[RP aberta] ENTRE ESTERMONT E TARTH

Entre Estermont e Tarth

A RP irá começar com o post de Beron Karstark. Esta é uma RP ABERTA, então fique à vontade para entrar e participar. Estamos a bordo do navio Sol do Inverno na Baía dos Naufrágios, Terras da Tempestade.

Beron sentia-se vivo em apenas três ocasiões: quando estava com uma espada em mãos, um mastro em mãos ou uma mulher em mãos. Sonhava com o dia em que pudesse ter os três ao mesmo tempo. Mas o mar… Bem, Beron sentia como se o mar fosse sua segunda casa. Por mais confortável que fosse estar entre as pernas de uma mulher, ele sabia que em algum momento haveria de sair de lá. Por mais que o calor das lutas que travara fosse indescritível e o queimasse de ponta a ponta fazendo-o se sentir um verdadeiro Deus, tinha total consciência de que este calor era passageiro. O mar nunca o abandonara e nunca o abandonaria.

Há menos de duas semanas estava voltando de Myr no Senhora Cassana do Lord Estermont, um de seus navios mais antigos que passou de geração em geração até chegar a ele. Desde sempre Beron lembrava-se de ouvir histórias sobre a importância deste navio para a Casa Estermont, e ouvira aquelas histórias tantas e tantas vezes que sentia-se capaz de repeti-las de trás para frente para quem quer que fosse.

Há mais de 60 anos, quando o autoproclamado Rei Stannis I invadiu Porto Real na tentativa de tomar o trono – o que ficou conhecido como A Batalha da Água Negra – o Senhora Cassana foi um dos poucos navios da frota Baratheon a sair ileso do mar de fogovivo. Rei Stannis enviou o navio de volta com seu primo, o Lord Eldon, como forma de gratidão a sua lealdade.

Quando Lord Estermont permitiu que partisse para Myr no Senhora Cassana, Beron tentou negar mais vezes do que a educação poderia permitir, mas acabou sendo convencido. Era uma longa viagem e o seu Sol do Inverno estava sendo utilizado na época por Sor Andrew, que Beron considerava um irmão mais velho.

Isso foi há mais de um ano atrás, bem antes de Beron sequer imaginar que seu pai morreria. A imagem que tinha de Harrion Karstark não admitia ocupar o tempo da morte. Lembrava do pai ser mais alto que ele era agora, mantendo a mesma barba e com os mesmos olhos profundos e ameaçadores de Karstark que só um verdadeiro nortenho é capaz de ostentar sem o menor esforço. Lembrava também do tom de voz rouco e fraco do pai e… Mais nada. Por mais que se esforçasse essa era toda lembrança que conseguia ter de seu falecido pai, que ele particularmente sempre achou bastante fracassado.

Harrion era o irmão mais novo de um Lord respeitado e temido no Norte, Karlon Karstark, o Senhor de Karhold. Para Karlon, ficaram as terras, a espada da família, o castelo, o exército, o prestígio e o ouro. Para Harrion, não coube sequer ser castelão. Embora parecesse fisicamente com seu irmão, nada mais tinham em comum. Se Karlon era um guerreiro nato, Harrion era dado aos livros. Se todos se calavam na presença de Karlon, de Harrion faziam piadas. O sangue nortenho corria fraco nas veias do Karstark mais novo.

Não fosse a mãe de Beron apaixonar-se de maneira insana por seu pai, Beron desconfiava que até o momento de sua morte ele estaria vivendo sob a sombra do irmão.

“Ao menos conseguiu virar um Lord, o pobre coitado.” - Beron se pegou sussurrando.

Beron Karstark, por outro lado, era feito de material muito diferente. Sempre teve total adoração pela mãe, mas sequer considerava aquele fiasco como seu pai. Afiava sua espada todas as noites antes de dormir e isso aprendera com Lord Estermont, um homem digno de sua admiração e respeito. Treinava todas as manhãs. Participava de torneios. Foi nomeado cavaleiro, o que pouquíssimos homens nortenhos podem dizer de si mesmos. Ajudou na construção de seu próprio navio. Ia para as reuniões junto a Lord Estermont para aprender a ser um bom governante. Queria que um dia, quando voltasse ao Norte, o pai pudesse ver que ele sim se tornara um homem digno e forte e que em nada se parecia com ele.

Infelizmente os Deuses jogaram outros dados na mesa e Harrion não pôde ver o que o filho havia se tornado.

Quando foi notificado da morte de seu pai, Beron estava preparando-se para sair de Myr e viajar para Tyrosh, e de lá seguiria para Tombastela. Queria concretizar seu sonho de menino de conhecer a Alvorada, a espada do lendário Sor Arthur Dayne. Até para escolher o momento de morrer meu pai falhou, ele pensou quando terminou de ler a carta. Foi obrigado a mudar seu destino e voltar para Estermont, onde permaneceu por apenas 5 dias antes de zarpar novamente, dessa vez rumo ao Norte em seu Sol do Inverno.

Na quarta noite Lord Estermont ofereceu um banquete em sua homenagem e na manhã seguinte, depois de dez anos, Beron Karstark viu o nascer do sol nas Terras da Tempestade pela última vez.

A primeira luz do sol da manhã acordou Beron Karstark.

Era apenas o segundo dia em alto mar e a Baía dos Naufrágios parecia abraçar o Sol do Inverno feito mãe que embala seu bebê no colo. Beron achava estranho devido a reputação do mar da Baía, mas agradecia aos Deuses Antigos a cada dia que não naufragava nela.

Foi o primeiro a ir para o convés principal do Sol do Inverno naquela manhã, assim como em todas as outras. Aguardou sentado enquanto afiava sua espada – que sequer considerava sua, a própria espada ele havia deixado com o ferreiro de Estermont para um ajuste no cabo e não havia ficado pronta a tempo de levá-la consigo em sua viagem.

“Você é um estúpido, Karstark. Toda uma vida para colocar o maldito cabo de machado na espada e você resolve fazer isso três dias antes de atravessar o continente inteiro.” ele pensou. O machado era o símbolo da Casa Cerwyn e, embora fosse terrível manuseando um, pensou que sua mãe ficaria feliz ao ver que seu herdeiro recém chegado em casa fez questão de lhe prestar uma homenagem. Passou mais quinze minutos espraguejando a si mesmo quando um dos homens de Lord Estermont finalmente chegou no convés para seu treino.

- Sor Beron, me dá a honra? - o homem era cinco anos mais velho que Beron e tinha vinte centímetros a mais de altura, o que fazia dele quase um gigante.

- É para isso que estou aqui, Sor.

Ambos levantaram suas espadas de treino e prepararam-se para a dança. Tanto Beron quanto Sor Cleos escolheram espadas longas de treino feitas de aço sem fio com 1,20m de comprimento e pesando 1,5kg. Naquela manhã Beron usava seu gibão marrom simples com o sol da Casa Karstark cozido no peito, os cabelos longos que recentemente haviam adquirido duas cores estavam presos em um nó desleixado, embora só os Deuses soubessem o quanto ele havia demorado para deixá-los com aquela aparência. A barba tinha sido aparada naquela mesma manhã, o que o deixava com um aspecto rústico porém não o suficiente para ser confundido com um dos selvagens que conseguem atravessar a muralha. Para um nortenho, Beron era demasiado cuidadoso consigo mesmo.

O primeiro golpe parou na espada sem corte de Beron. Aquele era o barulho que ele mais apreciava. Parou também o segundo golpe e pulou para o lado na tentativa de estocada de Sor Cleos. Atacou antes que o quarto golpe chegasse. Em um giro surpreendentemente rápido para o tamanho e peso de sua espada, Beron pôs todo o seu equilíbrio na perna direita, toda sua força em seus braços e fez com que a espada descesse cortando apenas o ar. Sor Cleos, perdeu o equilíbrio por alguns instantes ao saltar para trás. No segundo giro de Beron a espada desceu da esquerda para a direita e ele aproveitou o equilíbrio já abalado de Sor Cleos para emendar uma estocada que, em uma luta real, atravessaria o rim de Sor Cleos com facilidade.

Era um dos movimentos preferidos de Beron e ele já havia notado que funcionava em média 8 vezes a cada 10. Mesmo Sor Cleos que conhecia Beron a vida toda e já o tinha visto aplicar o golpe uma centena de vezes ainda caía nele. Beron nunca se achara um ótimo lutador, apesar de seu porte físico colaborar bastante para isto. Criou algumas técnicas de ataque baseadas em, no geral, um ataque muito rápido – que ele sabia que falharia – e um segundo golpe em algum ponto estratégico do corpo do adversário. Considerava-se um espadachim mediano com uma inteligência em combate muito acima do restante.

Após a pancada, Sor Cleos recuperou-se e levantou do chão para um segundo turno. Desta vez pôs uma distância maior entre si e Beron, aproveitando-se da vantagem de seu alcance. Beron fez o primeiro ataque com o que chamava de vôo do sol, um golpe que consistia em saltar em direção ao inimigo e dar uma estocada ainda no ar para que quando o oponente se afastasse, ele pudesse pousar diretamente de joelhos no chão e acertá-lo em qualquer ponto entre o joelho e o pé. Era um golpe muito mais acrobático do que eficaz mas ainda assim Beron era encantado por ele.

Sor Cleos afastou-se do golpe no ar mas, como Beron previra, não pôde se safar do golpe no chão. Xingou Beron ao ter seu pé esmagado pela espada sem corte, deu um passo para trás e como reação a dor desceu sua espada com força em direção a cabeça de Beron, que rolou para o lado três vezes, esbarrou em uma das três escotilhas do Sol do Inverno, e levantou rindo. Sor Cleos agora mancando passou a desferir golpes raivosos em cima de Beron, que desviava um a um, eventualmente usando sua espada para bloquear. Beron girava em torno de Sor Cleos e usava de seu menor tamanho e peso para cansar o adversário, ele sabia que se ficasse perto o suficiente o oponente o derrubaria.

O que o derrubou, na tentativa de aplicar outro de seus golpes, foi o próprio navio. O que consistiria em um simples golpe que ele já havia realizado antes, um jogo de estocadas leves no tronco e a finalização com um deslize para perto do oponente e uma estocada final no pescoço, foi interrompido quando o navio bateu de frente com uma onda mais forte na Baía dos Naufrágios. Não era problema algum para a tripulação, mas quando se está lutando com um homem vinte centímetros mais alto pelo que parece a eternidade a última coisa da qual alguém precisa é o chão balançando. As três estocadas no tronco acertaram o ainda manco Sor Cleos em cheio, mas na hora do deslize Beron perdeu o equilíbrio e tudo que Sor Cleos teve de fazer foi apontar a espada em direção a Beron e esperar que ele caísse em cima dela.

- O golpe com toda certeza ia funcionar. – Beron levantou e apertou firmemente a mão de Sor Cleos – Amanhã você não vai ter a mesma sorte.

Talvez ele tivesse, talvez não. Beron não se importava com isso. Treinar de manhã era uma de suas paixões e, preso em um navio, realmente não havia muito mais a fazer. Deixou a espada longa no suporte destinado a espadas de treino no tombadilho e prosseguiu andando. Traído pelo seu próprio navio, Karstark. Ele pensou enquanto seguia para sua cabine. Não pôde conter o riso.

Habilidades treinadas:

Apenas quatro dias separavam Estermont de Tarth, a primeira parada de Sor Beron Karstark.

Seu Sol do Inverno mostrava-se surpreendentemente rápido em um mar perigoso como o da Baía dos Naufrágios. Beron imaginava o que poderia fazer com seu navio em mares mais calmos e, embora não admitisse para a sua tripulação, estava mais ansioso do que a primeira vez que empunhou uma espada de verdade ainda menino.

Os homens que Lord Estermont havia enviado junto a ele eram conhecidos de uma vida inteira. Com Sor Cleos Frey, que sempre se gabava de ser primo do atual Lord Frey – embora todos soubessem que havia bem mais do que duas árvores genealógicas de distância entre eles e que ele certamente nunca tinha visto o jovem Lord Frey na vida –, foi ao bordel pela primeira vez. Com Theon, um bastardo das Ilhas de Ferro, matou um homem pela primeira vez. Com Sor Andrew, aprendeu a empunhar uma espada. Com Tyana, tomou gosto pelos livros e histórias dos Sete Reinos. Com Ronald, bem… Com Ronald não aprendeu nada em especial, mas gostava dele mesmo assim e eram companheiros de Cyvasse. Todos os outros a bordo eram homens de confiança de Lord Estermont que Beron vira entrar e sair do cais desde pequeno.

Acontece que, a menos de meio dia de distância de Tarth, os ânimos se exaltaram entre Theon e Sor Andrew. De acordo com Tyana, Sor Andrew empunhou sua espada por conta de um odre de vinho e coube a Sor Cleos se por no meio de ambos no momento entre Sor Andrew enfiar a espada em Theon pela segunda vez e o golpe fatal.

- Andrew de novo? Pelos Sete, Ty. Será  possível que eu não posso dormir em paz em meu próprio navio? - a voz de Sor Beron estava mais arrastada e rouca que o normal.

- Se incomoda tanto o Lord Karstark, na próxima vez deixarei que seus cavaleiros se matem por um pouco de vinho e farei questão de que o meu Senhor só descubra dias depois.

- Não sou nenhum Lord, Ty. Nem tenho a menor intenção de ser por um bom tempo. Gosto de ser chamado de Sor, embora deva confessar que ser chamado de Capitão também não tem sido nada ruim. Acho que posso me acostumar com isso. Em ser seu senhor, por outro lado, jamais me acostumaria. Sei que tem certo prazer em me irritar desde que éramos crianças, mas estamos falando de dois homens que são nossos amigos e quase se mataram hoje. Alguma providência deve ser tomada.

- E o que o Sor Capitão sugere? - Beron pôde ver que Tyana estava se divertido com a situação dos títulos e percebeu, naquele instante, que teria de aturar ser chamado dessa forma pelo resto da vida.

Beron Karstark lembrou de todas as vezes em que lhe foi permitido acompanhar Lord Estermont em reuniões do Pequeno Conselho, e se esforçou o máximo que pôde para reproduzir o tom de voz que treinou durante anos quando estava sozinho em seu quarto. Lembrou da primeira vez que teve idade o suficiente para acompanhar o Lord e o viu decidindo sobre a vida de outra pessoa. Hoje a memória do porquê já não era tão forte, mas lembrava com clareza de Lord Estermont dizendo “Leve-o para as celas, de lá ele não sairá até seu julgamento que eu mesmo presidirei. Nenhum homem ou mulher terá qualquer contato com ele e alimente-o duas vezes por dia. Uma quando o sol raiar e outra quando ele se pôr. Agora vamos ao próximo caso.”. Ao voltar para seus aposentos naquela noite, perguntou ao Lord Estermont o que aconteceria caso aquele homem fosse considerado culpado.

- Nesse caso terá de ser feita a justiça do Rei, rapaz.

- O Senhor quer dizer que vão matá-lo?

- Sim, mas entenda que isso não é sobre assassinato. É unicamente sobre justiça.

Após isso Lord Estermont se retirou e Beron passou a noite pensando no quão injusto era um homem ter o poder de decidir sobre a vida de outro homem, e jurou para si mesmo que jamais tiraria uma vida.

Isso foi há muitos anos, antes de se ver obrigado a tirar a primeira vida, a segunda, a terceira e a quarta. Ele era apenas uma criança de verão na época e hoje era um homem feito, ungido cavaleiro e um dia seria um Lord tão honrado, justo e respeitado quanto o homem que o criou. E o homem que o criou não exitaria diante da decisão a ser tomada. Beron podia jurar que sentia a presença de Lord Estermont a seu lado, pondo a mão sobre seu ombro direito e dizendo Você consegue, rapaz.

- Cuide dos ferimentos de Theon e mande Sor Andrew para a cela. - finalmente respondeu para Tyana.

Os olhos de Tyana saltaram e ela ficou pálida como se não pudesse acreditar no que acabara de ouvir.

- Você está louco, Beron? É de Sor Andrew que estamos falando. Ele estava bêbado, eu tenho certeza que não fez por mal.

- Ele não enfiou a espada em outro homem por mal? Tyana, eu já vi Andrew matar por bem menos que um odre de vinho. Se há algo que este homem sabe é onde colocar sua espada. Ele irá para a cela e ficará lá, temos que admitir que ele é um risco para a tripulação. Atacou dois homens até agora e como se não fosse suficiente atacou Theon, que sabemos ser muito bom com uma espada, e fez com ele o que faria contra alguém com uma espada de madeira, pelo que você diz. Ele não ficará solto no navio e essa é minha palavra final. Quando chegarmos a Tarth conversarei com ele.

- Espera, você não vai sequer falar com ele? Beron, você simplesmente não pode fazer isso.

Beron Karstark sentiu o que chamava de sangue nortenho correr mais forte em suas veias diante do desafio.

- Você está tentando dizer ao seu Senhor o que ele pode ou não fazer? Não estou pedindo sua autorização. Sor Andrew irá para a cela e ao desembarcar em Tarth irei propor ao Senhor de Solar do Entardecer que seja ele mesmo a levar o julgamento adiante. Não sujarei o Sol do Inverno com o sangue de ninguém. E leve alguns bons homens para encaminhá-lo para a cela, ele irá tentar resistir e não queremos que mais pessoas se machuquem. Ninguém deverá falar com ele sem a minha permissão e você mesma deverá levar comida para ele duas vezes ao dia. Uma quando o sol nascer e outra quando ele cair. Sem vinho. Nenhuma gota de vinho para ele, me ouviu bem?

- Esse não é o Beron que eu conheço.

- É com o futuro Lord de Cerwyn que está falando, Tyana. Em minhas veias corre o sangue dos Primeiros Homens, lembre-se sempre disso. Agora saia e cumpra minhas ordens.

Beron observou Tyana estática e ainda desacreditada no que havia acabado de acontecer. Ele sabia que deveria se sentir mal devido a sua proximidade com Sor Andrew, mas era igualmente próximo de Theon e, além disso, durante sua explosão ao ser questionado por Tyana notou que decidir sobre a vida de alguém não era nada ruim e que levava certo jeito para a coisa. Sempre pensou em si como um cavaleiro, mas neste dia sentiu pela primeira vez o peso que pensava estar em um futuro distante onde seria um Lord.

Em minhas veias corre o sangue dos Primeiros Homens, repetiu para si mesmo. Foi então que percebeu que não deveria resolver a situação como um lorde do sul faria.

- Espere. - disse antes que Tyana saísse pela porta – Eu vou com você.

*******

Primeiro foi até Theon que estava desacordado e que, segundo o que conhecia de Sor Andrew, teve enorme sorte em ainda estar vivo. O ferimento da segunda estocada parecia sério e ele começou a temer que talvez Theon não sobrevivesse. O sangue que corria quente há poucos minutos na cabine agora parecia estar congelado e ele soube o que deveria fazer. Nenhum lorde sulista iria julgar um crime cometido em seu navio.

Em minhas veias corre o sangue dos Primeiros Homens.

Levantou-se da cadeira ao lado do corpo imóvel de Theon depois de um bom tempo e pediu para que um dos homens fosse até o porão e buscasse Sor Andrew. Continuou subindo as escadas, colocou ele mesmo um bloco no convés e sentou-se nele, aguardando. Pensou em Sor Andrew sendo levado na base da força de dentro uma cela úmida e escura no interior do Sol do Inverno espraguejando a todos, principalmente ele, e gritando que estava sendo vítima de uma traição. Era um hábito frequente que ele não assumisse as consequências de seus atos e como, na maioria das vezes, demonstrava uma enorme capacidade em simplesmente esquecê-los. Depois de alguns minutos dois de seus homens trouxeram Sor Andrew que, como Beron previra, gritava e espraguejava.

- Sor Cleos, sua espada. Por favor. - o gelo da voz de Beron parecia cortar o ar. - Sor Andrew, façamos isso de modo honrado, como dois cavaleiros.

- Eu não vou lutar com você, seu pedaço de merda. Quem você pensa que é para me enfiar em uma cela, seu muleque imbecil? – Sor Andrew já não estava mais bêbado de vinho e sim de arrogância, como de costume – Se você for idiota o suficiente para tirar essas correntes de mim nem os Sete podem te salvar.

- Essa noite eles não salvarão nem a mim e nem a você, Andrew. Você não vai fazer do Sol do Inverno o seu cemitério particular, Theon foi o terceiro em menos de cinco dias. Se você prefere permanecer acorrentado que assim seja, embora eu esperasse um pouco mais de dignidade.

Beron levantou do bloco e fez um único gesto com a cabeça. Em um piscar de olhos Sor Andrew estava debruçado sobre ele. Pôde ver pela primeira vez o medo nos olhos de Sor Andrew.

- O que você acha que está fazendo, Beron? Quem você acha que é?

- Estou fazendo justiça, Andrew. Sou Sor Beron, das Casas Cerwyn e Karstark, herdeiro do Castelo Cerwyn e em minhas veias corre o sangue dos Primeiros Homens.

A espada de Sor Cleos desceu.

Beron pensou em sua família no Norte, se a mãe ficaria satisfeita ao ver o homem que havia se tornado ou se ficaria triste por não haver nada do pai nele. Pensou em seus pequenos irmãos, que a esta altura já não eram tão pequenos assim, e se o reconheceriam como seu irmão mais velho, protetor e futuro Senhor. Mas todos estes pensamentos se esvaíram quando pensou em Lord Estermont, com a mão em seu ombro direito dizendo Você conseguiu, rapaz.