[RP Fechada] Flashback - The Come Back

Papai ia na frente, em seu imponente cavalo-branco, procurando um bom lugar para passarmos a noite, enquanto eu ficava mais atrás, em meu cavalo marrom manchado de branco, garantindo que não estávamos sendo seguidos ou algo do tipo. Não demorou para que papai me chamasse, dizendo que havia encontrado um bom lugar, eu apenas assenti e o segui ate lá, quieta, estava com sono demais para tentar começar uma conversa, cavalgávamos a mais de um dia, com poucas pausas, nenhuma para dormir. Meu pai, um ótimo cavaleiro, havia sido convocado por seu Lord para uma missão, e eu, como uma boa e fiel escudeira, fora junto. Não foi uma missão difícil, apenas longa e cansativa, pelas muitas horas passadas encima do cavalo.

O espaço era pequeno e cercado por árvores, mas o suficiente para conseguirmos dormir confortavelmente. Enquanto papai montava uma fogueira improvisada, eu amarrei os dois cavalos em uma árvore próxima a onde dormiríamos, deixando-os se alimentar da grama dali, eles deviam estar tão cansados quanto eu. Voltei para perto de meu pai limpando as mãos no meu vestido azul-escuro, ele não era o mais bonito, e nem estava em seu auge de vida, contudo, em missões a última coisa que eu pensava era ficar bonita. - A noite está tão bela. - Devaneei, olhando o imenso céu que se fazia nosso teto naquele momento, não conseguia ficar quieta por muito tempo.

Papai apenas murmurou uma concordância, concentrado em terminar de acender o fogo, já que já havia juntado a madeira suficiente, ele não era muito bom com os gravetos, por isso me ajoelhei ao seu lado e afastei suas mãos, tomando para mim a responsabilidade de acender a fogueira. Não tive tanta dificuldade quanto meu pai, apesar dele ter me ensinado, eu era melhor nisso do que ele, não que um dia eu vá dizer isso em voz alta, odiaria ferir seu orgulho. Sentamos lado a lado, perto da fogueira para nos aquecermos, enquanto dividíamos um pedaço de bolo e um pedaço de pão, que havíamos comprado na última vila que passamos. Não era uma refeição que realmente matasse nossa fome, contudo foi o suficiente para enganá-la. - Quer que eu vigie primeiro? - Perguntei após acabar de comer, estava morrendo de sono, mas papai não devia estar em melhor situação.

- Pode dormir, querida. Estás exausta, percebo em seu rosto. - Papai me sorriu docemente, fazendo aparecer as covinhas que eu tanto amava ver. Ele era a única pessoa que eu tinha no mundo, não tínhamos família além de nos dois. Minha mãe morreu quando eu ainda tinha 2 anos, durante o parto do meu irmão que também nascera morto, pouco me lembro dela. Na verdade, tudo que sei ao seu respeito é que papai me contou; ele disse que eu tenho o mesmo cabelo claro dela, e que minha personalidade altruísta e determinada eu, também, havia herdado dela. Por tudo que ele falava, conclui que ela deveria ser uma pessoa incrível e meu coração se entristecia pelo fato de eu ter tido tão pouco tempo com ela. - Irei dormir então. Caso queira trocar de lugar, me acorde sem hesitação! - Me pronunciei, já deitando na grama, estava cansada demais para me oferecer para ficar no lugar dele.

Não demorou para que eu adormecesse, embarcando num sono sem sonhos. Contudo, não fiquei adormecida por muito tempo, fui despertada quando uma mão grande e calejada tampou minha boca, estava pronta para atacar a pessoa quando percebi que era meu pai, me encarando com seus olhos claros e sérios. Percebi naquele momento que algo estava errado. - Sobe e não desça por nada. - Foi tudo que ele disse, apontando para uma árvore cheia de galhos e folhas. Mesmo sem entender o motivo para aquilo, fiz o que me fora ordenado, aprendera cedo, por ser uma criança travessa, a subir em árvores com maestria. Sentei-me num dos mais altos galhos no mesmo momento que em que cavalos montados por homens romperam por entre as árvores.

Papai, que havia sentado novamente perto da fogueira, como se não esperasse a invasão, levantou-se num salto e, em segundos, estava com sua espada em punho, pronto para uma luta. Uma luta muito desleal, já que eram 4 contra 1. - O que querem? - Perguntou meu pai, firme. Os homens não se deram ao trabalho de responder, 2 partiram para cima de meu progenitor, enquanto os outros dois fuçavam nossas coisas. Papai conseguiu matar um daqueles que lhe atacava, contudo, o outro era astuto e o pegou por trás, subjugando-o com uma faca em seu pescoço e tirando-lhe as armas.

Os homens colocaram meu pai de joelhos, bem em baixo da arvore que eu estava, enquanto reviravam nossas coisas, provavelmente a procura de algo valioso. - Estás sozinho? - O que parecia ser o chefe perguntou, rodeando meu pai, que apenas assentiu, mantendo a cabeça erguida. - Mesmo? E es tu que usas estas vestes? Precisaste de dois cavalos para andar? - O homem, que carregava minha trouxa, puxou um vestido de lá de dentro. Meu coração estava disparado e eu não duvidava nada que alguém ouvisse ele, descobrindo minha localização, o medo que sentia por papai tomou proporções inimagináveis, mas não podia deixá-lo me dominar. Precisava agir na hora certa. - Terminarei contigo, e partirei atrás da dona destas vestes.

O chefe parou atrás de papai e chutou suas costas, fazendo-o cair de frente no chão. Sem pensar nas consequências, tirei a adaga que carregava em minha bota de montaria e pulei da árvore, caindo encima do agressor de meu pai. A queda doeu, mas não tive tempo para pensar nisso, possuía poucos segundos restante de surpresa. Aproveitei que o corpo do homem que chutava papai ainda estava abaixo do meu, e cortei-lhe a gargante, como faziam com os porcos, sem dó. Com os segundos de surpresa que ainda me restavam, guardei a faca ensanguentada em minha bota, arranquei a espada que o homem, agora morto, carregava na bainha e ataquei o outro saqueador que estava mais próximo a mim, sabendo que papai daria conta do outro.

Com a espada, que era mais pesada do que a que eu estava acostumada a usar, em punhos, parti para cima de um homem um tanto quanto mais alto que eu, que olhava a cena estupeficado. Infelizmente, para mim, ele saiu de seu torpor antes que conseguisse eu atingi-lo, o saqueador ergueu sua espada, bloqueando meu golpe, e aproveitou o enganchar das espadas para empurrar-me para trás, fazendo com que eu recuasse alguns passos. - Deverias ter ficado escondida. - O homem disse, enquanto girava sua espada na mão direita, com uma arrogância palpável.

Homens arrogantes tendem a ser os piores lutadores, conversam demais, lutam de menos, havia aprendido isso a algum tempo. Por isso, me mantive parada, sabia que ele faria o primeiro movimento, confiante demais, talvez por me julgar fraca, sendo eu mais baixa e franzina. E eu estava certa. O saqueador, após passar um tempo me olhando, veio para cima de mim, a espada a frente do corpo, segurada com as duas mãos, pronto para me matar caso eu não me defendesse. Foi o que eu fiz, esperei que ele estivesse perto o suficiente e bloqueei a espada dele, a empurrando para cima com a minha, fazendo com que ambas se enganchassem, tive que usar as duas mãos no cabo da espada, para conseguir sustentá-las encima, lutando contra a força do homem que empurrava a sua para baixo.

Ao menos, consegui o que eu desejava, seu tronco ficou desprotegido e eu aproveitei para chutar o local com minha perna direita, não teve o impacto que eu desejava, mas ele recuou alguns centímetros, o suficiente para eu poder soltar sua espada e recuar, sem ser morta no percurso. Dessa vez, eu ataquei primeiro, um plano se formando em minha cabeça. O homem se defendeu sem dificuldade, o que eu esperava, e me atacou, o que eu também aguardava, me defendi novamente, chocando as espadas e recuando alguns passos, e o ataquei. Como numa dança, nos atacamos e defendemos em sincronia, ate que vi a postura dele mudar, sabia o que faria agora. Ele atacou-me de cima, não no meio do corpo, pois sabia que eu bloquearia o movimento caso fosse da cabeça para baixo.

Eu esperei ate o último instante para me abaixar, a espada passou zumbindo aonde outrora estava minha cabeça. Aproveitei que estava abaixada e capturei minha adaga que usara para matar o chefe daqueles saqueadores, apoiei uma mão na terra e fiz um corte com a adaga na perna direita do homem, que caiu ajoelhado enquanto eu me colocava em pé. Ataquei-o novamente com minha espada, agora tendo em punhos minha adaga, também, ele conseguiu se defender do golpe, ainda de joelhos no chão. Eu soltei minha espada, que caiu aos meus pés, e agarrei o punho dele, que estava fechado ao redor do cabo de sua arma, impedindo que ele movesse a mão.

Antes que ele sequer pudesse pensar em usar a mão livre para me agredir, ou sequer processar o que estava acontecendo, enfiei minha adaga em seu pescoço, sentindo o sangue escorrer por meu braço e manchar minhas vestes. - Não devias ter mexido comigo. - Pronunciei, vendo o brilho da vida esvair dos olhos arregalados e verdes do saqueador. Assim que tive a certeza de que ele estava realmente morto, virei-me para trás, não totalmente pronta para o que veria. Provavelmente não estaria pronta nem em mil anos. Papai havia padecido, uma espada estava atravessada em seu tórax e seu assassino estava em pé, ao seu lado.

Eu ouvi um grito estridente soar pelo local, sendo ecoado através das árvores, e apenas alguns segundos depois percebi que era meu. Eu acabei com a distância que me separava do assassino de meu pai, após recuperar a espada que havia deixado cair, o ódio dominava cada partezinha do meu corpo. Eu fora a primeira a fazer um movimento, atacando-o diretamente, o homem se defendeu, mas não fora o suficiente para se livrar do meu golpe. Enganchei as espadas e girei a minha, fazendo com que a dele, consequentemente, girasse e escapasse de seu pulso, que não devia estar tão firme.

A espada dele caiu, enquanto a minha continuava firme em minha mão, aproveitei este fato para atacar-lhe. O homem recuou, curvando-se para trás, fugindo do meu golpe, contudo, eu insisti, avançando alguns passos e atacando-o novamente. Dessa vez, ele não teve escapatória, a lâmina de minha espada em seu pescoço fora a última coisa que o saqueador sentira.

[…]

Meu cavalo dava o máximo de si, eu precisava chegar logo as terras do senhor de meu pai, precisava de ajuda para mover o corpo, ele era pesado demais para eu carregar sozinha ate, ao menos, seu cavalo, eu tivera que deixá-lo lá, sozinho, no meio de corpos de saqueadores. Apesar das lágrimas atrapalharem minha visão, eu conseguia enxergar o suficiente para saber que estava chegando, o sol já raiava, o que indicava que eu havia deixado papai a algumas horas já. Não demorou para que eu visse o castelo despontar a minha frente, nem para que eu descesse do cavalo, praticamente me jogando deste. Eu precisava falar com o senhor de Vaufreixo.

Ashford

The supreme art of war is to subdue yout enemy without fighting

Por mais que tentasse, era muito difícil para o novo senhor de Vaufreixo manter o foco em tudo aquilo. Táticas de combate, instrumentos de guerra, organização de tropas, havia tanto para ele aprender em tão pouco tempo que o homem simplesmente não fazia a menor ideia de por onde devia começar. A morte de seu irmão também não o ajudava, ainda estava fresca demais em sua mente, que já estava embaralhada o bastante por ter uma irmã mais nova para criar, um castelo para gerir e toda uma cidade para comandar. Ele simplesmente não estava pronto para aquilo, e de maneira alguma seria capaz de aprender tanto em tão pouco tempo.

O homem sentava-se à grande mesa utilizada para conselhos de guerra no castelo, local onde nunca antes estivera. Nunca havia sido considerado digno de assumir a posição de lorde da casa por seu pai, que preferiria ver seu nome sumir a deixar Garad no comando. O rapaz também queria que pudesse ser fácil assim. Ignorar todas as responsabilidades e deveres e simplesmente voltar para a sua existência tranquila seria um sonho, mas ele devia aquilo ao irmão. E também à Luna. Não poderia decepcioná-los, mas ainda assim não sabia o que deveria fazer primeiro. Aprender primeiro. Sua respiração começou a acelerar, e ele quase hiperventilou em desespero antes de ouvir uma voz amiga.

— Tendo problemas para se concentrar, meu senhor? — um homem velho entrou na sala de guerra, sem qualquer aviso ou algo do tipo. Tinha cabelos e barbas cinzentos e exageradamente longos, e rugas que demonstravam a sua idade já avançada. Assim que o lorde virou-se para ele, Meistre Daruos sorriu, passando ao rapaz calma e confiança. Antes de ser expulso para Torralta, aquele homem era quem cuidava de Garad no lugar de seu pai, e a ele o guerreiro confiaria a sua vida sem qualquer hesitação. — Talvez eu possa ajudá-lo em sua tarefa.

— Não há necessidade de me chamar de senhor, Daruos — o Ashford rebateu. — Você é da minha família, e sabe disso. Chame pelo meu nome.

— O senhor é o novo lorde da casa Ashford, meu senhor — o meistre relutou, sua voz demonstrando que achava aquilo divertido, apesar de sua expressão tentar demonstrar seriedade. — Eu sou o meistre deste castelo, o que o torna meu senhor. E é assim que o chamarei de agora em diante, acostume-se.

— Eu não gosto de ser chamado de senhor... — o homem admitiu. Sempre havia preferido a liberdade, poder correr e agir por impulsos, sem ter peso algum sobre suas costas. Ser chamado de senhor o lembrava de quem ele era agora, e de todas as responsabilidades que tinha sobre si. Aquilo era o bastante para destruir todo o dia do rapaz, e naquela ocasião fez com que ele lembrasse do desespero de antes da chegada do velho. — Mas que seja. Sobre a sua pergunta, Daruos... Tenho tanto a aprender para conseguir assumir o lugar de meu irmão. Não sei por onde eu começo.

— Pode começar se organizando — o meistre disse, apontando para toda a pilha de livros e pergaminhos sobre a mesa de guerra, sendo que da maioria Garad não havia lido sequer a primeira página. — Não se aprende nada na bagunça, meu senhor. Antes de mais nada, você deve manter este espaço limpo caso queira aprender. Além do mais... Por que não me pediu auxílio. Sou o Meistre desse castelo, ensinar a você é a minha função.

— Deixou de ser sua função quando meu pai me expulsou de casa — o rapaz respondeu, ainda que não houvesse repreensão em seu tom de voz. Apenas estava receoso de pedir ajuda a Daruos depois de todos aqueles anos. — Mas... Você é capaz de me ajudar com isso? Guerras, batalhas históricas... Meu lugar nelas devia ser na linha de frente, com uma espada na mão. Não atrás de todo o exército, dando ordens.

— Os Sete tinham outros planos para você, meu jovem... E você não pode contrariar a vontade dos deuses — o mais velho suspirou, retirando os livros e pergaminhos da mesa, mantendo apenas um. Um enorme, que talvez demorasse meses para ser lido, de tão grande. Sua capa, em couro, já havia desbotado e rasgado, e as páginas pareciam ser capazes de se desmanchar ao mero toque de Garad, mas o meistre parecia conhecê-lo bem. — Sobre a guerra, não precisa de tudo aquilo. Se realmente deseja aprender a mais pura arte da guerra, este livro é por onde deve começar tudo, meu jovem. Mas antes, deixe que eu mesmo passe um pouco do meu conhecimento a você.

— Estou ouvindo, Daruos — o homem deu o sinal para que o mais velho prosseguisse.

— Antes de começar ou de lutar qualquer guerra, é necessário que possua conhecimento, meu senhor — Daruos começou, após pigarrear fracamente. — E se você quiser vencer uma guerra, é necessário que tenha domínio sobre cinco fatores. Não irei falar dos cinco agora, pois não pretendo encher sua cabeça demais em um só dia, mas há um em especial do qual sempre deveria se lembrar, e é por isso que começarei a explicar o que precisa saber a partir dele: disciplina. O que entende por disciplina, meu senhor?

— Disciplina seria... — o homem esforçou-se para lembrar das palavras que queria dizer. Sabia exatamente o que falar em sua cabeça, mas as palavras simplesmente não saíam de maneira alguma, forçando-o a responder qualquer coisa. — A obediência?

— Não está errado, meu senhor. No entanto, há muito mais para ser dito sobre a disciplina — Daruos falou, alisando sua longa barba.— Em seu exército, é necessário que haja uma hierarquia. Homens para mandar, e outros para obedecer, todos eles sob o seu comando. Obedecer a hierarquia é uma forma de disciplina, mas não a única. Você, como o lorde, deve possuir mais disciplina ainda. É seu dever conhecer as especialidades e particularidades de cada soldado. Conhecer todos os caminhos, e não falo apenas de caminhos físicos, que te levarão ao mesmo ponto. Deve ser disciplinado em sua busca por conhecimento, e no comando de suas tropas.

— Hum... — o homem não sabia o que dizer, apenas tentava absorver o que seu novo professor tinha a lhe dizer. Não era uma tarefa fácil, mas em comparação a aprender tudo de livros, não teria problema algum com ela.

— Entrando mais no que eu falei, a respeito de conhecer as particularidades, vamos falar um pouco sobre as nossas tropas — o meistre continuou, ao ver que o lorde não diria nada. — Em nosso exército, as principais tropas são a de infantarias e cavalaria. Sabe me dizer o que é cada uma?

— A infantaria é responsável pelo combate a pé... Utilizando arcos e lanças? — o lorde começou a sua resposta, que mais parecia uma pergunta, sem saber se estava certo. — Enquanto a cavalaria é responsável pelo combate montado...

— Na verdade, não, meu senhor — disse o meistre, calmamente. — A infantaria...

— Meu senhor — um guarda apareceu à porta da sala de guerra. — Uma de nossas escudeiras acaba de chegar ao castelo. Ela saiu acompanhada de seu cavaleiro, mas este não está com ela.

— Ora, o que está esperando? — o senhor de Vaufreixo retrucou, repentinamente perdendo todo o seu interesse no estudo. — Tragam-na até aqui.

Habilidade Treinada:

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