[Quest narrada] Revelation

 

“Algo está deveras estranho, preciso que Agnes e Daphne retornem para a muralha…” As últimas palavras do Lord ecoavam em meus pensamentos, um tanto intrigada, mas entendia seu motivo: proteger seu povo, sua família e seus aliados. O vento gélido acariciava minha face, e a crina dos cavalos dançavam sobre seu efeito, trotando com rapidez de volta para o Castelo Negro.

Novamente entraríamos em um território peculiar, recheado de homens com semblantes obscurecidos. Naquele momento agradecia aos deuses por não conseguir ler pensamentos, afinal de contas, eu era gelo e fogo, nunca o meio termo, e por conta disto poderia deixar tudo a perder com comentários ridículos. Enchi os pulmões de ar, observando os portões novamente abertos, diminuindo o galope até que os cavalos parassem.

Imediatamente fitei a ruiva ao meu lado, sua seriedade me acalmara, não estaria sozinha, então talvez, tudo desse certo. Não era necessário nos conhecermos profundamente para entender que éramos companheiras e que trabalharíamos juntas. Confiaria na experiência dela, fazendo de tudo para acabarmos com a investigação e retornar para casa.

Agora eu tinha um lugar para chamar de lar.

Seguimos para a Torre Sombria onde fomos recebidas novamente pelo lorde. Assim como ele, fi uma reverência, mantendo o ar sério. As palavras de Daphne preencheram minha audição, explicando o motivo de nossa volta. Suas palavras eram belas e sua feição demonstrava confiança. Internamente esperava que o homem a nossa frente escutasse e nos permitisse adentrar.

— Prometemos que seremos breves… — continuei após o término da frase da ruiva. — Isto ajudará tanto vocês, da patrulha, quanto todo o Norte, todo o povoado e províncias. Se acabarmos com isto agora estaremos prevenindo saques, estupros e mortes de inocentes. — As íris cerúleo fitava-o olho a olho, demonstrando em cada palavra a verdade nua e crua. Esperava que com nossos dizeres fossemos convidadas a adentrar e assim, ajudar a entender o mistério que circunda a muralha.

 

A nossa sorte que não havíamos nos deparado com o senhor lorde comandante, que, sem sombra de dúvidas nos enxotaria somente de ter aberto a boca para falar da investigação. O pouco que observei sobre o homem tão jovem, mas que envelhecera precocemente era que ele tinha controle sobre tudo que diz respeito a muralha e aos selvagens.

Soltei lentamente o ar que armazenei em meus pulmões assim que o Lorthemar — que acabara de se apresentar — aceitara nossas argumentações — embora fosse péssima em convencer as pessoas sem a utilização da espada —, internamente agradecia por estar acompanhada da ruiva, pois suas palavras tiveram um peso, e eu? eu apenas complementara o óbvio.

Poderia ser educada e me apresentar? Acredito que sim, mas ainda estava aprendendo este ofício, além do mais, ele sabe que trabalhamos para a casa Mormont era mais do que suficiente. Deixar aberturas, significava demonstrar alguma sensibilidade que poderia ser utilizada contra nós em um local cheio de homens famintos por um pouco de atenção.

Desmontei do cavalo, acariciando sua crina sedosa com delicadeza. Estava ali o único macho que confiara dentro da muralha: Trovão. Puxei a rédea do garanhão entregando a Thery sem ao menos encará-lo por muito tempo. Meu foco era apenas a geringonça a minha frente, feita de metal e que nos levaria para o topo e também para o início de nossa missão.

Com pisadas firmes adentrei o elevador, colocando de volta no topo da cabela o capuz, assim diminuiria meus traços femininos para não chamar tanta atenção — isto poderia atrapalhar muito nosso desempenho enquanto ficarmos em uma zona um tanto, perigosa — apertei o cabo da espada assim que começamos a subir lentamente. Daphne, por outro lado, não estava muito confortável, provavelmente a ruiva tinha um medo: o de altura. Guardei a nota em minha mente segurando para não rir de tal situação, mordendo os lábios me contendo. Atrás da porta de aço era possível vislumbrar a vastidão de árvores com seus galhos repletos de neve e adiante um rio fazia uma linha até onde minha visão não alcançava. Uma imagem de tirar o folego de tão bela.

Entretanto, o que era bom sempre acabava muito rápido, e lá estávamos nós saindo do troço e pisando em terra firma... ou deveria dizer gelo firme? Bom, não importava, não quando alguns notaram nossa humilde presença e sussurravam coisas das quais não conseguia ouvir. Apenas ignorei, ficando com os olhos fixos apenas no guia que nos levara até o interior da torre sombria, lugar este repleto de portas, e, provavelmente, de salas e quartos. Adentramos um com duas camas e uma janela que dava visão para o outro lado da muralha. Acenei em agradecimento, ou tentei.

Assim que fomos deixadas enfim sozinhas, aproxime-me da janela, vislumbrando o outro lado. Um sentimento de saudade veio a tona, mas logo foi dissipados com a voz da ruiva. — Não viemos passar as férias, não é verdade? — Soltei assim que ela terminara, pelo menos ali, com a cavaleira poderia soltar uma piadinha para quebrar o clima tenso. — Como você disse, nada melhor que começarmos a investigação agora. Enquanto for prosear com Lorthemar, verificarei o perímetro oposto para certificar se tem um ponto cego onde os selvagens podem adentrar sem serem notados. — Murmurei em tom baixo para que somente ela escutasse.— Não confio neste lugar, e muito menos nestes homens, então tome cuidado Daph. — Fitei seus olhos com sinceridade, deixando um apelido sair de meus lábios, a verdade era que queria deixar nossa relação informal, até porque, servíamos a mesma casa. — E me chame de Agnes, por favor, toda vez que alguém próximo me chama pelo nome completo parece que esta me xingando. — Confessei.

Caminhei até a porta, abrindo-a lentamente, visualizando a fresta por trás desta, para ter certeza que não tinha nenhuma movimentação do outro lado. Por fim, terminei de empurrar a porta para trás, inclinando um pouco o corpo para frente olhando da direita para a esquerda para ter certeza que nenhum patrulheiro estava nos flancos, e, caso estivesse retornaria para o local. Assim que tivesse a certeza que não era vigiada, e, não tinha o perigo de ser pega, sairia em direção ao lado esquerdo, deixando minha companheira para trás, sempre tendo cuidado com os passos dados, observando todos os lados com extrema atenção.