[RP FECHADA] Made of sun

A primeira luz da manhã de Dorne iluminou uma cama vazia. Eu, com o corpo cansado de uma festa passada, estava de pé na sacada dos meus aposentos, sentindo o vento quente tocar minha pele parcialmente coberta por um tecido fino. Um garboso café da manhã havia sido servido ali, mas permanecia quase intocado. Me virei subitamente para fitar a porta ao ouvir a voz de Maeve, seguida de uma risada alta. Por sorte, minha irmã não entrou, e sua presença no corredor foi se desvaindo aos poucos até que a única coisa que eu ouvia era a cantiga dos pássaros lá fora.

Parte de mim se sentia culpada por evitar minha própria irmã, mas ao mesmo tempo, a parte mais inteligente me lembrava o porquê disso. Houve um tempo em que nossos desentendimentos me deixavam febril, e na intenção de ter paz ao invés de razão, era necessário que muitas paredes se erguessem entre nós. Voltei ao interior do quarto e deixei que minha roupa caísse aos meus pés sem muita preocupação. Meus trajes de montaria descansavam recém lavados sobre a cama, e sem muita demora, o fiz deslizar por minha pele bronzeada.

Com meu tio recluso em seus pensamentos nossas audiências haviam sido adiadas. O ambiente não era dos mais calmos, mas se as coisas permanecessem inalteradas, eu teria mais tempo livre do que eu gostaria. Praguejei baixinho apertando um nó em minha bota, e quase imediatamente ouvi uma batida leve em minha porta. – Senhora, estão todos prontos. – Informou a voz cansada do criado. Permaneci em silêncio enquanto terminava de me aprontar, tomando o cuidado de não esquecer meus braceletes. – Senhora? – Tornou chamar. Abri a porta sem prévio aviso, por pouco não fazendo com que o homem idoso caísse diante de mim. – Obrigada, Poran. – Digo, passando por ele com certa pressa. – Se o príncipe Tristanye precisar de mim, poderão me encontrar na estrada costeira. -   Grito sem olhar para trás.

Tinha algo relativamente novo em mente. Em uma das muitas saídas laterais do palácio três criados me esperavam com um cavalo selado. Era um espécime majestoso, sem a menor dúvida. Pertencia a uma dúzia de animais os quais haviam sido dados como presente ao príncipe. Era negro e manso, segundo informações confiáveis. – Tem certeza, senhora? – Perguntou um dos homens, erguendo a sobrancelha com preocupação. Meu dom para equitação era precário, e era triste ler o temor nos olhos dos criados, certos de que eu me machucaria. – Claro que sim. É um conceito simples. – Comecei, me adiantando e agarrando a sela com força. Com um impulso bem calculado, me ergui e passei uma das pernas por cima do animal, conquistando o primeiro nível: me sentar. – Viu só? É um animal tão calmo quanto eu, Descal – Afirmo, ganhando um aceno de cabeça do criado.

Descal e outro jovem se uniram à minha pequena exploração. Quando o animal deu suas primeiras trotadas eu temi verdadeiramente por minha vida. Respirei fundo e segurei as rédeas com mais firmeza, fazendo-o acompanhar o ritmo do cavalo de Descal, tentando não parecer nervosa. Meu pai adorava dizer que parte do poder de um Martell está em sua aparência, e desde que eu não parecesse amedrontada, eu não seria considerada covarde. Seguimos entre poucas palavras pela larga estrada que ligava a fortaleza aos Jardins. Os criados se entretinha conversando entre si enquanto eu tomava coragem e conduzia o cavalo à frente, um pouco mais acelerada.

Logo me acostumei com a marcha, e me arrisquei a fazer um carinho na bem cuidada crina do animal. – Vou precisar lhe dar um nome, rapaz. – Sussurrei para ele. Era um animal quieto, que mal parecia cansado, mesmo depois de vinte minutos de cavalgada. Descal tomou um lugar ao meu lado quando percebemos uma pequena aglomeração vindo na direção contrária. O homem se ofereceu para tomar as rédeas, mas talvez por vaidade, disse a ele que não haveria problema. Então, como se por capricho do destino, algo parecido com uma corrente de sinos começou a bater e encher o vento com um barulho irritante. Aquilo fui suficiente para fazer com que meu cavalo parasse. Certa de que nada mais aconteceria, não me apavorei, mas o pior estava por vir. O animal de abaixou sobre as patas dianteiras antes de ficar totalmente descontrolado. Perdi o ar em meus pulmões e quis ter aprendido a orar para clamar a algum deus.

Uma confusão de poeira se formou diante de minhas vistas e fui finalmente arremessada ao chão pelo animal, que sai em disparada em direção a costa. Um gosto amargo me veio a boca e senti todo o lado esquerdo de meu corpo arder. Estava deitada sobre um de meus braços, sentia o sangue começar a escorrer e uma dor alucinante tomar conta de mim. Com as vistas ainda turvas, pude ouvir a voz de Descal, o criado, gritar com urgência. – Precisamos de ajuda aqui! – e depois se abaixar próximo a mim e dizer em um tom mais tranquilo - Tão calmo quanto a senhora, heim? - . Não fosse pela dor, eu teria rido.

HABILIDADE TREINADA:

DORNE | FLASHBACK | MANHÃ |  ♥