RP Fechada - More than a squire, a friend !

O barulho contínuo da escova da vassoura no chão era hipnotizante. Sem perceber, eu mantinha um ritmo que, em minha cabeça, era como uma melodia calma e prazerosa, enquanto percorria a choupana varrendo-a antes de Sir Hyperion chegar. Gostava de manter minha casa arrumada, ajudava a concentrar a mente, pelo menos foi o que papai ensinou.

Abri a porta do casebre, deixando mais luz entrar e varri a poeira para fora, repousando a vassoura ao lado da porta e voltando para dentro para me preparar. A batida na porta veio quando eu embainhava a espada que acabara de conferir. Eu ainda preferia adagas, era com elas que eu tinha mais afinidade, mas precisava treinar com a espada se queria honrar o nome de Sir Hyperion.

Corri para a entrada mesmo com o peso da espada e a abri, olhando para cima, encontrando o rosto do cavaleiro. — Boa tarde, senhor. — Cumprimento, fazendo uma leve reverência. — Como vai? — Atrevo-me a perguntar. A verdade era que mesmo após quase dois anos de treino com Sir Hyperion, eu ainda sentia um pouco de vergonha estando em sua presença imponente.

Fechei os olhos, sorrindo e ficando levemente ruborizado quando Sor Hyperion mexe em meus cabelos, era um dos meus pontos fracos, mas logo deixei isso de lado e assumi uma posição mais confiante. — Sim, senhor. — Olho para dentro da choupana, feliz com o resultado da limpeza. — Uma casa limpa é sinal de uma mente limpa, senhor. — Dei passagem para que ele olhasse pela casa, eu tinha feito um bom serviço, estava orgulhoso disso.

Partimos para a campina, onde treinaríamos e Sor Hyperion me instrui a tentar acertar seu escudo com minha espada. Desembainhei-a e engoli em seco ao ver o símbolo reluzente da Casa Targaryen e a espada empunhada do meu mentor. Respirei fundo, sentindo o peso da espada, balanceando-o com o peso de meu corpo de forma que ela ficasse à minha frente na transversal, cobrindo meu tórax. Respirei fundo, deixando o pé direito na frente do corpo e usando o esquerdo como base, observando o Sor. Passei um pé à frente do outro em um movimento rápido, com a espada empunhada na mão direita, tentando acertar um golpe transversal de cima abaixo, da direita para a esquerda e repetindo o movimento com o pé oposto, alternando o movimento do braço para voltar à posição original. O terceiro passo, acompanhado de um movimento circular me meia-lua, desenhando um arco, terminando em um ataque que viria de baixo para cima, partindo um pouco acima do estômago.

Afastando-me alguns passos, volto correndo, com a lâmina da espada para baixo, atrás de meu corpo e realizando um giro para a esquerda, de onde eu desferiria um golpe quando terminasse de girar, porém, antes de completar o movimento, enrosquei um pé no outro e perdi o controle, quase caindo. Tropecei alguns passos para frente até finalmente cair, usando as mãos para amortecer a queda. Por pouco a lâmina da espada não corta o braço oposto.

— Estou bem, estou bem! — Avisei ao cavaleiro antes que ele se alarmasse e viesse em meu auxílio. Levante e sorri para ele, ciente de que estava sujando o rosto ao passar a mão nele para coçar o nariz. — Preciso treinar mais esse giro. Vou tentar de novo. — Anunciei, tomando posição novamente.

Dei o impulso inicial, levando a espada para trás do corpo novamente, correndo até ter distância o bastante para desferir o golpe e girei no calcanhar esquerdo, levantando o braço para deixar a lâmina na altura do peito e terminei de girar, tentando acertar o escudo com o símbolo de dragão uma vez mais em um único golpe reto.

Terminei o giro um pouco ofegante. Não era tão fácil assim girar com a espada empunhada. Ela era pesada e eu precisava constantemente balancear meu peso com o dela para não acabar perdendo o equilíbrio e cair como havia acontecido antes, ou pior... Dessa vez regulei o peso da espada para que se movesse junto do meu corpo na intenção de dar um impulso maior e funcionara, deveria me lembrar disso nas próximas vezes.

— Fui melhor, senhor? — Pergunto ingenuamente. Gostaria de ouvir sua resposta antes do próximo movimento.

Afastei-me novamente e, dessa vez, mantive a espada em uma posição horizontal, apontada para o peito de Sor Hyperion. O antebraço esquerdo por cima do cabo e corri para atacar. Era um golpe arriscado e eu tentaria a sorte. Sabia que provavelmente não iria conseguir acertar o escudo dessa forma, seria muito fácil de meu mentor se defender, bloquear ou se esquivar do golpe, então quando me aproximasse o bastante, tentaria usar o elemento surpresa, girando a espada em um arco para acertá-lo com um movimento transversal.

Já estava cansando àquela altura, a respiração ofegante e o peso da espada ficava grande demais para segurá-la com a mão de ataque. Olhei para o cavaleiro, notando que ele também parecia um pouco cansado. Como não percebi antes? Eu devia ser um péssimo escudeiro se nem percebia que o cavaleiro cujo havia me ensinado tal cargo estava cansado.

— Pe... perdão, senhor. Gostaria de algo para beber? Precisa descansar? Posso continuar o treinamento sozinho. O senhor deve ter passado o dia treinando com o resto da guarda real, não?

Apoiando-me na espada, usei o outro braço para limpar o suor da testa, ciente de que estava sujando o rosto mais do que já havia sujado da última vez. Não me importava, no entanto. Meu mentor havia elogiado no trabalho e, apesar do cansaço, eu sorria alegremente para mim mesmo, olhando para a terra. Eu estava progredindo, era o que Sor Hype dizia. Eu acreditava nele.

Sabia que devia minha vida a ele, então fazia de tudo para compensar por isso. Era o que me incentivava a continuar treinando e lhe dando orgulho. Isso e minha família. Eu iria fazer jus a ela.

— Bem, não fiz muita coisa útil. Caminhei um pouco, procurando algo útil para fazer remédios e temperos naturais, treinei um pouco o balanço e equilíbrio e preparei alguns brownies. — Contei, enquanto entrávamos e eu trazia uma cadeia para perto do cavaleiro.

A choupana era simples, modesta. Servia bem para mim. Uma saleta com uma pequena mesa redonda onde eu fazia minhas refeições perto da lareira, um armário onde eu guardava copos, canecos, tigelas, bandejas e panelas e o único cômodo separado era meu quarto.

Logo tratei de pegar a maior caneca que tinha e um copo simples para nos servir algo para beber. Tirei o pano da bandeja com os brownies e fui até a lareira que queimava um fogo baixo, quase apagando. O bule estava lá.

— Perdão, senhor. Não tenho nenhuma bebida forte. Mas preparei um chá. Tenho água se preferir algo mais fresco. — Deixei o bule sobre a mesa e servi a bandeja com os brownies ao homem.

Apesar de estar contente com o treino algo me preocupava. Eu tentava não pensar muito nisso, principalmente perto do meu mentor, mas era quase impossível com ele sustentando o símbolo de sua casa em seu peito. O grande dragão vermelho de três cabeças. Durante esses últimos anos, os Targaryen significavam proteção e uma dívida que eu honraria, mas agora era também um lembrete e um símbolo de medo.

Enquanto eu preparava as coisas, tentava não pensar naquilo que não saia de minha mente. Quanto mais eu resistia àqueles pensamentos, mais ele me assombravam, principalmente sabendo que não teria como eu escapar desse destino. Respirei fundo, sorrindo para mim mesmo e bebericando um pouco de meu chá, contente que Sor Hype não se importava em beber chá.

Eu sabia que isso de nada adiantaria, então tentei mudar meus pensamentos. Observei Sor Hype. Era mais velho que eu, obviamente, mas ainda era jovem e forte. Esperava um dia ser como ele, poder defender os inocentes e ajudar a quem precisa da forma com que ele havia me ajudado. Eu estava disposto a isso, iria dar orgulho ao meu senhor e à minha família. Sabia que ele perguntaria. Eu não ia mentir para ele.

— É tudo que se passa, milord. Eu temo pelo senhor e pelos outros. Temo por mim também. Não gosto da ideia de estarmos indo para uma guerra. E isso me traz lembranças de minha família...

Era muito bom ter Sor Hype por perto, afinal, ele era o único que realmente me escutava e sabia o que dizer. Eu estava feliz por poder ser seu escudeiro e, mesmo com a guerra eminente, ele conseguia me acalmar com suas palavras. Eu sabia que podia confiar nele, era um Targaryen, afinal. Eles eram os verdadeiros herdeiros do trono. Meu mentor me garantia que nada de ruim nos aconteceria e, enquanto eu tomava um pouco de chá, fechei os olhos, fazendo uma pequena prece para Os Sete, acreditando um pouco mais em meu Lord.

— Acredito em você, milord. Eu sei que vai me proteger e eu vou estar lá pra te ajudar. Vou te deixar orgulhoso, eu prometo! — Garanti, determinado. Eu iria deixar Sor Hype orgulhoso de mim, seria o melhor escudeiro que ele poderia ter. Logo em seguida, peguei um brownie e dei uma grande mordida, enchendo a boca. Parecia muito arrogante de mim comer com tanta gula algo que eu mesmo havia cozinhado, mas eu adorava brownies e eles eram extremamente difíceis de se fazer.

Balançando as pernas na cadeira e tomando um gole de chá, sorri para meu mentor e não demorou muito para que ele decidisse que precisava voltar. Abracei-o fortemente, afundando minha cabeça em seu abraço. — Obrigado. — Agradeci, não só por hoje, mas por tudo que ele fez e ainda fazia por mim.

Sozinho novamente, arrumei a cozinha e coloquei mais fogo na lareira para que queimasse durante a noite. Eu ainda tinha algumas horas antes de finalmente ir dormir, então poderia aproveitar um pouco mais do meu chá.