[RP Fechada/ Flashback] Touched by the flames

Era a primeira vez que Naerys deixava o templo de Volantis para viajar até Braavos, nunca havia conhecido o aglomerado de ilhotas que formavam uma das mais prósperas cidades de Essos. Não que não tivesse tido a oportunidade, mas estava tão arraigada a Volantis que sair do lugar se tornava complexo para a mulher. O clima chuvoso logo desagradou a sacerdotisa, sabia que a terra precisava da chuva, mas não ela. A pesada roupa vermelha lhe cobria da cabeça aos pés e evitava que seus longos cabelos vermelhos ficassem totalmente encharcados com tanta água eu caia naquela manhã. Havia se informado que quase boa parte do tempo era assim, então não adiantava esperar por uma ocasião mais oportuna, se pretendia estar ali, teria que se molhar. Havia contratado um guia para que a levasse até o templo de R´hllor, não pretendia vaguear a esmo perdendo o precioso tempo que tinha, sua presença ali havia sido solicitada com urg~encia e não gostaria de deixar seus anfitriões esperando.

Não podia deixar de notar a peculiaridade do lugar, a arquitetura em nada lembrava a sua cidade, tinha a nítida sensação e não estar em Essos as vezes. Como em mesmo continente poderia haver lugares tão distintos? Era a pergunta que pairava na cabeça da ruiva cada vez que seus olhos encontravam alguma curiosidade para observar. O homem que a guiava tinha o porte atlético, olhos negros penetrantes que chamaram a atenção da mulher assim que o encarou. De forma velada a mulher o despia com o olhar, Naerys não era o bem do tipo de mulher que se atinha a certos princípios de moral, não era depravada, mas também não bancava a puritana. Não fora uma ou duas vezes que levou algum objeto de seus desejos para seus lençóis. Todavia, seu foco estava voltado totalmente para a tarefa que vinha realizar no templo e seu compromisso com o senhor da Luz vinha acima de qualquer coisa, até mesmo de sua própria vontade e desejo. Contentou-se em mentalmente deseja-lo e matar seu desejo, quem sabe em outro momento poderia realizar seu desejo.

Quando finalmente chegaram ao seu destino ela sorriu para o homem, gentilmente depositando o pagamento sobre a palma de sua mão. Aproveitou-se daquele breve momento para poder ter um pequeno contato, mas tudo que poderia ter naquele momento: — Talvez, eu precise de seus serviços mais uma vez. — Disse com um tom de voz dúbio e um sorriso malicioso nos lábios. O rapaz sorriu e se aproximou da sacerdotisa: — Estarei por perto quando precisar. — Respondeu com o mesmo tom a mulher. Naerys sorriu retirando o pesado capuz que cobria o rosto, seus dedos esguios deslizaram entre os fios carmesins ajeitando-os sobre os ombros. Depois ambas as mãos deslizaram pelo corpo ajeitando a mesma da melhor forma possível: — Espero que sim. — Foi tudo o que respondeu enquanto se virava e adentrava ao único lugar que lhe parecia família.

A grande construção e pedras vermelhas encheu os olhos da ruiva que sorriu involuntariamente, as fogueiras por todas as portas indicavam que estava com certeza no lugar correto. Entrou como se já fizesse parte dali e de fato era como se fizesse, assim como ela, todos que estavam ali serviam a R’hllor com a mesma fé. Uma silhueta se revelou em umas das portas e a voz aguda fez a mulher sorrir: — Naerys minha amiga! Que bom revê-la depois de tanto tempo. — Pronunciou a mulher enquanto envolvia a mulher em um abraço afetuoso: — Somente você para me tirar de Volantis e me trazer até aqui minha amiga! Quantas saudades Kali! — Saudou a amiga retribuindo o abraço igualmente. Ambas se olharam em silêncio por algum tempo e depois de um tempo, Kali se aproximou sussurrando nos ouvidos de Naerys: — Me encontre no mercado logo a frente. O assunto que tenho a tratar com você não pode ser ouvido por mais ninguém aqui dentro. — Recomendou a morena. Ela nada respondeu, apenas assentiu com a cabeça e deixou o templo.

Não encontrou dificuldade para chegar ao lugar indicado, mais algumas instruções foram dadas e já sabia onde deveria encontrar a amiga, ou pelos... Onde deveria. Se misturar entre as pessoas em lugar lotado como aquele não era complicado, mas ainda tinha um pouco de receio que Kali não a encontrasse. Caminhava um pouco dispersa, até que sentiu um impacto contra seu ombro, nada muito forte, mas ainda assim um esbarrão. Os olhos verdes da sacerdotisa então se viraram e depararam-se com uma figura que destoava totalmente com o lugar. Uma menina de cabelos escuros e pele alva, talvez um pouco suja, mas não parecia ser uma maltrapilha qualquer. A jovem cambaleou de um lado para o outro sem equilíbrio e as mãos de Naerys a seguraram com firmeza: — Você está bem? — A pergunta fora a primeira coisa que veio a sua mente. Estava curiosa sobre a garota, mas ainda era muito cedo para revelar isso a ela.

Naerys ainda se lembrava de quando era uma menina e vivia nas ruas de Asshai, a cidade sempre escura e que despertava tanto medo quando era criança. Ela não precisou analisar a garota para ver que a situação dela não era muito diferente daquela que ela vivera em sua infância e começo de adolescência, mais do que isso, podia ver nos olhos da jovem garota a vergonha que sentia por estar naquela condição. Realmente não era fácil, ser visto como uma paira, alguém que tinha menos valor do que um animal, conhecia tal sentimento e apenas em lembrar o gosto amargo tomava sua boca. Seu olhar procurou analisar a menina um pouco mais, os detalhes e mesmo maltrapilha, aquela tiara um dia havia sido muito bela e muito rica, mas achou melhor não comentar. Para alguém de nascimento nobre estar naquelas condições era deveras humilhante. Seus ouvidos perceberam certa balburdia atrás de si, mas não deu muita importância, apenas um leve olhar por cima dos ombros.  

A voz da menina buscava transparecer uma tranquilidade que não existia no momento, não ofereceu resistência quando ela se desvencilhou: —  As palavras que saem dos seus lábios, não condizem com seu olhar, jovem donzela. —  Respondeu a garota imediatamente. Naerys apoiou a mão em seu ombro de forma acolhedora, mais uma vez  impedindo os passos dela, depois de forma gentil segurou ambas as mãos da garota: — Há certas ocasiões em que a vida parece fechar todas as portas e quanto mais andamos, mais mergulhamos em nossa própria tragédia. Há dor em seu olhar, não há brilho em seus olhos, não sinto uma chama de vida vibrar em você minha jovem. —  Suas palavras eram ternas e amistosas: —  Mas não permita que isso a cegue, ou nunca conseguirá sair de onde está. —  finalizou encarando a jovem menina. Libertou uma de suas mãos e a levou até o queixo da garota, levantando um pouco mais seu rosto: —  Nunca abaixe sua cabeça, só assim poderá enxergar com clareza. — Sorriu para ela cordialmente.  

Ela não era o tipo de mulher caridosa, mas era justa e sabia que naquele momento, aquela jovem precisava de norte, uma direção para seguir. Tinha quase certeza de que ela nem se quer de Essos era, as roupas de uma medida que não era a sua mostrava que seus últimos dias não haviam sido fáceis. Os olhos esverdeados da sacerdotisa fitaram o céu cinzento e ela respirou fundo: —  Venha comigo. Vamos comer algo. Estou com fome desde que pisei em Braavos e não tive tempo de fazer uma refeição digna. —  Sugeriu a ruiva. Na verdade, não aceitaria um resposta negativa e tinha uma ou duas palavras para convencê-la caso fosse necessário. Sua mão voltou ao ombro da menina e gentilmente começou a guia-la pelas ruas do movimentado mercado, parece que a cada momento havia um número maior de pessoas por ali.  Não conhecia nada na cidade, mas encontrar um estalagem ou uma taverna não seria algo tão difícil assim, afinal, todas as pessoas precisam comer, certo? Além do mais, precisava encontrar o lugar marcado com Kali, que sugestivamente parecia uma casa de chá.  

Assim que entrou no lugar, o aroma das especiarias tomou seu olfato, arrancando um pequeno sorriso de seus lábios rubros. O lugar não era luxuoso, mas tinha uma boa aparência, as mesas estavam por todo salão, não eram altas e sim mais baixas, haviam quatro almofadas de cada lado par que se sentassem. A ruiva olhou para a garota que parecia desconcertada por estar ali e sussurrou: — Se estiverem te olhando, simplesmente ignore. Você é minha convidada. — Afirmou mais uma vez a mais velha. Sentaram-se em uma mesa mais afastada, longe das pessoas, estava curiosa sobre a pequena menina. A sacerdotisa sentou-se cruzando as pernas e se acomodando na acolchoada almofada. Uma senhora já de meia idade se aproximou da mesa esperando o pedido: — Traga um chá bem quente de canela para mim. E alguns pedaços de bolo, pode ser de cada sabor que tiver. E você minha querida? O que deseja? Não se acanhe em pedir. — Orientou a jovem menina.  

Aguardou até que ela finalmente escolhesse o que desejava tomar, havia pedido um pouco mais de bolo caso a fome dela fosse um pouco maior. A mulher se afastou indo providenciar os pedidos com urgência, uma exigência de Naerys. Ela então colocou as mãos sobre a mesa e voltou a fixar o olhar na jovem desconhecida: — Me chamo Naerys. Naerys de Asshai. Sou uma Sacerdotisa Vermelha. Não é difícil perceber. — Completou retoricamente: — Mas e você pequena? Como se chama? O que faz sozinha em Braavos? Tão perdida? — Perguntou curiosa tentando compreender como uma jovem como aquela poderia ter chegado a aquele estado. A ruiva era astuta e podia com facilidade perceber algo estava errado, muito errado.