[RP] Underwater

por **Nanien Mormont** Sáb Abr 17, 2021 12:50 pm

Underwater

RP com iniciação da Nanien.

por **Nanien Mormont** Dom Abr 18, 2021 1:52 pm

surface

A

pesar de verão, fazia pouquíssimo sol. Naquela semana em específico nenhuma neve havia caído das nuvens, o que colaborava muito para a colheita e a estabilização dos mantimentos do forte. Graças a isso, muitos dos aldeões acordavam sorrindo, garantidos de que o dia de amanhã lhes brilharia antes mesmo do sol nascer, e gostava disso neles, pois também pensava em si e na família.

Galopava em Albien, calma, carregando uma trouxinha de roupa suficiente para o propósito e pesos em pedra bruta. A égua recebera comida extra antes de sair, pois não era garantia de receber de novo até voltarem. Como medida de segurança, Nanien também tomara um café reforçado e até mesmo antes do horário, pois saíra assim que o topo das árvores fora iluminado, garantindo ser fiel ao próprio treinamento.

Levara mais ou menos 20 minutos até chegarem na última parte de terra e mato que era banhada pela Baía de Gelo. Apesar da parte plana, era de seu conhecimento de que a vista também engana os homens, e um piso em falso naquelas águas poderia significar a morte certa, ou por afogamento ou congelamento.

...Seria mesmo?

—— Dizem que a temperatura da noite influencia na temperatura da água durante o dia, Albi. —— Conversava, sem medo que as árvores escutassem. Segredos da floresta há muito tinham sido desmistificados por ela em sua infância, onde passara a maior parte do tempo se escondendo da morte, insistente em levá-la. —— Acho que podemos parar aqui. ——

Apesar de corrente, a água não fazia barulho. Na direção contrária do que chamavam de "Nascente dos Peixes" havia somente a flora local, a taiga, que estranhamente não servia de casa para muitos animais senão pássaros. Não os culpava, pois também tivera que aprender a viver no frio, e sobre isso não existia nenhum remorso. Desmontando do animal com cuidado, a Ursa juntara sua testa com o rosto da Albien, fechando os olhos por alguns segundos - como que agradecendo sua companhia - e assim a outra também o fizera, como se entendessem a ligação entre ambas. A ganhara quando assumira o posto de espada juramentada de Dorian, logo no início de sua vida adulta, e permaneciam juntas até então.

Com esforço, retirara das bolsas as pedras, as cordas já com nós e as roupas. Empilhara tudo de modo organizado, paciente, como se não tivesse nenhuma pressa de começar. Inspirava com força pelo nariz e soltava pela boca. Exercícios de respiração sempre lhe ajudavam a manter o controle.

Retirou os sapatos para andar sobre as pequenas pedrinhas que cercavam o rio, dobrando as calças para um pouco até abaixo do joelho. Aos poucos, os pés começavam a ficar submersos, afundando cada vez mais rápido, confirmando seus estudos anteriores. Aquele lugar pregava peças deliciosas para desconhecidos.

Voltou então os passos.

De dentro de sua bolsa pessoal, também, tirara um sino, este que amarrara na sela faria muito barulho caso ela chegasse correndo em algum lugar. —— Chame-os se eu não voltar. —— Pediu, confiando na companheira. Há muito ela não precisava ser presa para manter a calma, seu treinamento era contínuo e eficaz. Às vezes, confiava mais em Albien do que em muitos de seus homens.

Suspirando fundo, ela foi se despindo com certo pesar. A parte de cima, depois a parte de baixo, até ficar somente de roupa íntima. O vento nortenho acariciou suas curvas, a pele clara e abençoada pelas mãos do marido, fez mexer a franja (pois o cabelo estava preso num coque alto) e arrepiou-lhe a espinha. E só então tirou a faixa grossa de pano que cobria os seios e a calcinha fina que escondia os glúteos, encontrando-se totalmente nua. Nanien certamente era formosa, uma mulher desenvolvida, não haviam excessos e nem faltas em qualquer que fosse a parte do corpo. Assim, livre, também, era notável que sangue corria mais rápido em detrimento de calor, tentando suprir essa falta. Logo, os seios ficavam mais vermelhos e acesos, as veias começaram a ficar mais evidentes, as unhas aos poucos passavam de rosa para roxo. E novamente andou em direção à agua.

Notou, entretanto, de que o movimento a faria seguir o fluxo ao invés de mantê-la submersa. Apesar de consciente por trazer as pedras, esse era o último recurso que gostaria de ter usado.

Não eram gigantes, mas o suficiente para não se deixarem levar. O esforço de carrega-las era exatamente para esse propósito. Se fluísse caminho junto da água, poderia encontrar-se perdida no meio do mar em poucas horas, senão sem vida, lá no fundo. O intuito não era esse.

Amarrou os nós ao redor delas, apoiando-as no chão. Em seguida, com a outra ponta da corda, fez um nó em seu próprio calcanhar, que também segurava uma bolsa de couro, que servia de proteção para uma de suas adagas. Caso não conseguisse se soltar, era só cortar a corda.

Segurando o material nos braços, ela caminhou até onde era seguro. A pedra gelada tocando o busto parecia gritar que era uma péssima ideia, mas precisava daquilo. Precisava se manter em dia, em forma. As noites estavam ficando mais longas, as ameaças começavam a se aproximar pouco a pouco e ela tinha total consciência disso. Viva ela conseguiria manter todos os outros vivos.

Contou até três em voz alta e jogou a pedra o mais longe que pôde e a viu afundar. Antes que fosse puxada com agressividade, ela correu atrás da corda, segurou a respiração e pulou atrás, sentindo o corpo sendo arrastado profundidade abaixo. O coque se desfez com rapidez e em poucos segundos ela estava submersa. A manhã começava a brilhar - o que poucos consideravam possível no Norte - e aos poucos as dúvidas de onde estava Nanien começavam a burburinhar.

Sentindo a pressão e a força da água contra si, a Ursa nadou até a pedra, posicionando o corpo deitado de lado, como se estivesse dormindo, mas os olhos encararam a imensidão da superfície lá em cima.

DFRabelo

por **Nanien Mormont** Qua Abr 21, 2021 5:31 pm

drowning

O

s raios de sol batiam em seu rosto submerso. Nos primeiros segundos, até aguentava o suficiente, fitando o movimento da água a transpor acima do corpo. Mas não durava muito. Logo que a confiança passava, sentia-se desesperada para voltar e respirar. O ar dos pulmões há muito haviam acabado e ela tinha certeza de já ter desmaiado umas duas vezes no mínimo. A sensação era sufocante. O natural seria fugir daquilo, voltar para superfície. Mas os pesos presos aos pés a impediam disso. Como resultado, começava a debater o corpo, fazendo força para cima, uma força que seu corpo jamais teria. A água então começava a se mexer, indicando que algo não estava indo como planejado... pela terceira vez em menos de dez minutos.

Apesar de ter passado sua infância quase que inteira aos cuidados de Mianna, pouco conhecia sobre ela. Era impossível dizer se ela estava feliz ou nervosa, contente ou não. Ela tinha sempre o mesmo semblante, o mesmo tom de voz de todos os dias - senão pelas noites em que via Nanien toda roxa e sangrando, voltando de mais um dia de sobrevivência, e a acolhia com gentileza, mas sabe-se lá que tipo.

Entretanto, Mianna também não costumava sujar as mãos - não na frente dela. Por isso, junto delas, outra menina muito mais velha que Nanien se encontrava ao dispor da mulher, que a mandara buscar a menor de debaixo d'água, mas não soltando os pesos de seus pés, e sim segurando-os para que ela pudesse nadar até lá em cima. O corpo nu de uma criança abaixo do peso a se esforçar.

—— Eu não consigo, eu não consigo, você vai me matar... —— Pelo rosto molhado, não era possível saber se estava chorando, mas a tosse e a voz falhada indicavam que não estava bem.

—— Você vai se matar se continuar se metendo em encrencas todos os dias. Eu estou te ensinando a sobreviver, Nanien. —— A resposta era calma e direta. Sem preocupações com o que acontecia ao redor, a feiticeira (pois a criança tinha certeza de que era uma) cruzava as pernas de modo elegante e misturava ervas num pote esquisito. Com desdém, Nanien a olhava com raiva. Sentia-se inútil. Sentia-se descartável. Queria ter pais, uma vida, uma chance. Logo o choro se tornou visível, mas nenhum som saiu da menina. Até quando passaria por aquele tipo de situação? —— Eu não sou sua inimiga. Tenho cuidado de você com todo o carinho do mundo. Mas o mundo é muito mais do que roubar e correr, Nanien. Você já sabe muitas coisas, mas muitas delas necessitam que você esteja viva para efetuá-las. E se acabar em águas desconhecidas num ataque, ou ser jogada em alto mar? ——

Um silêncio perdurou por alguns eternos segundos. Ela até entendeu, mas não fazia sentido continuar dado cansaço físico e mental.

—— Por favor. Eu não quero continuar mais hoje... —— E esse era o rogo desesperado de uma alma cansada, que suplicava clemência pelos olhos vermelhos e a voz rouca.

—— Você ainda não tentou o suficiente. Ainda não tentou seu máximo. Eu vejo muito em você, criança, Mianna dizia num tom baixo, de quem entende o sofrimento alheio... mas só vai conseguir isso quando não precisar mais correr da tentativa. ——

E um balanço de cabeça para a alheia presente fora o suficiente para que ela entendesse a ordem e jogasse os pesos de volta para baixo da água.

Nanien gritou em desespero, sem ao menos guardar ar para ser novamente afogada por alguns segundos. Conforme o corpo era puxado, ela tentava o máximo debater os pés e as mãos, mas tudo o que sobrava era a expressão de desesperança a fitar a superfície novamente.

DFRabelo

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