[RP fechada] The Bear and the Crow

Melkor.

Melkor... esse nome ainda me pertencia? Parece que eu caminho por essas paredes há tanto tempo, como se eu fizesse parte de algo infindo, porém os resquícios de convicções outrora primordiais, hoje eram irrelevantes. Ela me mostrou a insignificância do homem, a única convicção que eu tenho é as dela. Não que eu estivesse andando contra meus ideais, mas não pensei que chegaria tão longe para mostrar um ponto. Me pegava em devaneios muitas vezes nesses últimos meses, era como se algo sobre as minhas costas me espremesse, porém eu ainda tinha que parecer apresentável, tanto para os patrulheiros que ainda não estavam completamente contemplativos, como também eu carecia de lucidez para com os Lordes que eu tinha de lidar quando estes batiam em minha morada para me conhecer, alegando estarem surpresos com a morte de Anakin Lannister. Pra ser sincero, eu não me lembro como coloquei um fim na vida daquele homem, o tempo em Castelo Negro me fizera esquecer o rosto do individuo, porém a morte dele foi necessária, isso é incontestável. -Senhor! Lorde Mormont se aproxima dos portões. - O intendente irrompeu para dentro da sala, encerrando meus devaneios e desvencilhando palavras curtas, porém que soavam desesperadas. -Não se preocupe, eu irei até ele. - Aquele intendente era devoto a minha causa, realmente ele era um dos merecedores. O dom da necromancia ainda me era útil, mesmo eu não precisando mais dele para que os Deuses Antigos pudessem ouvir meu clamor.

Antes de sair da Torre do Senhor Comandante, fiz questão de olhar no espelho, fazia tanto tempo que eu não o fazia que pensei ter esquecido como era meu rosto. Meus cabelos castanhos estavam se tornando grisalhos, porém minha face transmitia um aspecto jovem assustador. Se meus olhos fossem violetas, eu claramente seria confundido com um Targaryen. Trajava um rico veludo negro, com grandes botas de couro e um cinto largo com fivela de prata. Enquanto descia a torre, vesti umas grossas luvas negras e ajeitei um pesado manto de peles coberto por penas de corvos brancos e negros. A capa negra fixada ao manto nos ombros, dançava com o vento gélido da Muralha, fazendo com que a figura no centro parecesse ganhar vida. O corvo branco com uma coroa de inverno era o símbolo adotado por mim, e seus vários olhos sobre seu corpo vigiavam minhas costas.

Quando dei o primeiro passo no pátio, o treinamento se encerrou e todos corvos voltaram para a toca. Eu não queria mostrar como transformei os inúteis da Patrulha da Noite em exímios soldados, eu preferia que eles ainda parecessem intendentes varredores de chão, era isso que o Lorde Mormont veria caso quisesse tomar um cerveja. Bom, ele também veria os olhares desesperados de corvos que necessitavam de um corretivo, como também receberia olhares severos ou enigmáticos. Eu deixaria o Lorde em casa.

O portão era aberto pelos vigias, então pude contemplar as cinco silhuetas que deram forma a um grupo curioso. Meu instinto nunca estivera tão explícito para mim, foi difícil me segurar, porém agarrei o pomo das duas espadas presas na cintura e me contive. Eu não precisava me controlar em um encontro com a vida selvagem do outro lado da muralha... era incrivelmente fácil eliminar um ser que exala vida por todos os poros, me parecendo tão certo e fundamental que o cheiro dos cinco me fez tremelicar o pescoço, instigado. -Lorde Mormont, a que devo a honra dessa visita? - Mexi o dedo indicador e os portões se fecharam, então realizei um breve aceno com a cabeça disfarçado de reverência. Analisei seu grupo e esperei a resposta de minha pergunta, esta que soaria grosseira, mostrando como eu menosprezava sua presença em minha morada. Meus olhos semicerrados eram pretensiosos para com ele e sua comitiva armada e de caras fechadas. Eram mais um dos Lordes presunçosos em afirmar que eu matei Anakin Lannister... não que estivessem errados.

Melkor.

O sorriso me fez perceber as intenções do Urso, como se eu descodificasse seu olhar e presenciasse toda sua vida em milésimos. Ele era um bom homem, porém bons homens ainda são humanos. Bom, eu ainda não tinha o direito e nem a autoridade divina para julgá-lo, portanto eu poderia o receber como um igual, mesmo a repulsa pela pestilência sendo grande. As palavras do homem eram envolventes, o que me fez ser mais amistoso. -Eu agradeço as palavras, é gratificante ouvi-las com um tom verdadeiro. Infelizmente tenho que me desculpar, mesmo com quatro castelos guarnecidos os selvagens conseguiram se tornar um problema novamente. Fiquei sabendo sobre o ataque em sua ilha, peço desculpas pelo ocorrido. - Indolentemente eu o cumprimentei, deixando transparecer um semblante de cruel satisfação. Soltei a mão quente de Dorian e ergui a minha, flexionando os dedos com uma expressão arrebatada e exultante, como se sugasse algo do ar. -Os selvagens não deveriam mais ser um problema para a Patrulha da Noite, não todos, afinal, apenas lidávamos com as tribos mais primitivas, porém, aparentemente essa nova geração é tão bárbara e tão má quanto a outra geração. Acredite, os antigos selvagens eram bem mais sensatos. - Enquanto eu falava, esperava que Dorian acompanhasse meus passos pelo pátio de Castelo Negro. -Eles são mais persuasivos e inteligentes, porém muito mais malignos. Infelizmente para eles, encontraram um Senhor Comandante tão implacável quanto. - Retomei minha expressão ameaçadora e farejei, dilatando as narinas como um lobo, lembrando muito Tristan Stark quando estava com raiva. Não que eu não pudesse controlar minha expressão, mas eu estava acostumado a manter a cara fechada e, talvez tivesse farejado algo do outro lado do portão.

-Senhor Comandante, o grupo de Brynden finalmente chegou. Ele está acompanhado de três selvagens e... - O intendente engasgou enquanto falava, tentando não demonstrar sua preocupação com o que ia dizer. -Parece que dez homens morreram... Brynden está acompanhado de apenas cinco recrutas. - Como eu havia pressentido... O grupo de recrutas comandados por Brynden tinha partido já fazia muito tempo, o prazo para retorno tinha atrasado mais que o suficiente para ele não ter medo de voltar à Castelo Negro. Pelo menos não voltara com as mãos vazias. -Mande abrir o portão. - O berrante soou uma única vez, significava que patrulheiros adentravam o forte. Eu tinha trabalho para fazer e não podia deixá-los para dar atenção ao Mormont, mas provavelmente ele não iria ligar para minha desconsideração, afinal, ele estava ali para saber como eu trabalhava.

-Bem-vindos, recrutas. — Eu disse em voz baixa. -Vinte e três dias... Vinte e três dias desde que nos encontramos pela última vez. Contudo, vocês voltaram... Então continuamos unidos sob o Grande Outro! Ou será que não? - Os integrantes da Patrulha não podiam ficar mais de vinte dias longe de um dos quatro castelos, essa era uma ordem crucial. Mas entenda, eu não iria torturar os pobres homens só por alguns dias de atraso, eles também falharam em sua missão, mesmo tendo capturado os três líderes dos clãs que eu encomendei. Muitos recrutas morreram e isso era inadmissível, ainda mais para Brynden um patrulheiro experiente. Dorian poderia me julgar, afinal, ninguém manda recrutas para o outro lado da Muralha, porém aqui eu estava criando verdadeiros corvos e não a escória imunda e descartável que antes imperava. -Sinto cheiro de culpa - Eu disse, ignorando Dorian e sua comitiva logo atrás de mim. -Há um fedor de culpa no ar. - Um segundo surto de arrepios percorreu o semicírculo à minha frente, como se cada membro tivesse o desejo, mas não a coragem, de se afastar dali. Os selvagens ajoelhados e amarrados permaneciam quietos, eles sabiam o que os esperava. -Vejo esses selvagens, inteiros e saudáveis, com os seus rostos intactos! E me pergunto... como mais da metade de vocês morreram?! - Eu não precisava gritar, o som da minha voz era fria o suficiente para fazer toda a água ao redor da Ilha dos Ursos se tornar gelo. Alguns murmuraram e sacudiram a cabeça, porém eu os ignorei, não queria ouvir desculpas. -Um desapontamento para mim... Confesso que estou desapontado... - Brynden se atirou subitamente à frente, rompendo o semicírculo. Tremendo da cabeça aos pés, prostrou-se aos meus pés. -Meu senhor! - Exclamou. -Senhor Comandante, me perdoe! Nos perdoe a todos! - Dei dois passos para trás, não deixando o patrulheiro tocar minhas vestes.-Levante-se, Brynden. - Eu disse, em baixo tom. -Ponha-se de pé. Você está me pedindo perdão? Eu não perdoo. Eu não esqueço. Vocês merecem sentir dor.

Brynden percebeu o que eu ia fazer um segundo antes de acontecer, então ele fechou os olhos com toda força que pôde, mas não conseguiu bloquear o grito que cortou a manhã, e que o atravessou como se ele tivesse sido apunhalado também. Um dos selvagens tinha os olhos cinzentos abertos, vidrados e inexpressivos como as janelas de uma casa deserta, a boca entreaberta num esgar de surpresa. Minha espada tinha transpassado o coração do primeiro selvagem. O segundo movimento foi tão rápido quanto, quase simultaneamente, estocando a garganta do segundo primitivo. Limpei as duas espadas ensanguentadas e as embainhei. -Jarmen! Tire Brynden e os outros daqui. Quero voltar a vê-los somente quando tiverem aprendido a lição. - Caminhei descansadamente e parei ao lado de Dorian, fazendo com que os olhos do último selvagem vivo se voltasse para nós dois. -Esse aqui matou trinta dos nossos, seu nome é Bael. O clã dele habita os extremos da Garganta, provavelmente ele que organiza excursões para sua ilha. Você pode vingar seus homens agora. Mormonts, Umbers, vocês que residem perto da Muralha gostam de eliminar esses vermes tanto quanto eu. - Dorian estava vendo... meus métodos não eram os mais serenos e equilibrados, porém eram os necessários para dizimar a escória selvagem. Os clãs que não se comportavam tinham medo de mim, ou raiva, não importava. Eu seria para todo sempre o terror do Povo Livre.