A pena arranhava o pergaminho, a caligrafia impecável a macular o alvo do papel; a mensagem a comprovar a sua indubitável sede pelo regresso à glória Lannister. Em seus olhos, turvou o brilho da malevolência, os lábios róseos a formarem um estranho ângulo.  Cora não era volúvel, desde o despertar da mocidade, seus almejos tornaram-se perceptíveis, despertando a sede por certa grandeza, e bem sabia como triunfaria ao término da busca de tal. Bem provável que algumas de suas características transpassaram para os filhos, todavia, que notória era o egocentrismo que cada um herdava, em suas particulares demonstrações.
Com um aceno, o mensageiro desvencilhou-se de seu estado imutável, encontrava-se paralizado em frente a porta, as mãos juntas como que seladas num acordo solene.  O semblante inexpressivo e o queixo erguido como Cora exigia.  A Lady pendeu a cabeça numa inclinação, em tangível sagacidade.
— Vá para o bordel mais visitado, já sabes qual é, e diga que deseja “a prostituta de sempre”. — Instruía Cora. — Então serás levado à um aposento e já sabes o que deve fazer, suponho.  Certifique-se que o que contém neste pergaminho seja queimado ao término do acordo.  Caso alguém saiba o que ocorreu, ah, garanto que queimarei a vila onde mora a sua família e venderei toda as suas filhas como escravas sexuais… Elas serão usadas tanto, que, por fim, aprenderão a gostar.
O mensageiro assentiu com a cabeça, o ato que comumente exercia após as ameaças de Cora.  Ele aprendera a acreditar no que ela proferia, todavia, que em um dos casos, este perdera a língua.
Cora Lannister era uma mulher peculiar, de fato, principalmente quando se tratava da segurança dos filhos ou de si mesma.  

Os lábios de Cora entreabriram-se rapidamente — a sagacidade imutável em seu semblante—, logo punham-se a fechar, emudecidos.  O indicador punha-se nestes, róseos e macios. Apesar da velhice, os vestígios da juventude ainda eram perceptíveis, a sua outrora beleza que encantava a muitos rapazes e despertava neles a libertinagem que almejam conseguir em meio a seus cortejos.
As vezes, fitava em análise o próprio reflexo, notando o resquício do que fora um dia.  A indubitável veracidade que o tempo sempre haveria de surgir, impetuoso, como um furtivo ladrão que um dia lhe extorque os bens preciosos.  A entidade no vidro refletor, era apenas uma imagem dispersa, que a fazia recordar dos graciosos tempos de mocidade.
A lady observara os jovens, isentos de inocência, imaginando-os num longínquo futuro.  Mal sabia eles que o tempo também lhes buscariam.  
Logo, a sua tez fez-se delineada de diversas linhas, assim que as sobrancelhas arquearam-se simetricamente.  Um pigarreio tornou-se audível e mantivera a postura ainda mais ereta, recaindo um olhar severo perante o filho.
— Perdão? O que disse, meu menino? — O comentário de Sienna lhe fez desatar a rir; um riso contido e elegante, como a polidez transpassada por sua própria mãe exigia. — Não fale isto em voz alta, minha jovem.  Para quê propagar a humilhação de ser mais uma das garotas que têm que aguentar a infidelidade do futuro marido?  
Cora acenara para que o mensageiro se retirasse, deixando-os sozinhos.

Desde os primórdios de sua existência, a tradição de preparamento para a mocidade e os deveres nada longínquos, fizeram Cora ser submetida à diversos ensinamentos; de postura à polidez, da forma como se portar em socializações e até mesmo a imprescindível libertinagem, naturalmente que já houvera os tempos em que a lascívia de seus lábios era amiga intíma da imoralidade Entretanto, dentre todos estes ensinamentos, nunca fora-lhe partilhado o conceito da paciência. Era algo que a lady Lannister desconhecia e que, em iminência, viria a notar que dificilmente aprenderia.
Um tênue sorriso surgira nos lábios de Cora após a provocação da jovem; um sorriso ambíguo que mascarava a essência de suas palavras: — Ah, sim, tenho grandes conhecimentos sobre os mais diversos assuntos, criança Sienna. Um destes é a arte de envenenar, mas suponho que não iria gostar de saber o quão bem domino esta prática, não é mesmo?
A atenção de Cora não tardou a recair sobre Berthram.
— Dizem que são esposa de sal. Para mim, é apenas uma forma delicada de dizer puta. — Suas órbitas oculares reviraram-se para cima. — Sim, homens desagradáveis que não conseguem seduzir mulheres por conta própria costumam pagar para possuir outras. O senhor seu pai encaixa-se perfeitamente nesta descrição, meu Berthram. Agora, paremos com esta discórdia estúpida, precisamos conversar.
Cora resmungou um “sigam-me” e inicou a caminhada pelo corredor, logo a escutar os passos de Berthram e Sienna a lhe acompanhar.