábios secos, praguejava fracamente. Atirava a sua comida para o chão, especificamente a parte mais nojenta da cela. Não sabia se Daemon tinha noção das condições que ela tinha de passar. Nada era suficiente, a não ser a tortura.

Sempre fora mais alta que a maioria, mas agora, naquela pequena cela, não conseguia sequer ficar de pé sem ter de se encurvar. Passava o seu tempo sentada, fitando a parede de pedra à sua frente. Os seus longos cabelos negros, outrora lustruosos fios que se enrolavam até ao fim das suas costas, em delicadas ondas, estavam agora desgrenhados e a Rainha tinha, provavelmente pela primeira vez na sua vida de luxo, o aspeto de uma selvagem. E era assim que guerras se iniciavam. Daemon estava a cometer um erro. Mesmo após tudo o que ele lhe fizera nos últimos tempos, ele era o pai dos seus filhos. Passara tantos anos com ele. Só podia encontrar uma explicação para o que ele lhe fizera. Era a loucura Targaryen.

Da última vez que um Rei Targaryen mostrara as tendências da Casa para a loucura, tudo acabara em guerra e os Baratheon acabaram no trono. O Rei Aerys, O Louco. Um homem que, ao olhar a morte, nos olhos, de tão certa que esta era, tentara incendiar toda a cidade de Porto Real com fogo-vivo. Não fora apenas a sua loucura, também as traições do seu filho Rhaegar, ao sequestrar a prometida do herdeiro dos Baratheon, Robert. Ele fizera jus ao lema da Casa, Nossa é a fúria, e obtera a sua vingança, matando o Príncipe Targaryen naquela que ficou conhecida como a Batalha do Tridente, mas demasiado tarde, e viria a encontrar a sua amada jazendo na Torre da Alegria. Um nome irônico.

Fora sem dúvida um grande drama, que começara no ano da Falsa Primavera, quando o Príncipe Rhaegar, marido de Elia Martell, coroara Lyanna Stark, a prometida de Robert Baratheon, como Rainha do Amor e da Beleza ao invés da sua esposa. Um ato impensável, a sua insensatez condenara todos os Sete Reinos a uma guerra. Fora puro egoísmo. Ainda que alguns lhe chamassem audácia, Megga achava que aquilo fora uma tolice.

Mas a história provava que os Baratheon não aceitariam tamanhas afrontas. Tinha fé no seu irmão. Mesmo que não tivesse tido o tempo para receber uma possível resposta ao corvo que lhe enviara, acreditava que Devan jamais deixaria o nome da Casa ser humilhado. Outra vez não. Mas Daemon... Ela amava Daemon. Apesar de tudo aquilo. Porém, ela não conseguia tolerar o que fizera. Agira num momento de desespero ao enviar aquele corvo, a fúria da sua Casa pulsando nas suas veias, acudindo pelo irmão, para que ele reunisse os vassalos. Ainda não sabia se fora a escolha certa, mas também não sabia se o homem no trono era o seu marido. Passara-se muito tempo desde os tempos felizes do torneio, a altura em que a Rainha vira pela última vez o homem com quem casara. Tinha saudades.

E então, pela primeira vez em, talvez dias, o seu nome foi chamado. Não com ironia e ênfase naquele título de Rainha que ainda lhe pertencia, mas não por muito tempo, não na voz que o carniceiro usava para zombar dela, mas numa voz fleumática. Com dificuldade, as íris moveram-se em direção ao gradeamento, uma constante lembrança de que estava confinada ali, impotente. O rosto de Megga parecia ter sido drenado de toda a felicidade, de toda a esperança que alguma vez pudesse ter. O seu olhar melancólico pairou sobre um rosto bem mais feliz que ela. Um rosto livre. Hyperion. Mas para ela, ainda era difícil saber se era mesmo ela, se a sua visão a enganava.

— Hyperion? — perguntou, a sua voz rouca, pouco acima de um sussurro. Doía-lhe a garganta. — És... tu? — perguntou, surpreendida. Como era possível que aquele homem, da mesma Casa que aquele responsável pelo seu estado, a tivesse vindo visitar? E o homem que ela amava, esse homem deixara-a ali, sem a visitar, sem procurar explicações... Megga tentava se manter forte. Mas mais uns dias ali e estaria a engolir o seu próprio orgulho.

Habilidade treinada:

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