[RP Fechada] Meeting From Flames

Freedom

O lorde de Ashford deixou o banco de Braavos, e quando abriu a porta pôde praticamente sentir o peso de Westeros saindo de suas costas. Respirou profundamente, sentido o alívio tomar conta de seu corpo a cada passo que ele dava na direção oposta à do local. Ao contrário da maioria dos lordes nas terras do oeste, Garad não havia nascido para fazer aquilo. Não tivera aulas e não aprendera a participar de todo aquele jogo político no qual fora lançado. O rapaz era apenas um guerreiro, e preferia continuar servindo no campo de batalha a viver aquela vida tediosa que levava naquele momento.

Mas não tinha tempo para birras de criança. Não naquele momento, com a Campina em uma situação tão tensa. Ele cumpriria o seu papel como senhor de Vaufreixo, fazendo o que fosse necessário para proteger seu castelo e os cidadãos que suas paredes protegiam. Quando finalmente deixou a escadaria do banco, olhou para o sol poente, tendo uma ideia repentina. Seu olhar se voltou para os muros e paredes, escadas e esquinas da cidade em que se encontrava, lembrando-se de seus tempos de criança, quando podia fazer qualquer coisa em Vaufreixo sem que ninguém o importunasse. A nostalgia praticamente esmagava o seu coração quando ele parou de andar.

— Vão em frente sem mim. Eu quero andar um pouco sozinho por aqui — o lorde comandou aos seus acompanhantes, que relutaram, dizendo que ele não deveria ficar sem proteção, e que não podiam deixá-lo sozinho naquele lugar. — Não se preocupem com isso, eu logo estarei no navio. É uma ordem.

Após mais alguns argumentos ignorados pelo lorde de Ashford, ele foi deixado sozinho, esperando até que seus companheiros sumissem na primeira esquina para caminhar na direção de um uma barraca comercial que havia visto no caminho para o banco. O comerciante se endireitou ao ver alguém vestido como Garad andando em sua direção, abrindo um sorriso amarelado quando finalmente chegou.

— O que deseja, meu senhor? — Ele falou, e Garad simplesmente retirou uma peça de ouro de sua vestimenta, entregando a ele prontamente, e pedindo pelas roupas mais comuns que ele possuía naquele lugar. Precisou recusar várias vezes as peças mais ‘finas’ do homem, que insistia que alguém como ele não deveria se vestir assim, mas o lorde continuou a insistir, até que o vendedor finalmente o entregou vestes sem qualquer qualidade, guiando o homem a um local onde ele pudesse se trocar.

Ao terminar de se vestir, o senhor de Vaufreixo deixou as roupas antigas com o vendedor e se afastou, misturando-se ao povo e virando a esquina, para finalmente, liberdade. O lorde começou a correr. Simplesmente correr. Como se fosse uma criança, e não alguém de grande importância em Westeros. Se algum nobre o visse daquele jeito, sua casa perderia todo o prestígio, mas Garad não se importava em agir daquela maneira infantil enquanto disfarçado, com sua identidade oculta. Sentia falta da liberdade que possuía antes de tornar-se um lorde .

O homem chegou à beira de uma escadaria, saltando um lado a outro sem ligar para os olhares curiosos à sua volta, e continuou a correr. Não possuía habilidade ou graça, mas era bom o bastante para fazer aquilo. Começou a andar – não correr, para não cair – sobre os muros, finos o bastante para que apenas um pé coubesse por vez sobre eles. Apenas caminhou, na direção do Porto, abrindo os braços para buscar um maior equilíbrio, até que o muro finalmente acabou. O homem então pulou, girando no ar antes de cair no chão. Os pés doeram com o impacto devido aos anos enferrujando, mas ele continuou a correr.

Correu, pulou e rolou pelas ruas de Braavos, sentindo-se livre como nunca em anos, até que finalmente sentiu-se cansado, parando por alguns instantes no meio da rua. Sua respiração era ofegante, e gotículas de suor escorriam pela face. Garad colocou as mãos nos joelhos, enquanto respirava para retomar o fôlego.

— Algo para beber, meu senhor? — um homem ofereceu um copo ao lorde Ashford, que normalmente pensaria a respeito antes de aceitar. Naquele momento, no entanto, tudo o que ele precisava era tomar algo para continuar com seu pequeno momento de liberdade, um movimento estúpido.

— Claro... — Ele disse, estendendo a mão ao copo.

Habilidade Treinada:

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O que aconteceu em seguida foi rápido demais para que Garad pudesse sequer reagir. Quando o lorde estendeu a mão, pronto para aceitar de bom grado o copo oferecido e saciar a sua sede, outra mão se interpôs entre a dele e a do homem, agarrando o pulso deste e pressionando-o ao mesmo tempo em que Ashford recuou dois passos, surpreso com a movimentação. A mão foi instintivamente à cintura, onde suas espadas ficavam embainhadas, mas não as encontrou lá, é claro. Não podia entrar armado no Banco de Ferro, então os itens ficaram para trás, no navio.

Felizmente, não pareceu precisar da espada. A mão que prendeu a do homem continuou a apertá-lo até que o copo finalmente caísse, derramando um líquido viscoso que se espalhou pelo chão, tão rápido quanto o mercador fugiu, ao finalmente se ver livre do aperto. Garad não era um perito no assunto, mas não precisava ser para saber o que estava acontecendo, analisando a situação em que se encontrava. Sua vida havia acabado de ser salva pela pessoa à sua frente. E apenas nesse momento seu olhar se desviou do líquido no chão para sua salvadora.

A mulher era simplesmente impossível de definir. O lorde não sabia se isso era bom ou ruim, mas era como se sua mente começasse a se enevoar ao olhar para ela. Os cabelos ruivos, as feições belas e delicadas que não concordavam com a cena que acabara de presenciar... Até mesmo o seu vestido vermelho simples parecia misterioso a ele. Ashford reconhecia a mulher como uma das sacerdotisas do tal deus da luz, já havia se deparado com outras em seu passado, mas havia algo de diferente na mulher à sua frente. Algo que não notara em nenhuma outra.

— Você... O que acaba de acontecer? — disse o lorde, fingindo-se de desentendido. Não deixaria a sua guarda baixa uma segunda vez.

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O senhor de Ashford ainda não havia recuperado o fôlego, puxando o ar por longos períodos de tempo antes de soltar, enquanto normalizava a sua respiração. Seus olhos ainda não haviam deixado de focar os da sacerdotisa de fogo, coisa que o próprio Garad detestava que fizessem, mas nem notava naquele instante. Havia algo naquele brilho que sua mente tentava, inutilmente, decifrar. Apenas saiu do transe quando a ruiva começou a falar com ele.

— Seu senhor? Está claro que sou um estrangeiro, afinal não me pareço em nada com um Braavosi, mas por que me chama de senhor? — o lorde de Ashford retrucou, ainda no mesmo jogo. Não conhecia muito sobre aquelas mulheres, mas já ouvira muitas histórias de como elas previam o futuro nas chamas e ressuscitavam os mortos. Não eram pessoas em quem se devia confiar de primeira, apesar de que... Ele ainda estava completamente perdido na aura misteriosa que a rodeava. Garad não impediu a aproximação da mulher, deixando-se ser tocado.

— R'hllor, R'hllor... Esse é um nome que repete muito. É o tal senhor das chamas que tanto veneram? Desculpe-me por desapontá-la, mas a minha crença está nOs Sete, assim como a crença de meu pai, e do pai dele — respondeu, simplesmente. Na verdade, Garad nunca havia sido uma pessoa muito devota a deus algum, mas se havia ao menos um pouco de fé em seu corpo, ela seria devotada aos Sete e a nenhum outro deus.

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A pergunta de Garad permaneceu no ar, sendo completamente ignorada pela mulher, mas aquilo não importava muito. Ela não parecia saber quem ele era, e ainda que pudesse estar só fingindo, o senhor de Vaufreixo não sabia de pessoas em Braavos que poderiam querer fazer algo especificamente contra ele, já que a esmagadora maioria ali sequer sabia quem ele era.

O lorde recebia toda a intensidade vinda da ruiva à sua frente, mas este não ficava para trás, já que seu olhar sobre ela também era intenso. Aos poucos, a sua postura começou a mudar, tornando-se muito mais característica de alguém com a sua posição, ainda que esta fosse oculta à mulher. O homem passou a parecer mais firme, determinado... Talvez até ameaçador, embora não representasse uma real ameaça à sacerdotisa, desde que ela também não representasse a ele. Era apenas o modo de se portar que havia aprendido depois de anos como um guerreiro e semanas como um lorde, imponente e poderoso.

— Você pode me chamar de Garad — respondeu o homem, sua voz muito mais grave e limpa que antes, demonstrando uma calma que ele na verdade não sentia. Apesar de manter toda aquela postura, seus sentimentos em relação à mulher ainda eram exatamente os mesmos... Ainda sentia a aura de mistério, ainda queria desvendar o que se escondia naquele olhar intenso, mas o homem não poderia entregar tudo de bandeja a ela. — Eu nasci e fui criado na Campina, em Westeros. Inclusive, logo retornarei... Preciso voltar para casa.

As palavras do homem carregavam um leve tom de pesar, sincero. Realmente precisava retornar ao castelo, mas não queria fazê-lo antes de conhecer melhor a mulher à sua frente. Nunca havia estado tão próximo e nem conversado com uma sacerdotisa de fogo, e todo aquele mistério estava deixando-o louco. O guerreiro queria conhecer mais a respeito dela. Precisava conhecer.

— E você, Layna? — o rapaz perguntou, curioso e ao mesmo. Não estava muito interessado em R'hllor e nos planos do deus para ele, queria mais saber a respeito da ruiva. — Qual é a sua história de berço?

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A maneira como a mulher continuou a se portar, sem mover um músculo em reação à nova postura do lorde, deixou-o extremamente satisfeito. A ruiva era forte, não era qualquer serva ou algo do tipo que se rendia ao mais forte sem qualquer hesitação. Um sorriso se abriu entre os lábios do homem que apenas ficava cada vez mais curioso em relação à ela. As próximas palavras da sacerdotisa apenas alargaram o sorriso, e aos poucos o homem se entregava à curiosidade, deixando de pensar claramente.

— Tudo bem, eu confesso... Nunca trabalhei com vassouras ou martelos. Nasci filho do senhor de Vaufreixo, e após a morte dele me tornei o lorde da casa Ashford — ele contou, simplesmente. Por algum motivo, sentia vontade de falar a verdade à garota, quase como se fosse um crime mentir a ela. Sua guarda estava completamente baixa, ao contrário do que dizia a sua postura, e não era difícil saber disso. — Você é bem esperta, sacerdotisa. Isso me agrada... Eu gosto de mulheres inteligentes.

O homem então se virou, dando as costas à Layna, e deu um passo na direção em que antes seguia com todas as suas cambalhotas e acrobacias de criança. Havia encontrado algo muito mais interessante do que ficar pulando por aí e revivendo momentos de nostalgia... E o homem sabia do perigo de ter uma completa desconhecida em seu navio. Sabia que provavelmente estava sendo enganado por ela que se daria muito mal por isso, mas não conseguia se importar. Apenas queria descobrir mais, aprender mais.

— Então acompanhe-me, sacerdotisa... Até o meu navio — o homem sorriu, mesmo que ela não pudesse ver, e então continuou andando na direção do porto, esperando que a mulher a seguisse. — Nós partiremos logo.

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O lorde seguiu, caminhando em silêncio por alguns minutos. Tinha muito a dizer, muito a perguntar para a sacerdotisa, mas a sua curiosidade teria de esperar um pouco. Uma vez que estivessem em seu navio, finalmente poderia desvendar um pouco de todo aquele mistério que cercava a garota, e a mera possibilidade fazia com que o seu coração acelerasse, ansioso. Não precisava olhar para trás para saber que a dama o acompanhava, e por isso apenas seguiu, aumentando o ritmo, até que finalmente estava no porto.


— Quem é esta, meu senhor? — foi a primeira coisa que ouviu de um de seus espadas assim que viu o lorde se aproximar.  homem estava no solo, provavelmente esperando a chegada de seu lorde, e definitivamente não esperava que o homem aparecesse vestindo trajes ordinários de Braavos, e acompanhado de uma sacerdotisa de fogo, responsável por pregar a palavra de um deus que não existia. — E essas roupas... Aconteceu algo? — o homem colocou a mão em sua espada, como se temesse que o lorde houvesse sido assaltado ou algo do tipo.

— Não se preocupe, Arthur... — o rapaz falou, simplesmente, ordenando com um comando de mão que ele relaxasse a mão sobre a espada. — A mulher está comigo... Ela é a minha convidada e protegida, portanto, cuidem bem dela — o lorde pôde ver a expressão de incredulidade no rosto do espada, mas não deu a mínima. Sabia que a partir do momento em que o comando estivesse dado, ninguém ali teria a audácia de encostar em um fio de cabelo de Layna. — Sobre as vestes, eu troquei. Aquelas estavam muito pesadas pro clima em Braavos.

O rapaz assentiu, e Garad sorriu, preparando-se pra embarcar no navio. Lançou um olhar divertido à ruiva, como se quisesse mostrar a ela o poder que antes tentara esconder, e então pisou no convés, ordenando que o espada ajudasse a mulher a embarcar, e então aguardou.

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