[Treino] Layna de Braavos

A mulher saiu da sala do Sacerdote maior e suas mãos ainda tremiam bastante. Encostou-se na parede fora da sala e respirou fundo, encostando a cabeça e fechando os olhos. As imagens das chamas ainda estavam bem vivas em sua cabeça, e ela sabia que nem tão cedo sumiriam.

— Vamos, Layna? — uma voz a fez despertar, e a mulher passou as mãos pelo vestido, tentando voltar à serenidade de antes de acontecer tudo aquilo. — Claro, Meistre. — e seguiu o senhor de barba e cabelos brancos.

Desde que foi trazida para o Templo de R’hllor em Braavos, aquele Meistre sempre a treinava e ensinava, em assuntos como magia, medicina e venenos. Era um bom homem e queria que Layna fosse forte o bastante para quando R’hllor a mandasse em alguma missão em seu nome. Gostava de seus ensinamentos e palavras, pois sabia que seriam bem úteis no futuro.

Seguiu o homem em silêncio pelos corredores, tentando manter a respiração controlada para todo o seu corpo e mente ficarem controlados, para poder aprender melhor o que ele ensinaria. Não ousou perguntar o que seria aquela vez, mas pelo ar de seriedade do Meistre, seria algo novo para a mulher.

Entraram numa sala onde Layna nunca havia entrado antes. A porta era entalhada com inscrições em línguas antigas e gravuras estranhas. Seus olhos percorriam os desenhos enquanto Meistre lutava com as milhares de chaves para conseguir a destrancar. Permaneceu em silêncio, aguardando. Meistre Donn não gostava de ajuda, pois achava que assim estava ficando velho demais.

Após alguns minutos ele conseguiu abrir a grande porta, empurrando com dificuldade por causa do peso e logo um grande laboratório abriu-se diante os olhos curiosos de Layna. Grandes mesas espalhadas, recipientes e talheres. Ervas penduradas e potes com os mais diversos tipos de sementes e até partes de corpos humanos e animais.

— Hoje tentaremos fabricar um dos venenos mais silenciosos que existe, sacerdotisa. Venha. Aproxime-se. — a voz arrastada e rouca do Meistre ressoou. A sacerdotisa aproximou-se conforme pedido, não encostando na mesa, apenas analisando tudo com fascínio.
— Diga-me o que sabe sobre sonodoce, sacerdotisa. — a mulher respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos, vendo as imagens que lera na noite passada pular frente aos seus olhos. — É uma solução relaxante, usada para fazer com que os ânimos fiquem calmos, servindo como relaxante. Se usado na dose certa. —

Fez uma pequena pausa. — Uma dose serve para acalmar um coração agitado, já duas doses dão um sono sem sonhos. Já três doses concedem um sono eterno. Por isso, é tão perigosa e silenciosa. — disse em um tom neutro. Particularmente, ela gostava dessa solução. Era tanto útil quanto perigosa. Só dependia de quem a usava, ou como usava.

— O uso constante dessa solução é perigosa também, já que fica no organismo. Pode causar desmaios constantes. Porém, na dose letal, a vítima fica em coma por 24 horas antes da morte em si, dando tempo para uma possível cura. — concluiu simplesmente, não precisando se delongar demais naquele assunto.

— Muito bem, criança. — com a mão tremendo um pouco, o Meistre estendeu pegando um vidro com alguns grãos. — Sonodoce é fabricado a partir dos grãos de uma árvore chamada Dormínea. — entregou-a o frasco com os grãos e Layna despejou alguns dentro de um pequeno pilão, sem se preocupar com o contato. Sabia que só se contaminava ou algo assim através da ingestão.

A sacerdotisa começou a amassar os grãos, com força para que se transformasse em pó. Não poupou forças ou tempo, já que para se preparar um veneno digno de um efeito bom, a paciência era o segredo. Assim que apenas restou o pó dentro do pequeno pilão, o Meistre estendeu um pequeno frasco amarelo para ela, a qual Layna despejou o pó com cuidado, com o auxílio de um funil. Sendo tampado com uma pequena rolha, Layna ergueu o frasco contra uma luz que tremeluzia, satisfeita consigo mesma e com o Meistre;

Habilidade treinada:

A Cidade de Livre de Braavos era uma das mais ricas entre as nove cidades-estados de Essos. Além do Banco de Ferro e do Titã de Braavos, a cidade possuía a Guilda dos Homens sem Rostos. A Magia então era bem impregnada naquela cidade, e os sacerdotes e sacerdotisas e pessoas dotadas de Magia quase brotavam da terra.

Layna gostava daquela cidade, onde nasceu e onde R’hllor a resgatou. Naquela manhã, a sacerdotisa caminhava vagarosamente pelas ruas de pedra. A brisa que vinha do mar enchia suas narinas de uma sensação boa e prazerosa, como tranquilidade e paz. Seu vestido vermelho com detalhes esvoaçava conforme seus passos, e ela era notada por onde passava, graças às suas madeixas vermelhas, presas em uma trança firme.

Caminhou por ruelas onde anos trás, em sua tenra infância, catou lixo para alimentar-se e alimentar sua mãe moribunda. Não sentia a menor saudade, e sentia-se feliz por estar na situação que está hoje. Agradecia ao Senhor da Luz todos os dias por ter enxergado uma serva em meio a tanta sujeira.

Ao longe já se podiam ver as tendas estendidas dos mercadores locais. Vendedores que lutavam todos os dias para tentar vender suas mercadorias, como peixes, crustáceos e artesanatos. Layna sentia quase pena desses pobres mercadores. A maioria deles tendo seus próprios deuses falsos como guia ou sustento, por isso sempre eram miseráveis. Financeiramente e espiritualmente.

Passou por várias barracas antes de entrar em um beco escuro e sujo, com várias caixas jogadas e lixo espalhado. A expressão da sacerdotisa era firme, porém suave, tranquila. Quem a visse sabia e podia quase ver a paz reinando na mulher. Nada podia abalá-la.

Continuou caminhando com tranquilidade pelo beco, não dando atenção às coisas à sua volta. Seu foco era apenas um. O mercado de venenos. Não pretendia comprar nada, mas o Meistre havia orientado a sacerdotisa a visitar, pelo menos, o mercado. Conhecer alguns venenos, identificar outros. Seria de rica experiência à ela.

O mercado menos apreciado de Braavos, por alguns, ficava no final desse beco. Era modesto e simples, não queria chamar tanto a atenção de pessoas curiosas. Nem todos, afinal, eram dignos de manipular venenos e seus derivados.

A Sacerdotisa apenas acenou com a cabeça ao se aproximar da barraca, o mercador também permaneceu em silêncio, e a mulher podia sentir seus olhos seguindo todos os movimentos dela. Primeiro esquadrinhou todos os frascos, saquinhos e vidros ali presentes. Aspirou fundo, notando que no ambiente não havia resquícios de veneno ou derivados, sendo assim estavam muito bem guardados.

Os dedos dela se aproximaram de vários frascos, e Layna vibrava por dentro. Era tão fascinada por aquelas substâncias tão pequenas, em frascos tão simples... Mas tão poderosas. Uma pitada de um podia matar lentamente, já uma dose de outra podia aliviar dores.

Os dedos dela agarraram um pequeno frasco. Era Poção Definhante, pela cor. Uma poção poderosa contra venenos, que quando ingerida, expele venenos do corpo e expurga sangue ruim também. Se mal administrada, pode prejudicar e até causar danos permanentes, porém sem efeito quando o veneno é sangue de basilísco. A Sacerdotisa colocou o frasco de volta no lugar, anotando mentalmente de tentar aprendê-la com o Meistre algum dia. Quando ele achasse que fosse capaz.

Os olhos da mulher se ergueram e sua atenção foi posta sobre uns ramos verdes, com brotinhos pretos com flores cor-de-rosa. — Isso é Meimendro? — perguntou curiosa, já que só havia visto esse arbusto em livros. O veneno estava localizado nos pequenos frutos escuros, e ingerir dois ou três já era prejudicial. — Sim. — disse ele, rispidamente e com os olhos desconfiados.

Era uma planta extremamente perigosa, e a mulher tinha muita curiosidade de ver alguém sendo acometido por seus efeitos alucinógenos. Alucinações, tremores e taquicardia. Ver seus piores pesadelos transcritos à realidade alternativa que só o infectado consegue ver, e logo após um sofrimento terrível, morrer de medo. Morrer de medo, isso sim parecia interessante de se assistir.
— Você já viu alguém morrer de medo? — a mulher perguntou em um tom calmo, diferente do rapaz.  Ele parece ter ficado intimidado com a pergunta dela, pois seu corpo mudou de posição, ficando um tanto longe das pequenas folhas esverdeadas. — Não. Quem é você? — sempre perguntavam isso.

— Serva do Senhor da Luz. — não precisava saber o nome. — Ver um homem morrer envenenado talvez seja uma das visões que nunca sairá de sua cabeça, nem se quisesse. Morrer então é algo mais distinto de se descrever. Sentir a morte se aproximando, o ar faltando... A vida se esvaindo e você não podendo evitar, ou segurar os últimos suspiros com os dedos, vendo-os escapar como fumaça.. — Havia conseguido assustar o rapaz, enfim.

Habilidade treinada: