[Justas] 2ª ronda: Julian Hightower vs Gerold Nymeros Martell

crepúsculo já se punha em prática, na plenitude límpida em que os céus de Porto Real se encontravam, já no fim de tarde, quando o arauto dos jogos anunciara a grande e aguardada ronda final das justas. Uma visão merecidamente adequada para a magnitude que aquele evento representara. Toda a festividade realizara-se na mais perfeita harmonia; grandes nomes, provenientes de todas as remotas locações dos Sete Reinos fizeram-se presentes; pratos e especiarias circulavam por todo o recinto, empanturrando aos demais convidados, assim como mágicos, bobos, cantores e uma centena de outras atrações cumpriam seu papel em entreter as multidões. Ou, ao menos, era a impressão partilhada pelo Sor quando triunfara sobre o jovem Lorde Piper, em sua justa de estreia. Antes, é claro, de curiosamente ficar sabendo da tentativa de envenenamento à princesa. O escudeiro viera a encontrá-lo às pressas em sua tenda, enquanto Julian, deliberadamente, distribuía os sermões para com os seus, andando exasperadamente de um lado à outro.

- Perdoe a interrupção, Sor. Mas a grande a final está para começar, e todos estão à sua espera. - Disse-lhe o rapaz, claramente acanhado. O Cavaleiro virou-se para ele de forma tão abrupta e nervosa que fizera-o estremecer. – Então que deem a vitória ao dornês, garoto. Eu não voltarei para as liças. - Virou-se e voltou a enfrentar seus homens. - Como ousam esconder de seu comandante tamanha afronta?! - Esbravejou, visivelmente furioso com os seus homens. Sor Julian era um homem bom, gentil e justo, era sabido. Entretanto, honrado e rigoroso em demasia quando se tratando de seu valoroso dever. Da missão que, há tantos anos, entregara-lhe a vida. Não admitia erros, e aquele, em especial, fora um dos graves. Ele certamente não deixaria passar em branco. - Quantas vezes eu repeti para que não deixassem-na experimentar mercadorias estranhas? Prometeram-me mantê-los em segurança, e, no entanto, bastaram alguns minutos até que sua Princesa quase fosse morta. Isso é inadmissível! - Levou a mão direita à testa, limpando os salpicos de suor que formavam-se durante os momentos de ira. Sua cabeça latejava quando o irmão de guarda tomara coragem o suficiente para dirigir-lhe a palavra.

- Não voltará a acontecer, Sor. Garanto-lhe. Falo por todos quando digo que estamos profundamente envergonhados, senhor. E arcaremos com a sua punição, se assim lhe aprouver. Mas ficara feliz em saber que a Princesa está melhor do que nunca, senhor. É brava e corajosa. Ela não deixou-se abalar, e até mesmo vencera a corrida de cavalos. - Concluira o guarda. Suas palavras foram precisas, aos ouvidos do Cavaleiro. Saber do triunfo da Princesa em sua prova e da intrepidez que demonstrara, mesmo quando em perigo de vida, enchera-o de orgulho. E não poderia ser diferente; Sor Julian servira à coroa por tempo suficiente para ver todas as crias da realeza nascerem e crescerem. Guardou-os, amparou-os, e, quando fora requisitado, até mesmo auxiliou-os em suas mais diversificadas tarefas. Querendo ou não, e por mais inapropriado que fosse, com exceção de seus irmãos brancos, a família real era o mais próximo de família que o honorável Cavaleiro possuía. Um sorriso discreto brotara em seus lábios quando voltou-se para o irmão branco. – Não. Está tudo bem, filho. Retornem aos seus postos. Juntar-me-ei à vocês assim que terminar. E quanto a você, garoto. – Dirigiu-se ao jovem escudeiro, que já sorria-lhe como uma criança. - Traga-me o cavalo. Tenho uma justa para vencer.




Os tambores rufavam incessantemente, na escandalosa e bem sucedida tentativa de atentar a plateia quanto à entrada do Sor nas areias da liça. Trajando a característica armadura pesada, inteiramente esmaltada de um branco límpido e lustrado, o magnânimo Cavaleiro Branco, por fim, viera a irromper nas arenas. Sobre os aclamados aplausos da multidão, obrigou-se a esporear o garanhão, fazendo-o galopar em círculos ao passo em que se esforçava para retribuir à todo o afeto que sua torcida o dedicara. Os cabelos castanhos, molhados e bem dispostos para trás das orelhas, realçavam o sorriso resplandecente que o homem expunha, por entre a bem delineada penugem que cobria-lhe do maxilar ao queixo. Dedicou, em especial, um último e singelo aceno para o estrado real, antes de pôr fim à exibição.

Quando assumiu a posição, à direita da divisa, teve visão clara de seu oponente. Galante e respeitoso, como haveria de ser, cumprimentou-lhe, em um gesto humilde com a cabeça. O jovem Lorde Piper se mostrara um grande competidor, e lhe tinha grande respeito por isso. Mas aquele que viria a enfrentar em seguida, seria, certamente, um oponente ainda mais desafiador. A exímia reputação dos Cavaleiros dorneses era reconhecida em todos os cantos dos Sete Reinos. E aquele, particularmente, era um príncipe. Um homem que, presumivelmente, tivera acesso a todos os mais vastos regalos e aos mais íntegros mestres que um homem de sua estirpe poderia ter. Aquele homem, que agora sabia se chamar Gerold, era um desafiante apto o bastante para derrubá-lo. Mas o Sor estava empenhado em não permitir-lhe tamanha honraria.

Quando nos últimos minutos antes do embate, o porta-voz das justas pronunciou-se, pedindo para que os dois cavalheiros viessem a se preparar. Seu escudeiro prontificou-se, de imediato, trazer-lhe os acessórios adicionais. Cuidadoso, mas não menos empolgado, o garoto acoplou o escudo branco do Sor ao seu braço esquerdo e, um tanto atrapalhado, a longa e espessa lança branca ao seu direito. Por fim, afastou-se, saudando ao Sor e dirigindo-lhe algumas sinceras palavras de sorte. Gentilmente, Julian agradeceu ao rapaz e assentiu com a cabeça para que se afastasse. Enfim, quando deu-se por inteiramente preparado e equipado, o Cavaleiro permitiu-se um último vislumbre aos arredores e pôs-se a baixar a viseira do elmo. Sua visão fora limitada às únicas e estreitas brechas que o capacete proporcionava-lhe. Mas Julian estava acostumado até demais para que se visse acuado diante à tal ensejo. Massageou a longa e bela crina, em cor de bege, que escorria pescoço abaixo de sua montaria, sussurrando-lhe algumas poucas e serenas palavras, na tentativa de que, na melhor das hipóteses, o garanhão o compreendesse. No momento em que o berrante soou, autorizando a tão ansiada largada, o animal curvou o busto e impulsionou se por sobre a areia, disparando em renque na direção de seu opositor. Montado em seu dorso, o Cavaleiro Branco reluziu; a sedaria branca de sua capa esvoaçou às suas costas, como um gigantesco e orgulhoso estandarte pálido contra o vento, assim como o branco cintilante de sua armadura lampejara, proporcionando ao Senhor Comandante um aspecto magnificamente épico. Vivenciou o peso da lança à tomar-lhe o braço e a respiração ofegante de encontro ao aço. Naquele momento, não existira Cavaleiros, Lordes, e tampouco Príncipes. Eram apenas dois homens, próximos do beijo que selaria o fim do memorável torneio de Porto Real.

EQUIPAMENTOS UTILIZADOS: