[RP Fechada] Nightwalk

Pentos estava sendo muito mais do que apenas um ponto de passagem antes de ir para Westeros. Já havia pego mais de um serviço ali, mas o que realizaria no dia de hoje era um bastante diferente. Pela primeira vez, não me pediam que matasse alguém. Apenas pediam que eu estivesse de olho em uma serva do alvo em questão.

O motivo era bastante simples. Haviam boatos de que o nobre em questão tinha como criada uma maegi. Sendo assim, ao custo do próprio sangue ou de outros criados, teria acesso a visões de seu próprio futuro. Se fosse assinado um contrato para o matar, tal acontecimento seria visto pelas visões de sangue da mulher e precauções seriam tomadas, complicando muito o serviço.

Sendo assim, o que eu deveria fazer era confirmar esses boatos. Estava a alguns dias observando uma mulher que trabalhava para ele, hospedado em uma estalagem que ficava perto de onde morava o homem. Não a vi em nenhum momento fazendo nada que uma maegi faria. Muito pelo contrário, seu comportamento era bastante infantil.

Cheguei a conclusão de que poderia entrar em contato com ela. Não seria um problema, visto que visivelmente gostava de caminhar a noite para observar o céu noturno. Bastaria que utilizasse-me disso para puxar assunto e acabar extraindo dela alguns fatos. Desci da estalagem, colocando uma blusa simples, uma calça e uma capa negra com capuz. Era melhor isso do que minha roupa de assassino, afinal de contas não queria que tivesse medo de mim. Sai da estalagem e me encaminhei para o terreno do nobre. Andava com o capuz cobrindo meu rosto.

Chegando ali, um guarda me parou, me questionando:

- Pare aí, quem é você e o que deseja nessas terras?

Teria que mentir. Dizer algo que o convencesse de que poderia entrar. Retirei meu capuz, sorrindo. Aparentando uma postura amigável.

- Sou mensageiro de Johan Farrah, um nobre de Volantis. - Escolhi Volantis por ser afastada de Pentos e provavelmente o cavaleiro não saberia o nome dos ricos de lá. - Possuo comigo uma mensagem destinada ao nobre que resite nesse local.

Tudo o que tinha dito havia sido com firmeza e sem hesitação. Mensageiros eram comuns entre nobres, de modo que o que eu dizia era verossímil. Além disso, uma vez que estava vigiando a entrada, não veria o que eu faria lá dentro. Senti seu olhar em mim mais uma vez, provavelmente procurando por armas ou qualquer coisa que pudesse indicar risco. Minha adaga estava bem escondida, sem fazer volume na roupa. Após pensar mais um pouco, abriu o portão para mim, permitindo que entrasse. Acenei de volta, recolocando o capuz e entrando.

Assim que ouvi a porta se fechando, desviei de minha rota indo em direção ao espaço no qual a mulher caminhava durante a noite, desejando encontrá-la ali para enfim poder conversar.

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 O dia havia sido divertido para a jovem menina que pouco tivera de fazer atendendo as ordens de seu senhor, ela caminhava por todo o terreno colhendo algumas flores para enfeitar seus aposentos e não percebera que o dia havia se tornado noite.

Um estalo em sua mente a faz perceber que caminhar pelos jardins estava sendo uma tarefa um pouco difícil sem ter consigo uma fonte de luz, ela sai dos jardins indo para os campos à oeste dopequeno castelo  onde havia um banco de pedra para sentar-se e poder observar o céu.

 Ela ouve ao longe um dos guardas parar um homem com capuz preto que tentava entrar nas terras de seu amo, curiosa ela observa atenta todo o desenrolar da situação achando aquilo engraçado. Ao ver que o estranho havia recebido autorização ela desvia seu olhar voltando sua atenção para o lindo céu estrelado, era privilegiada ao poder a noite notar a presença da lua cheia que tinha sua luz contrastada com o céu escuro.

 Os olhinhos arredondados de Jehanne brilhavam com a mesma intensidade das estrelas toda as noites onde ela se sentava naquele mesmo local para observar os céus, nem mesmo os dias chuvosos a impediam de abandonar seu ritual, mesmo que isto lhe custasse alguns dias de cama e broncas de seu mestre.

Aos poucos ela notava o som de passos vindo em sua direção, sem dar atenção ela mantinha seu olhar voltado para a linda e irradiante lua que era  quase sempre sua melhor companhia durante altas horas da noite, até que sue mestre a ordenasse se recolher aos seus aposentos.

- Você é tão bela e brilhante! Queria ter você para mim bolinha de luz para olhar para você o tempo todo. -

 Balançando seu corpinho magro e raquítico de um lado para o outro como se ouvisse alguma canção ela dançava com seus movimentos de corpo observando o céu, talvez esta fosse uma das razões para alguns servos acreditarem que ela não fosse realmente uma Maegi como os boatos que corriam a cidade diziam, muitos diziam que era apenas uma mulher louca que acreditava ser uma criança. Porém, alguns servos diziam ter visto algumas ocasiões onde o seu mestre obrigara a garota a revelar o seu futuro utilizando seu sangue, falavam que estas ocasiões eram raras pois a jovem relutava em utilizar sua magia por temer o derramamento de sangue.

 Jehanne não conversava muito com os outros servos por todos a evitarem a temendo por seu comportamento infantil e imprevisível, era realmente uma figura caricata para aqueles tempos e assim eram poucos os que se arriscavam proximidade com ela. Era uma jovem muito fácil de lidar pois se encantava até mesmo com um simples e despretensioso sorriso, gentileza era sempre bem vinda por Jehanne e a encanta pessoas que lhe dessem atenção por no fundo ela se sentir sempre solitária, por este motivo ela não tinha com quem conversar ou quem se atrevesse a conhecer sua verdadeira história.

Avistei a mulher que estava procurando. Caminhei na direção dela sem pressa, para não demonstrar nenhum tipo de agressividade.

- Você é tão bela e brilhante! Queria ter você para mim bolinha de luz para olhar para você o tempo todo.

Sua voz não tinha saído muito alta, ainda assim era o suficiente para que eu a ouvisse. Ainda assim não entendi claramente o que dizia. Estava se referindo a Lua, falando sozinha? Talvez fosse apenas uma louca de fato, e não uma maegi, mas não me daria por convencido apenas por esse fato. Precisava conversar com ela, mesmo que meus instintos dissessem para me afastar. Sua insanidade podia fazê-la tomar ações imprevisíveis, ao mesmo tempo de que eu teria que manter uma atitude que não aparentasse perigo, o que incluía estar próximo sem medo. Seria complicado.

Finalmente chegando perto dela, percebi detalhes que não havia percebido à distância. Já havia percebido que seus cabelos possuíam duas cores. Mas imaginava ser muito mais jovem, de perto agora via que tinha minha idade ou um pouco mais. Seus olhos brilhavam enquanto olhava para o céu, sua expressão maravilhada. Não tinha certeza se tinha notado minha aproximação. Não fazia questão de ser furtivo, então provavelmente já. Estava de fato curioso quanto a ela. Retirei o capuz, revelando meu rosto. Me abaixei na sua frente, ficando de cócoras, perguntando em um tom audível para chamar sua atenção:

- O que uma mulher tão bela quanto a senhorita faz sozinha nesses jardins? - O tom era gentil e sincero. Esperei sem pressa sua reação, com a expressão serena e tranquila, iluminado pela luz do luar.

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   Brincando de mover seu corpo como se dançasse e ao som de uma música inaudível a menina observava o céu sem se dar conta de que alguém se aproximava dela, ao ver um homem estar cerca de 4 passos de distância de si Jehanne se vira para ele o vendo retirar o capuz e por-se de cócoras em sua frente.  Ela sorri amigavelmente prestando atenção na pergunta feita pelo até então estranho.

- Depende de onde está vendo uma mulher, eu não sou velha, sou ainda muito jovem apesar de minha aparência mostra o oposto.-

 Ela sorria enquanto estendia a mão para o rapaz em sinal de cumprimento.

- É educado se apresentar ao conhecer alguém, então, eu sou Jehanee, moro aqui com meu senhor. E você quem seria? -

A jovem não escondia seu lado gentil e simpático em nenhuma ocasião, fazia questão de poder conversar com quem lhe desse a oportunidade de ter um bom diálogo.

 Voltando sua atenção novamente ao céus ela vê uma estrela o cruzar rapidamente e se anima começando a dar breves risadas de contentamento.

- Que linda!! - Exclamava animada. - Sabe o quanto é raro ver uma estrela caindo? ou cadente? -

 Estando confusa ele apenas da risada e volta o seu olhara para a face gentil do estranho.

- Obrigada pela gentileza e o elogio, mas ele apenas funciona com mulheres adultas para poder encanta-las e torna-las mais acessíveis à sua boa conversa. Poderia ter apenas dito um "Olá, o que faz aqui sozinha?", não é preciso tantas formalidades, gosto de conversar.-

 Mesmo tendo uma forte infantilidade em sua personalidade Jehanne possuía uma boa conversa e tinha consigo sempre bons argumentos, estar sozinha quase que o tempo inteiro a fazia conversar consigo mesma e desenvolvia sempre longos diálogos e argumentações, com isso estava sempre em pé de igualdade com outras pessoas quando se tratava de uma conversa informal. Sorrindo para o estranho ela aguardava pacientemente sua resposta.

Percebi-a abrir um sorriso amigável para mim, ao mesmo tempo que podia ver que já pensava numa resposta, que logo veio:

- Depende de onde está vendo uma mulher, eu não sou velha, sou ainda muito jovem apesar de minha aparência mostra o oposto. - Estendeu sua mão para mim, continuando a falar: - - É educado se apresentar ao conhecer alguém, então, eu sou Jehanne, moro aqui com meu senhor. E você quem seria?

Não precisava dizer a ela nenhum nome em especial. Ficava o tempo todo trancafiada, mal tinha contato com outras pessoas para poder confirmar ou não minha identidade. Como me disse apenas um nome, respondi da mesma forma, enquanto apertei sua mão com delicadeza:

- Me chamo Jonos. Estou na cidade há pouco tempo, desculpe-me se não entender meu sotaque. - Não sabia se tinha me visto conversar com o guarda ou não, precisava ter esse cuidado. Minha pronúncia não era parecida com a de Pentos, o que era justificável pelo que dizia naquele momento.

Observei-a voltar a olhar para o céu após soltar minha mão. Parecia haver algum tipo de magnetismo entre a mulher e os céus. Olhei naquela direção também, vendo o rastro deixado por uma estrela cadente. Quase tomei um susto com a explosão de felicidade da minha interlocutora, que ria enquanto exclamava:

- Que linda! Sabe o quanto é raro ver uma estrela caindo? Ou cadente?

Neguei quando olhou para mim. Normalmente não tinha tempo para observar as estrelas para saber o quão difícil era ver um fenômeno do tipo. Ouvi-a falar na sequência:

- Obrigada pela gentileza e o elogio, mas ele apenas funciona com mulheres adultas para poder encanta-las e torna-las mais acessíveis à sua boa conversa. Poderia ter apenas dito um "Olá, o que faz aqui sozinha?", não é preciso tantas formalidades, gosto de conversar.

Um sorriso seguiu aquela frase que ligou um alarme em mim. Aquela expressão infantil escondia por trás uma pessoa bastante esperta. Precisaria mentir mais um pouco para ter certeza de que não despertaria suspeitas nela. Retribui o sorriso que me lançou, respondendo:

- Apenas tentei ser educado para com a senhorita... Afinal estava sendo um bocado invasivo vindo até você sem avisar. Ainda estou sendo, na realidade. - Meneei a cabeça, falando um pouco de verdade na sequência, embora houvesse bastante coisa omitida: - Mas resolvi me aproximar porque me interessei por você, achei que seria uma boa pessoa com quem conversar. - Sorri um pouco mais. - Então achei que seria bom te elogiar para não perder a chance de falar com você. Desculpe-me se não gostou.

Não era mentira que de fato Jehanne me chamara atenção. Seus cabelos diferentes, assim como seu jeito infantil mesmo com a idade que tem, me despertavam curiosidade, além da que tinha que ter devido a minha missão ali.  E essa era a parte omitida: estava falando com ela em parte por obrigação, por querer extrair dela se era maegi ou não. A mentira usada da forma correta é capaz de se misturar com a verdade de forma a ser tomada como verdadeira. Era isso que fazia ali. Esperei que respondesse e puxasse algum assunto para que continuássemos a conversa.

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   "Jonos, então este é seu nome, bastante diferente e realmente, é um pouco difícil entender o que diz."

Mesmo dizendo que tinha vindo de longe eu sentia que já havia ouvido tal sotaque, algumas vezes ao longo de minhas viagens por Essos meu senhor se encontrava com pessoas de todos os cantos do mundo. em sua maioria eram outros nobres ou influentes comerciantes,

 O céu naquela noite estava especialmente lindo com as manchinhas brilhantes e a lua toda redondinha e cheia de luz, eu sempre me imaginei estendendo as mãos e apanhando aquela linda forma luminosa, então, ouvindo Jonos falar eu me assusto um pouco pois estava com os pensamentos longe e havia me distraído por alguns segundos.

 Apesar da fala ser um pouco difícil de compreender Jonos parecia ser bastante inteligente, mostrava saber usar bem as palavras e tinha uma presença agradável, apesar de que ao longo de minha vida eu não tenha tido muitas companhias para poder conversar e passar o tempo, aquela era uma rara ocasião.

- Tudo bem eu entendo que não desejava me espantar. Mas me diga, por que demorou tanto em vir falar comigo, esteve tantos dias cuidando e observando as coisas por aqui, esteve com vergonha? -

 Solto uma risadinha baixa com a brincadeira feita mas com um toque de verdade e de curiosidade, era uma coisa comum eu observar tudo ao meu redor ao longo dos meus dias, estar sempre sozinha ou presa nos calabouços me dava a chance de reparar mais nos detalhes do mundo que me envolvia. Havia percebido que nos últimos dias um homem encapuzado estivera próximo à uma estalagem ficara observando o casario do mestre, muitas vezes enquanto corria e brincava nos terrenos o via sempre atento me observando, o mestre havia dito que algo assim poderia acontecer comigo por eu ser quem eu era.

- Eu sou um pouco criança,ou talvez, muito criança e me engano fácil com as pessoas, mas, eu sabia que viria e entendo o seu interesse.-

 A chegada de Jonos já havia sido anunciada muito tempo antes de ele aparecer aos arredores do casario, eu não tinha certeza se o mestre ficaria furioso e me puniria caso descobrisse que eu diria ao homem como sabia de sua chegada, mas não via algum nisso afinal eu não via nele alguém perigoso.

- Uma vez eu me machuquei enquanto brincava, eu cai e bati com o rosto do chão e feri minha boquinha, saiu um pouquinho de sangue e tocou minha língua. Foi ai que eu soube que algum dia um homem de capuz preto ficaria ao meu redor e um dia viria aqui me fazer companhia, alguém pediu para que você fizesse isso não foi? Talvez, para ser meu amigo?-

 O clima estava ótimo naquela noite em especial, finalmente o homem encapuzado havia vindo falar comigo e eu estava feliz por ter a sua companhia naquela noite tão bonitinha e fresquinha, algumas vezes o vento soprava um pouco mais forte e jogava meu cabelo em meu rosto, era divertido e me fazia rir um pouco enquanto o tirava da minha face.

- Por que veio de tão longe me ver? Muitas pessoas se afastam de mim ao invés de me procurar, poderia contar como soube de mim? Prometo que não contarei para ninguém, afinal, ninguém gosta de estar perto de mim por terem medo ou por acharem que sou louca, então não se preocupe em contar um segredo ele ficará comigo até que os deuses me chamem.-

Sorria enquanto o abraçava pelo seu braço direito, estava um pouco frio e aquele manto preto com capuz parecia bem aconchegante e quentinho, enquanto tentava roubar um pouquinho daquele calor ficava esperando ouvir alguma resposta de Jonos.

Percebo que Jehanne estava distraída assim que começo a falar. Era de fato uma pessoa bastante peculiar, tinha mais certeza disso a cada momento. Muito esperta, mas ao mesmo tempo aérea e infantil. Conseguia entender porque todos a achavam louca. Mais uma prova de sua esperteza foi o que disse na sequência:

- Tudo bem eu entendo que não desejava me espantar. Mas me diga, por que demorou tanto em vir falar comigo, esteve tantos dias cuidando e observando as coisas por aqui, esteve com vergonha?

Era hora de usar a atuação e mentir novamente para ela, com urgência. Fiz com que rubor surgisse em minha face, desviando o olhar para a grama. Falei, em um tom baixo:

- Eu cheguei aqui em Pentos e fui para a estalagem. Deveria esperar um momento oportuno para visitar. Mas... - Fiz o rubor subir um pouco. Minhas capacidades de fingimento eram um ótimo complemento as mentiras. - acabei vendo você durante uma das noites. Me chamou a atenção como olhava animada para as estrelas. Acabei ficando curioso e interessado, observando várias vezes... tanto que vim falar com você.

Voltei a olhar para a mulher, fingindo uma certa timidez. Também tinha o propósito de dar a ela a falsa impressão de que estava me abrindo, deixando que visse meus sentimentos, para que tivesse a sensação de que poderia fazer o mesmo. Ouvi sua resposta:

- Eu sou um pouco criança, ou talvez muito criança, e me engano fácil com as pessoas, mas, eu sabia que viria e entendo o seu interesse.

Assenti ao que me disse, olhando novamente para o céu. Queria demonstrar que também me interessava pelo que tanto a fascinava. Até que ouvi sua voz novamente:

- Uma vez eu me machuquei enquanto brincava, eu cai e bati com o rosto do chão e feri minha boquinha, saiu um pouquinho de sangue e tocou minha língua. Foi ai que eu soube que algum dia um homem de capuz preto ficaria ao meu redor e um dia viria aqui me fazer companhia, alguém pediu para que você fizesse isso não foi? Talvez, para ser meu amigo?

Meu coração chegou a bater mais forte quando falou aquilo. Me lembrei de Karma imediatamente, a maegi que salvara em Qarth, durante meu treinamento. Para ver meu futuro, precisara ingerir um pouco do meu sangue. O que tinha me contado era exatamente isso; Tinha visto o futuro dela com o próprio sangue. Isso por um lado confirmava para mim que era uma maegi. Por outro lado, havia o risco de que percebesse quem era meu cliente. Ouvi-a rir com o vento bagunçando seus cabelos e dizendo:

- Por que veio de tão longe me ver? Muitas pessoas se afastam de mim ao invés de me procurar, poderia contar como soube de mim? Prometo que não contarei para ninguém, afinal, ninguém gosta de estar perto de mim por terem medo ou por acharem que sou louca, então não se preocupe em contar um segredo ele ficará comigo até que os deuses me chamem.

Senti a menina abraçar meu braço direito e suspirei. Nessa época, algumas poucas vítimas conseguiam me fazer sentir o mínimo de remorso. Não era como Ayisha, que era completamente fria e sem rodeios. Isso mudaria com o tempo, mas no momento sentia um pouco de pena de ter que enganar Jehanne. Mas precisava fazer isso, e o que eu falasse precisava ser coerente com a visão que possivelmente a mulher tivera, portanto não podia aprofundar demais a mentira. Abri um leve sorriso e respondi:

- O meu senhor que me enviou para entregar a mensagem para o seu senhor é o motivo de eu vir de Volantis até aqui. Mas outro homem aqui nessa cidade me falou sobre você sim. Não sou o único que tem curiosidade sobre você, mas no caso dele estava mais interessado em tê-la como serva dele. Pediu a mim, por um dinheiro extra, que interagisse com você para tentar descobrir seu preço, mas... - Abri meu sorriso. Internamente me xingava por estar mexendo com seus sentimentos. Era necessário. - Enquanto te observava da estalagem, percebi que não deveria fazer isso com você. Ser simplesmente vendida para outro rico. Ao mesmo tempo percebi o quanto é sozinha, logo resolvi que viria falar com você e... bem, sim, ser seu amigo por essa noite que ficarei aqui por ter entregue a mensagem. Amanhã terei que iniciar minha viagem de volta a Volantis.

A última frase eu marquei com um certo pesar em minha expressão, como se quisesse ficar com ela mais tempo. Assassinos como eu sempre são desonrosos. Estava naquele momento brincando com as emoções de uma maegi que tinha algum tipo de transtorno que a fazia querer ser infantil mesmo sendo mais velha que eu. Estava decidido a fazê-la feliz pelo menos essa noite. Me lembrava demais Karma para que eu não sentisse vontade de fazer isso. Ainda assim precisava deixá-la em minha teia de mentiras para que não prejudicasse minha missão. Perguntei:

- Você parece estar com frio... quer minha capa? - Mantive o sorriso benevolente, levando a mão livre para desprender a peça de roupa de meu corpo e entregar a Jehanne. Estava abraçando meu braço não apenas por me querer por perto, mas também tremia um pouco.

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  Aquela noite estava sendo especialmente linda, o céu estava bastante escuro, a lua brilhava intensamente e as manchinhas luminosas naquela escuridão infinita formavam um belo quadro natural, uma obra prima feita pelos deuses.
Quando Jonos responde a mim noto que ele havia ficado com bastante vergonha e dou um baixa risadinha, havia achado aquilo bastante incomum e muito bonito, ele parecia não ser alguém perigoso e que mentia.

Jonos era um mensageiro e estava ali para entregar uma mensagem de seu senhor para o meu, eu não sentia tanta firmeza em suas palavras por alguma razão, mas logo ele diz que um outro senhor ali da cidade queria me comprar, neste momento eu sentia meu corpo estremecer dos pés a cabeça. Eu não poderia ser vendida, mesmo com todo tratamento rude e os castigos severos que recebia de Lorde Bryorth ele ainda cuidava bem de mim, eu sabia que existiam homens realmente malvados, Bryorth felizmente não era um deles.

Meu novo colega mostrava-se um apreciador da noite, ele me dava atenção e logo voltava a olhar para a lua, parecia que tínhamos um gosto parecido quanto à noite, olhar o céu era muito divertido, poder imaginar o que os deuses haviam escondido atrás daquela bela cortina.

Sabendo que Jonos não ajudaria o outro senhor que deseja me comprar eu alivio a tensão de meu corpo, suas palavras traziam conforto ao meu coração, aquela decisão tomada por ele fazia eu me sentir segura novamente.

- Obrigada por me proteger Jonos, você é uma boa pessoa, por mais que não saiba.-

Eu não tive a coragem de relatar tudo à ele inicialmente, mas algo me parecia estranho ainda, em minha mente era como se uma neblina existisse e as palavras de Jonos por mais que parecessem, não eram todas reais. Ele dizia que ficaria comigo aquela noite sendo meu amigo, eu sentia um pesar em meu peito e lágrimas rolaram pelo meu rosto sem entender realmente a razão daquilo.

Ergo o braço de Jonnos e o passo por cima de meus ombros e abraço seu corpo, assim sua capa cobria nós dois e dividiríamos nosso calor, alguma coisa nele me dizia que não o veria mais, aquilo machucava e eu queria contar tudo mas não sabia como, sentia medo.

-Jonnos quando pretende voltar para me ver? ou melhor, pretende algum dia voltar a me ver? - minha voz acabara saindo baixa e trêmula, eu sabia a resposta.-Mesmo que não seja verdade, diga que sim, ao menos assim eu posso acreditar que a amizade não seria por apenas uma noite, que você realmente seria um amigo, o primeiro que tive em todo este tempo, só diga sim.

Meu modo de agira era incomum até mesmo para mim naquele momento, eu sentia não querer que Jonnos partisse, sabia que ele não voltaria e que algum dia eu cairia em esquecimento, sua palavras haviam sido pensadas, elaboradas e encaixadas de uma forma sútil, isso havia despertado aquelas sensações em mim, eram palavras de alguém que não estava sendo sincero. Mesmo assim, mesmo sabendo que aquele homem talvez não estivesse dizendo toda a verdade para mim, que podia não ser um amigo, eu queria acreditar que sim, muitas vezes o crer se torna mais reconfortante do que a própria realidade, do que a própria verdade.

- Eu queria poder saber como seria daqui para frente, se depois que você partir eu iria te ver de novo algum dia, mas maior do que o medo que tenho do sangue, tenho medo da verdade.-

Passava meu rosto suavemente em suas vestes o secando, meus braços ao redor de seu corpo o pressionavam como se tentasse ter mais próximo de mim, tentava gravar em mim o máximo de cada momento, eu não tinha certeza se ele me considerava uma amiga ou como a louca que todos diziam que eu era, mas eu o via como um amigo. Este entendimento se via através de um detalhe, todos que sabiam sobre mim, sobre o que eu era se afastavam repentinamente e praguejavam coisas horrorosa sobre mim, me amaldiçoavam e desejavam me queimar.

Jonnos mesmo sabendo agora quem eu era reagiu de uma forma natural, como se já imaginasse ou já tivesse tido experiência semelhante, talvez não fosse o primeiro encontro dele com alguém como eu, estava curiosa.

- Por que não se assustou quando lhe contei que havia visto que viria? Sabe que a magia com sangue é mal vista, e que muitos me odeiam por ter nascido assim. Por que não se afastou e lançou palavras de ódio contra minha existência? Como todos fazem ao saber desse fardo que carrego.-

Eu queria poder conversar mais com ele, mas aguardaria sua resposta primeiro, daria um tempo para mim mesma antes de ir adiante com as palavras, deveria me recuperar daquele pequeno pranto no qual havia caído.

Percebi Jehanne estremecer quando eu disse sobre a possibilidade de ser vendida. Embora escravidão fosse proibida por lei em Pentos, era sabido que haviam casos como o que deveria ser o dela, onde a pessoa é paga para ser serva de alguém, e o contratante acaba se comportando como "dono", mandando e desmandando. Em Westeros isso também acontecia, um exemplo era a casa Bolton.

Pelo menos a menina relaxou com o final de minha fala quanto aquilo. Ouvi sua resposta:

- Obrigada por me proteger Jonos, você é uma boa pessoa, por mais que não saiba.

Sua calma, entretanto, viraram lágrimas pouco tempo após. Emocionou-a mais do que eu esperava dizer que teria que partir da cidade. Eu teria que manter essa mentira, por mais que vê-la assim me fizesse ter vontade de permanecer com a maegi. Sinto-a segurar meu braço, fazendo-me abraçá-la junto com a capa. Falou, a voz baixa e tremendo:

- Jonnos quando pretende voltar para me ver? ou melhor, pretende algum dia voltar a me ver? Mesmo que não seja verdade, diga que sim, ao menos assim eu posso acreditar que a amizade não seria por apenas uma noite, que você realmente seria um amigo, o primeiro que tive em todo este tempo, só diga sim.


O sorriso que abri na sequência foi triste. A resposta que daria a ela seria óbvia. Dissera a ela que eu era um mensageiro, logo não decidia meus destinos. Mas o que de fato falaria chegava a ser sacanagem. Respondi, com um tom de pesar:

- Eu... não poderia mentir para você, Jehanne... É difícil que eu vá conseguir te voltar a ver... Somente se meu senhor enviar outra mensagem ao seu. Mesmo assim, não teria a garantia que enviaria o mesmo mensageiro...

Mantive-me abraçando-a, para aquecê-la e também lhe dar apoio. Fechei os olhos, fazendo com que uma lágrima escorresse do meu olho direito. Rapidamente a limpei. Fazia parte da atuação para que o que eu falava não gerasse nela qualquer suspeita, que acreditasse que de fato eu queria ser seu amigo e que estava triste em ter que partir. A ouvi falar:

- Eu queria poder saber como seria daqui para frente, se depois que você partir eu iria te ver de novo algum dia, mas maior do que o medo que tenho do sangue, tenho medo da verdade.

Naquele momento fui puxado por um flashback dentro do flashback. Karma tinha o mesmo medo. Não gostava de seus poderes, tinha medo do que podia fazer com eles. Ficava olhando na direção do céu enquanto me lembrava da pequena maegi que tinha salvo de sua mãe e companheiras. Acontecera em Qarth, alguns anos antes. Senti a mulher limpar o rosto na capa e ouvi sua voz novamente:

- Por que não se assustou quando lhe contei que havia visto que viria? Sabe que a magia com sangue é mal vista, e que muitos me odeiam por ter nascido assim. Por que não se afastou e lançou palavras de ódio contra minha existência? Como todos fazem ao saber desse fardo que carrego.

Tinha percebido minha distração, ou pelo menos entendido que era diferente eu não estar me afastando dela. Sua frase repetiu o quanto não gostava de seus poderes. Pelo menos esse novo assunto permitia que eu não mentisse tanto para Jehanne. Contei parcialmente a verdade, ainda olhando para os céus:

- Estive em Qarth, entregando uma mensagem ao meu senhor. Estava em uma estalagem próxima do Templo da Memória da cidade. Naquele lugar estavam hospedadas um grupo de maegis. Tinha ouvido apenas falar sobre elas, então estava curioso e, durante a noite, assim como vim te visitar, fui na direção do Templo para encontrá-las. Na época eu não sabia o quanto podiam ser perigosas. - Suspirei. De fato não sabia. O que eu fizera naquela época era loucura. - Antes que eu chegasse, porém, encontrei uma menina saindo correndo de lá. Perguntei a ela o que fazia. Após um tempo me disse que era uma maegi e estava fugindo do grupo. Era filha de uma das integrantes, e estavam utilizando o fato de estarem treinando-a para usar seu sangue com muita frequência, além de a assustarem com os rituais. A acolhi em minha estalagem por algum tempo, até que o grupo abandonasse a cidade. Ela me recompensou me permitindo três perguntas a respeito de meu futuro ao custo de algumas gotas de meu sangue, e então foi embora. - Olhei para a maegi que estava abraçando. E falei a verdade: - Sinceramente, ela não precisava me dar essa recompensa. A conhecê-la e me sentir bem por salvá-la já havia me feito mais feliz do que jamais havia sido.

Fechei os olhos, relembrando de Karma mais uma vez. Queria encontrá-la mais uma vez, para saber se estava bem, mas sabia que isso era praticamente impossível, considerando o tamanho do mundo. Sendo assim, apenas rezava aos meus deuses que ela estivesse bem, mesmo que meus deuses não fossem os dela.

- Por isso que não tive medo de você. Por isso não te acho louca. Por isso que te quero como minha amiga. - Terminei de falar e abri um sorriso sincero, abraçando-a mais um pouco, esperando como reagiria.

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 As palavras de Jonnos haviam penetrado o coração que havia em meu peito, mesmo após uma desesperada súplica ele me retirava toda e qualquer esperança de ao menos poder sonhar, eu sabia que já o havia feito, mas negou-se a mentir para mim mesmo sabendo que me ajudaria a não sofrer. Ainda abraçada nele eu me calo, permito que ele fale a vontade sem me pronunciar durante sua narrativa, mesmo que suas falas respondessem às minhas questões.

 Eu estava tremendo muito, ele me abraça depois de cessar suas histórias e explicações, eu estava chorando muito e tremia tanto que sentia dificuldades em me mover com precisão, mas queria sentir seu abraço por uma última vez antes que ele fosse embora. O abraço colocando o meu rosto próximo ao seu, eu estava com cada parte de meu corpo estremecida, teria de me despedir de quem eu queria ser amiga, de quem havia me dado uma noite agradável e divertida até certo ponto.

- Nunca esquecerei de você Jonnos, jamais, queria poder ir com você e te proteger de tudo e todos, mas não sou forte, sou meramente uma criança que serve à um homem que tem seus interesses como o mais importante, não poderia fazer nada para lhe ajudar. Me perdoe. -

As palavras eram ditas em meio à soluços de um choro incontrolável, mais uma vez ficava evidente o meu tremor, seria ele devido ao pranto, ao medo, devido a verdade dos fatos que tanto abalaram o meu ser? Eu não sabia dizer, mas era para mim uma sensação familiar, não queria que ele fosse sabendo que jamais voltaria para me ver, queria que ele se lembrasse de mim para sempre.

Um estalo em minha mente me fez assumir uma voz adulta, reconheci o tom maduro e bem desenvolvido em minha fala, uma versatilidade entre firmeza e sensualidade, de alguma forma eu reconhecia aquelas malícias enquanto dizia.

- Quero que se lembre de mim para sempre, quero que guarde consigo o que me fez sentir hoje, será para sempre o meu primeiro. Você saberá disso todas as vezes que alguém olhar para você, as pessoas não saberão, mas você sim, lembrará de mim até que seus deuses reclamem seus dias.-

 Dentro de minha consciência eu sabia o que ela fazia e não conseguia assumir novamente o meu controle, meu corpo se movia tocando seus lábios com os meus, eu não queria aquilo, eu queria que ela parasse me obrigar a fazer aquilo. Ela desce minha boca até a orelha direita de Jonnos, a beija e dá uma leve mordiscada, mas ela sorri e aquele sorriso me fez gritar dentro de mim. Ela morde mais uma vez o lóbulo de Jonnos mas desta vez com bastante força e o puxa, ela faz um ferimento rasgando um pequeno pedaço da carne e lambe a singela quantia de sangue que escorria, ela se afasta e me dá uma visão.

- Dennis Braund, um assassino, você e seu contratante tiveram medo de que minhas visões mostrassem um contrato de assassinato, seria algo que com certeza eu veria se provasse do sangue. Uma pena que todas suas mentiras, todos os seus cuidados tenham desabado, você se esqueceu que minha consciência é dividida e mesmo sendo esperto, ardiloso e precavido acabou falhando. Você se deixou lembrar daquelas mulheres ao conhecer minha menina, a minha pobre criança o tocou em locais que jamais deveriam ter sido explorados, isso abaixou sua guarda e o fez lutar consigo mesmo para não entregar sua missão aqui, mas ao brincar com o sentimentos da minha menina a feriu como não pensava ter feito. Graças a você lhe dou este presente Dennis Braund, vi o seu futuro, em agradecimento saiba o que lhe aguarda.-[/u]

Eu não queria que aquilo acontecesse de meus olhos sentia escorrer lágrimas pelo meu desespero, aquele jeito de falar, de pensar, o ar irônico e cruel daquela mulher me deixavam com medo, me faziam gritar dentro de sua mente para me deixar sair. Ali, dentro de sua consciência eu estava presa em um lugar negro com diferente tons avermelhados, eu via tudo o que de ruim ela havia guardado ao longo do que viu em minha trajetória, ela guardava tudo o que eu ignorava ou não percebia. A parte que eu escondi quando matei e provei do sangue pela primeira vez, ela estava agora no controle e eu temia aquilo, sinto algo quente me tocar enquanto estava presa, olho para meu corpo e ele estava coberto de sangue, era expeço e pegajoso como uma gosma, eu gritava desesperada pedindo a ajuda de Dennis enquanto ela gargalhava por me ver naquele estado.

- Vê essa lágrimas que escorrem por minha face meu cara assassino? É de sua amiga, ela vive dentro de minha mente agora, ela grita ao lembrar de todo sangue que derramou, e ela está apavorada ao ponto de acreditar que você a ajudaria. -

Ele ajudaria, eu tinha certeza de que ajudaria, ele já havia feito antes com outras que estavam em apuros. Eu precisava dele naquele momento, eu não queria estar presa na consciência daquela mulher, ela era má, cruel e gostava do sangue como as outras e eu não queria que ela estivesse mais no controle.

- Você receberá uma missão que não conseguirá negar, um assassinato que colorá sua vida em risco.E quando encontrar aquela que tanto buscou, lembrará deste dia, você derramará lágrimas ao sentir o calor de seu abraço, você sentirá na pele um medo que jamais sentiu. Lembre-se meu caro amigo, do que eu digo agora, para esta mulher você pedirá ajuda assim como minha criança pede a sua, assim como ela lhe implorou por uma mentira que a fizesse feliz. Este é o seu presente e também a sua sentença, neste dia você sentirá até mesmo em suas entranhas o pavor que minha pequena criança sente neste momento. Será lembrado do que aconteceu hoje, e verá que uma única mentira o teria poupado de tudo o que descobriu hoje. -

De modo repentino ela sorri de uma forma ameaçadora e começa a chorar terrivelmente assim como eu chorava dentro de sua mente, ela se senta abraçando os joelhos e grita com uma voz estridente.

- GUARDAS! GUARDAS! ME AJUDEM!-

Rapidamente os dois guardas que faziam a ronda em frente ao castelo e o guarda que estava nos portões chegam até o local e seguram o homem enquanto ela apontava o dedo para ele. Um deles questiona o que estava acontecendo.

- Ele, é mau, disse que não sou bonita, que não gosta de mim e que eu deveria arder em uma fogueira. Eu não sou má, eu não quero queimar, eu vou contar para o Lord Bryorth o que ele fez. -

- PELOS DEUSES! O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?-

Ela sorria de modo rápido e imperceptível, o Lord daquele castelo bradava com uma fúria que faria até mesmo os deuses estremecerem, ela finge se assustar e torna a chorar apontando para o homem repetindo o que havia dito aos guardas. Eu podia sentir que ela não desejava que ele fosse preso e nem mesmo morto, ela queria que ele vivesse para sentir ao que eu sentia, em sua mente ela me dizia.

" Acalme-se minha amada criança, ele te fez sofrer, te feriu e te fez sonhar para destruir o belo sonho que você imaginou, que você desejou. Sinta-se vingada por sua fiel protetora minha pequena e inocência menina, quando o momento chegar ele pagará pelo o que te fez. Por culpa de seu amiguinho eu precisei voltar, minha garotinha, por culpa dele precisei te colocar em meus doces aposentos, sabes que eu te deixei viver em meu lugar por que te amo minha pobre criança. Se desejas odiar a alguém, odeie quem me obrigou a te fazer chorar e sofrer, deseje à ele o que sentiu agora, diga a todos o que eu disse, e eles o deixarão ir. Se não se importa minha bela flor, está na hora de banhar-me assistindo essa peça."

 Foi neste instante que suspiro profundamente me sentindo outra vez em posse de minhas ações, começava a chorar aliviada e assustada, aquilo fez com que todos voltassem a atenção para mim enquanto eu me estirava no chão em profunda fossa. Uma vez mais Bryorth questionava aos brados o que estava acontecendo.

- Ele me magoou dizendo que deveria arder em uma fogueira por ser feia e que não gosta de mim.-

 Bryorth me levantava do chão pelos cabelos e me erguia até a altura de seu rosto me encarando diretamente nos olhos, eu via sua ira estampada em seu semblante, naquela hora ele deveria estar na cama se preparando para a caçada que faria junto de outros nobres. Era um evento importante onde os Lordes mostravam sua força, sua bravura e ganhavam muito respeito, ele tinha que estar descansado, para não perder tempo ele me joga sobre seus ombros me levando para dentro enquanto dizia.

- Botem este bastardo para fora de minhas terras agora mesmo, filho de uma puta me fez sair da  cama, eu deveria mandar que lhe arrancassem os ovos.-

 E assim eu era levada dali, vendo ele ser levado para fora, eu chorava por ter uma história tão bonita e tão desastrosa em minha primeira experiência de amizade. Eu esperava ao menos que ele não me odiasse por tudo aquilo, esperava que Dennis me perdoasse pelo o que minha adulta havia lhe causado. Eu me debato e me solto de Bryorth e corro até ele, o abraço forte pedindo o seu perdão várias vezes de forma que somente ele ouvisse, dizia que ele seria feliz, estava nas minhas visões, mas ela havia ocultado para matar suas esperanças. Os guardas me empurram e o arrastam para longe o mandando sair dali, ao voltarem trancam os portões e os arqueiros que estavam nas muralhas preparam suas flechas enquanto dão a ordem para ele ir. Bryorth estava em frente às portas do saguão me esperando, vou até ele sinto sua pesada mão me empurrar para dentro, atrás de nós dois servos batem as pesadas portas e as trancam, dali sigo para meus aposentos tentando me recuperar de tudo aquilo.

Habilidades Treinadas:

Observação Importante: As ações contra Dennis foram previamente combinadas, por esta razão foi dada sequência ao post sem aguardo de suas reações.

Percebi-a estremecer com o que falei. Senti o quanto estava sendo importante para Jehanne. Infelizmente para ela, tinha decidido se envolver com a pessoa errada. Eu era um assassino ambulante. Não poderia ficar todo o tempo que ela queria com ela. Estava soluçando enquanto chorava incontrolavelmente. Continuei a abraçá-la.

- Nunca esquecerei de você Jonnos, jamais, queria poder ir com você e te proteger de tudo e todos, mas não sou forte, sou meramente uma criança que serve à um homem que tem seus interesses como o mais importante, não poderia fazer nada para lhe ajudar. Me perdoe.

Suspirei, preparando-me para dizer que não precisava pedir perdão. Que entendia seu ponto de vista, que não daria para ser como gostaríamos. Mas acabou que ouvi a maegi falar novamente. E dessa vez seu tom era mais firme, mais sensual. Mais condizente com seu corpo:

- Quero que se lembre de mim para sempre, quero que guarde consigo o que me fez sentir hoje, será para sempre o meu primeiro. Você saberá disso todas as vezes que alguém olhar para você, as pessoas não saberão, mas você sim, lembrará de mim até que seus deuses reclamem seus dias.

Olhei para ela surpreendido, percebendo-a tocar nossos lábios. Os lábios eram macios e o beijo irresistível. Senti então sua boca se direcionar a minha orelha, me arrepiando com o beijo e a mordida. Começava a tentar entender que de fato era bipolar e que agora estava em uma personalidade oposta, maliciosa ao extremo. Mas senti uma mordida mais forte, seguida de um puxão, e soltei um gemido de dor, sabendo que assim meu sangue entrara em contato com os lábios dela. Se arrepia com a lambida, a vendo se afastar. Levei a capa ao ouvido, sentindo-o doer e tentando estocar o leve sangramento.

Sabia que isso não podia ter acontecido. Em contato com meu sangue, saberia quem eu era. Meu contrato estava em risco.

- Dennis Braund, um assassino, você e seu contratante tiveram medo de que minhas visões mostrassem um contrato de assassinato, seria algo que com certeza eu veria se provasse do sangue. Uma pena que todas suas mentiras, todos os seus cuidados tenham desabado, você se esqueceu que minha consciência é dividida e mesmo sendo esperto, ardiloso e precavido acabou falhando. Você se deixou lembrar daquelas mulheres ao conhecer minha menina, a minha pobre criança o tocou em locais que jamais deveriam ter sido explorados, isso abaixou sua guarda e o fez lutar consigo mesmo para não entregar sua missão aqui, mas ao brincar com o sentimentos da minha menina a feriu como não pensava ter feito. Graças a você lhe dou este presente Dennis Braund, vi o seu futuro, em agradecimento saiba o que lhe aguarda.

Ao mesmo tempo que falava aquilo, lágrimas escorriam por sua face. Fato esse que foi comentado por ela:

- Vê essa lágrimas que escorrem por minha face meu caro assassino? É de sua amiga, ela vive dentro de minha mente agora, ela grita ao lembrar de todo sangue que derramou, e ela está apavorada ao ponto de acreditar que você a ajudaria.

Suspirei com o que disse, abaixando meu rosto. O que eu tinha feito tinha um propósito. Não podia contar a Jehanne que simplesmente era um assassino que tinha sido contratado para espioná-la para que o contratante decidisse se mataria seu mestre. Tentava protegê-la da maldade do mundo com minhas mentiras. O tom de voz era ainda mais formal quando começa a falar:

- Você receberá uma missão que não conseguirá negar, um assassinato que colorá sua vida em risco.E quando encontrar aquela que tanto buscou, lembrará deste dia, você derramará lágrimas ao sentir o calor de seu abraço, você sentirá na pele um medo que jamais sentiu. Lembre-se meu caro amigo, do que eu digo agora, para esta mulher você pedirá ajuda assim como minha criança pede a sua, assim como ela lhe implorou por uma mentira que a fizesse feliz. Este é o seu presente e também a sua sentença, neste dia você sentirá até mesmo em suas entranhas o pavor que minha pequena criança sente neste momento. Será lembrado do que aconteceu hoje, e verá que uma única mentira o teria poupado de tudo o que descobriu hoje.

Vi seu sorriso ameaçador e suspirei, guardando aquelas palavras. Não daria tempo de refletir sobre isso agora. Precisava sair dali, agora. Mas a mulher a minha frente adiantou o serviço:

- GUARDAS! GUARDAS! ME AJUDEM! - Naquele momento deveria voltar a ser simplesmente o mensageiro. Deixei que me segurassem. - Ele, é mau, disse que não sou bonita, que não gosta de mim e que eu deveria arder em uma fogueira. Eu não sou má, eu não quero queimar, eu vou contar para o Lord Bryorth o que ele fez.

Observei o Lord se aproximar e suspirei, ainda de cabeça baixa. Não negaria, apenas aceitaria o que acontecesse. Com o que falara, Jehanne ainda assim de alguma forma me protegia. Não queria que eu fosse preso ou morto. Aquela versão má dela queria que eu vivesse sua visão de sangue. Logo a ordem de me levarem veio e caminhei junto com as mãos que me empurravam, sem olhar novamente para a maegi.

Até que senti seus braços me envolverem e vários pedidos de desculpas, na voz de criança, foram sussurrados somente para mim. Tentava me acalmar dizendo que seria feliz, que também vira isso na visão. Assenti para ela, lançando um único olhar de compreensão. A dupla personalidade da menina era um problema que ela deveria resolver.

Deixei o castelo, ouvindo as pesadas portas se fecharem. Caminhei na direção da estalagem em que estava hospedado, sentindo que o corte no lóbulo havia cicatrizado minimamente.

No dia seguinte informaria ao contratante que a menina era uma maegi, mas que era tão inofensiva que não precisaria tomar medidas drásticas quanto a ela. Tentava assim protegê-la de que eu fosse contratado para assassiná-la. Recebi o dinheiro e deixei o local.

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