[RP FECHADA] The ghosts inside my head

The ghosts inside my head

Está RP é FECHADA e se passa na Fortaleza Vermelha, em Porto Real, mais especificamente nos aposentos de Cyrenna Arryn, Lady do Vale. A Lady está sozinha, após saber de sua gravidez, relembrando um aviso de Zakintia de Asshai, enquanto espera pelo pior.

O cheiro dele ainda era o mesmo. Muito característico, como se nada mais em Westeros tivesse permissão para ter o mesmo perfume de Damon Arryn. Cyrenna não havia esquecido e nem seria capaz de fazê-lo enquanto vivesse. Diante do espelho de seus aposentos, a Lady estava exposta como em poucas vezes na vida. Os cabelos loiros caiam desordenados pelas suas costas, sem trança alguma que a deixasse mais apresentável. O rosto pálido possuía um tom avermelhado, o olhar estava perdido, e os dedos brincavam com uma escova de cabelo banhada a prata. Tudo caminhava segundo as palavras da Mulher Vermelha. As pessoas seguiam com suas vidas medíocres, mas Cyrenna quase podia sentir a tensão quando balançava a mão diante do rosto. Estava chegando. Talvez já tivesse sido concluído em algum lugar daquela enorme fortaleza.

Damon havia estado radiante durante todo o dia. A notícia da tão esperada gravidez da esposa havia colocado um sorriso perpétuo em seu rosto. Cyrenna estava igualmente feliz, mas receosa. O leão se ergueria contra a coroa em breve, assim como Zakintia de Asshai havia lhe dito. Sua gravidez, que para muitos era praticamente impossível, era um claro sinal de que o presságio da estrangeira se concretizaria em breve. Como a mãe zelosa que aprendera a ser, tudo em que conseguia pensar era em como salvaria aquela criança, sua pequena Aliah e, quem sabe, Damon. Se houvesse uma chance de levá-lo consigo, teria de ser considerada. Cada hora que passava em King's Landing desde que o Meistre lhe dera a boa nova era um tormento. Precisava se afastar. Precisava deixar o caminho livre para seu pai.

Mas como faria isso? Com que desculpa deixaria King's Landing? Teria de achar uma solução com a máxima urgência. Fitou seu reflexo no espelho atrás de respostas. Já não era a mesma menininha que corria pelo Rochedo, já não era mais a moça que suava de prazer nos braços do marido. Isso, em parte, era um alívio. Como sairia daquele labirinto? Tinha muito a ganhar, mas antes precisava se colocar em segurança. Sua garganta ficou seca e uma lágrima inoportuna escorreu por seu rosto. Pensou em fazer uma prece, mas para quem oraria? Talvez orasse a alma de Tyrion Lannister, pedindo um conselho letal.

Suspirou uma vez, tentando se concentrar. O aposento escuro e a quietude lá fora deixavam seu peito apertado. Um símbolo da Fé dos Sete descansava sobre a lareira, como se espreitasse sua mente. Cyrenna se pôs de pé e num acesso de fúria e frustração atirou a escova que segurava contra o espelho da penteadeira, fazendo com que o mesmo se quebrasse em dezenas de pequenos pedaços. Com os braços, a mulher jogou tudo que ocupava os móveis ao seu redor no chão. Caixas de madeira, jóias, essências, coroas, tudo se tornou um amontado incerto no chão. - Eu sou a filha de Cora! - brandou, pegando os lençóis da cama entre os dedos e os puxando com violência. Seguiu então em direção  ao vestido pendurado no manequim, que usaria no dia seguinte, e o atirou também ao chão, fazendo o mesmo com os brinquedos de Aliah dispostos em um canto, com seus livros e tudo que achou pela frente. Seus olhos encontraram a estrela de sete pontas sobre a lareira, e ela se adiantou para capturar o objeto. - Eu não devo nada a vocês! Como ousam fazer isso comigo?! Como ousam brincar com a minha vida?! - Gritou, arremessando o artefato de madeira contra a parede, fazendo-o cair de volta próximo a seus pés. De forma insana, Cyrenna começou a rodeá-lo, perdida em blasfêmias e nas palavras que a perturbavam.

- Eu faço meu destino! Ouviram? - Gritou, com o rosto avermelhado pela ira. - Eu cuido dos meus passos! Eu mudo meu futuro! - Disse. - Acham que podem tocar em meu sangue? Eles são meus! Meus! Meus! Meus! Meus! - Gritou, chutando a estrela de sete pontas com tanta força, que o objeto acabou caindo entre as brasas, e em pouco tempo começou a ser consumido pelo fogo. Cyrenna respirava com dificuldade, e antes que pudesse se recompor, uma criada bateu a porta, muito assustada com o barulho. A Lady entreabriu a porta, com o rosto suado e com os olhos lacrimejados. - Milady, está tudo bem? - Quis saber a criada. Cyrenna pareceu pensar por um instante, e então ergueu os olhos para a mulher a sua frente. - Avise ao Lord Arryn que minha comitiva e eu partiremos essa noite. - Pediu, com a voz estranhamente tranquila. - Mas senhora, este é apenas o seu quinto dia aqui. - Retrucou a criada, surpresa. - Vá e faça o que eu disse. Agora. - Respondeu, batendo a porta.

Após despachar a criada com uma mensagem, Cyrenna aguardava ansiosa a vinda de um de seus generais. O homem entrou de forma silenciosa, enquanto a Lady admirava a lareira diante dela. Sem desviar os olhos daquele ponto, Cyrenna foi direta. - Espero que tenha entendido o que planejo, Sor Alan. E espero que saiba que levarei adiante com ou sem sua participação. - O homem se aproximou alguns passos, entrando no campo de visão de sua senhora. Tratava-se de um homem grisalho, entre os quarenta e cinquenta anos, de aparência séria porém doce. - Entendo perfeitamente e concordo. Farei o que me for pedido pela segurança de meu Lord. - Afirmou ele, o que deixou Cyrenna parcialmente satisfeita. Sor Alan havia visto Damon crescer, e a Lady do Vale contava com seu famoso bom coração para que seu plano tivesse sucesso.

- Damon não tardará a responder ao meu chamado, então precisaremos agir logo. Traga três de seus homens dispensáveis e espere o meu sinal. A minha presa já está vestida pra ocasião. - Disse, abrindo um sorriso sem humor, em referência ao criado que vestira com as roupas e joias de Damon, e que aguardava confuso e ansioso em uma sala ao lado. Sor Alan pareceu preocupado por um instante, mas em seu íntimo, não via outra solução. - O que pretende fazer com esses oficiais, Milady? - O homem perguntou. Cyrenna desviou os olhos na direção dele pela primeira vez. - Não deixaremos pontas soltas. Diremos que foram mortos com Damon durante um combate, uma morte honrada. - Informou ela. - Como desejar, Milady. - Respondeu o general, deixando o aposento com a mesma sutiliza de sua chegada.

Cyrenna jogaria com a sorte. Esconderia do próprio pai seus próximos passos, um preço pequeno a se pagar pela integridade de sua família. Logo Damon estaria com ela, talvez inconformado com sua partida, e ela inciaria a sua dança. Quando o marido acordasse estaria a salvo, assim como ela e Aliah, e os carniceiros de Serra Targaryen teriam um corpo para brincar, o cadáver do Senhor do Vale. O som da guerra já soava em seus ouvidos, mas Cyrenna não tinha mais os olhos úmidos. Precisava estar consciente, lúcida o bastante para que o êxodo Arryn desse certo. Contava com Sor Alan, mas estava pronta para ordenar que uma adaga fosse cravada nas costas dele, se o homem ousasse trair sua confiança. Uma adaga dourada, ornada com um leão. A dama caminhou até um de seus baús, e capturou um pequeno frasco entre os dedos. Era um frasco antigo, mas com um conteúdo muito poderoso. Cyrenna sorriu e o guardou entre as vestes, saindo tranquila de seu quarto.

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