[Quest OP] Wonderwall

Write the songs in white and black

Assim como diz o ditado “ A grama do lorde vizinho é mais verde”, nem mesmo a muralha consegue escapar dele, antes de se tornar um membro dos guardiões dos humanos Cael imaginava o azul do céu e o puro branco da neve que criava o ambiente heroico do paredão de gelo. Tudo isso mudou em questão de dias, depois que foi “transferido” para seu novo “lar” o recruta passou severos dias se adaptando ao frio, dias em que pensou que fosse acordar morto ou então sequer ia conseguir aguentar a noite e o que por si só se torna uma piada, um corvo que não suporta a noite.

O sol ia nascendo e se pondo diversas vezes e com ele os dias caminhavam até que o corpo do loiro já suportava o frio sendo seu primeiro alivio naquela maldita parede de gelo era: “não morrer congelado”.  Para complementar sua vida tranquila ali as tarefas que lhe eram passada não eram das mais animadoras, limpar o chão, ajudar na cozinha; descascar; preparar; lixar; arrumar; entre outras, quase um trabalho escravo. Seu consolo talvez era que os outros recrutas sofriam dos mesmos abusos e inclusive nenhum veterano se intimava com os novatos afinal havia ali entre eles um que chamava bastante a atenção pela sua altura mas pouco importava à Cael.

Enquanto estava a passara faca pela casca da batata vendo aquele filete da casca dentre infinitos outro que já havia tirado conseguia ouvir um certo alvoroço do lado de fora do Salão Principal do Castelo Negro, era então que deixava a faca fincada na tábua e a batata ao lado, levantava-se e caminhava em direção da saída logo abrindo a porta e percebendo que se tratava de um grupo de patrulheiros que carregava algo, um corpo, não ousava perguntar para seus veteranos quem era o morto mas desejava ao mesmo que fosse dado um final digno ao vigia; alias; sequer precisava perguntar de quem se tratava pois os burburios iam de uma orelha a outra pela falta de discrição e dava para ser ouvido entre os murmúrios altos que se tratava do companheiro de um outro iniciante, não precisava procurar, logo podia ver na multidão o mesmo recruta que havia o chamado a atenção, um “meio-gigante” que gritava em ódio tentando agredir a todos e que sequer se comportava, os veteranos tinham um certo trabalho para contê-lo até que depois de perderem a cabeça apenas desacordavam o grandalhão.

- Qual o problema do grandalhão ? Perguntava o recrutava ao ver um dos corvos passarem, o mesmo parava e olhava para o recruta avaliando-o de cima para baixo com um certo desgosto e desaprovação. – Isso te diz respeito ? Ele se aproximava do ex cavaleiro intimando-o, Bloodhok não revidava mas mantinha seu olhar fixo nos olhos do outro. – Hmpf, ele era irmão do Martel e ficou louco com a morte do irmão, ele ficou com uma ideia de ir além da muralha mas isso não vai acontecer, além de gigante é burro e louco, era o que me faltava. O patrulheiro cuspia ao lado como se estivesse lavando a praga do seu futuro. – Ta fazendo o que parado ai recruta ? Vai pegar lenha, aquele corpo não vai se queimar sozinho.

O tempo passava e assim como os afazeres eram feitos a hora do jantar chegava, todos ali jantavam e enquanto tomava aquilo que era uma tentativa de sopa o rapaz não deixava de pensar no quanto isso não parecia com seu caso, se Luna tivesse sido assassinada com certeza ele faria o mesmo e no instante iria caçar o culpado ou sequer que fosse, talvez esse fosse o motivo pelo qual o recruta estava querendo ir além muralha ? Caçar um motivo ?

A hora da comida era interrompida pelo primeiro patrulheiro que logo chamava a população do Castelo Negro para honrar a despedida do antigo companheiro.

-  Martel, um dos patrulheiros mais astutos entre nós, detentor de uma extrema lealdade e coração de fogo, por muito tempo guardou as beiras da floresta assombrada mas em um momento de infortúnio, pereceu em seu dever. E agora sua vigia acaba.

Todos repetiam então o bordão de despedida para os corvos mortos, apesar de olhar na pilha aonde o corpo jazia momentos Cael deixava seus olhos irem até o irmão de Martel que com punho cerrado mostrava estar lutando entre a raiva e a tristeza, assistia então os restos mortais daquele patrulheiros se tornarem cinzas e depois retornava ao dormitório.

Não sabia o quanto mas tinha certeza que era durante a mesma, o loiro acordava subitamente com o barulho de algo próximo, todavia, por segurança não se mexia pois sabia que se fosse um inimigo pelo menos fingindo estar dormindo teria uma vantagem, esperava alguns segundos e conseguia ouvir o passo pesado; levantava suavemente sua pálpebra vendo ninguém menos que o irmão de Martel, cujo nome havia descoberto na volta do dormitório e se tratava de Almir, o qual andava em direção a porta. Estava claro o que iria acontecer.

Em um plano um tanto quanto maluco o senso de justiça que ainda sobrava em Cael conseguia se sobressair, sendo assim ele tinha que impedir aquele mestiço louco de sair da muralha sem sequer uma autorização do Lorde Comandante, esperava então que o rapaz saísse do dormitório e com o máximo de discrição e furtividade que conseguisse aproveitaria a escuridão e silêncio da noite para se dirigir primeiramente ao refeitório, pelos dias que havia trabalhado ali sabia que a rotina do primeiro patrulha não envolvia passear anoite pelo local e sendo assim conseguiria pelo menos pegar aquela faca, adentrava no salão principal e rastejando ia até a primeira faca que via pegando-a e retornando com a mesma discrição para a saída, não iria pelo caminho principal é claro e sim pelas laterais, fendas e becos atrás de edifícios que o Castelo Negro oferecia.

Só havia um lugar que o grandalhão poderia estar a essa hora e com certeza seria o túnel, felizmente o túnel só era vigiado da parte de fora já que a única vigia a esse horário era acima da muralha, ou seja abaixo ou no meio do túnel não haveriam guardas e teria que ser lá que o rapaz iria impedi-lo. Seguia seu caminho até que então via no corredor a grande sombra, bom..com certeza maior que a sua, o corpulento ia caminhando por ali rumo a saída até que Cael deixava a mostra o fio da faca. – Fique parado ! Almir então parava seus passos e por um momento ficava congelado, até que segundos depois virava-se olhando para o menor. – Quem é você ?

- Sou Cael, um recruta assim como você, talvez não sabia mas o que você está fazendo vai te matar..seja o que estiver lá fora ou os próprios corvos, vai acabar morto !

- Se fosse para me falar o obvio nem precisava ter vindo aqui. O outro não perdia tempo e logo começava a caminhar novamente . – Almir ! Não jogue fora sua vida assim ! Novamente o recruta parava e levava seu olhar para trás dessa vez demonstrando um certo olhar de raiva, talvez por saber que o desconhecido sabia seu nome.

- Jogar fora minha vida ? O único pedaço de família que me restava agora está morto e eu sequer sei o que o matou quem o matou, meu irmão foi vigia da floresta assombrada a mais de oitos anos e nada, nada o matou ! Agora seu corpo aparece e meus irmãos sequer me dizem algo sobre sua morte, eu quero vingança !

- Eu não sei muito sobre seu irmão, mas tenho certeza que ele não queria isso para você. Veja, não posso falar muito sobre mim ou sobre você, mas não faz sentido largar fora sua vida por alguém que zelou por ela, para você ir tão longe atrás do seu sangue é porque no mínimo vocês tinham um bom relacionamento, seria puro egoísmo você se matar assim.

O gigante parava então, seus olhos se arregalavam por um momento demonstrando que tinha tido uma leve epifania, nesse ponto ele não achava argumentos, dava meia-volta e caminhava de volta para o dormitório, ao passar pelo aspirante a corvo apenas pausava seus passos deixando uma mensagem. – Talvez você tenha razão, mas ainda vou descobrir o que aconteceu ao meu irmão.

A noite passava então e ambos recrutas haviam retornado ao dormitório, o que acontecia em seguida porém era algo que marcaria o corvo por toda sua vida.

Subitamente todos os recrutas eram acordados por veteranos que chutavam a porta, eles passavam pelas camas batendo em todos os rapazes acordando-os. – Acordem, vamos ter uma execução agora, todos os recrutas na praça agora ! Essas palavras chegavam a deixar Cael levemente preocupado, de certa fora com medo, não sabia porque mas pela primeira vez talvez sua misericórdia havia falhado ?

Quando saia do dormitório e acessava a praça conseguia ver que do outro portão da morada dos patrulheiros saia uma figura grande, Amil, o mesmo passava de cabeça baixa como se estivesse carregando o estandarte da derrota, como se sua sentença tivesse sido dada muito antes, o loiro então tomava espaço entre a multidão forçando e ficando na frente aonde quando o grandalhão passava ele então forçava suas algemas para que ganhasse tempo ali. – Me prometa, prometa que vai vingar meu irmão ! Você tem que fazê-lo ! O mestiço recebia um chute e logo sua caminhada rumo a decapitação seguia, era posto de joelhos e o patrulheiro mais antigo sacava sua espada, o meistre logo se aproximava e estendia a mão indicando a figura conhecida. – Amil, o recruta, foi encontrado na ultima noite em direção à Floresta Assombrada sem a autorização do Lorde Comandante, foi contra a ordem de seus irmãos de retornar, sendo assim considerado um desertor, a punição é a morte. Amil levava seu olhar para Cael que olhando aquela cena entendia a mensagem e acenava com a cabeça com um positivo, seu olhar continuava no companheiro até que em um balançar de espada um balde se preenchia com sangue e uma cabeça estava longe de seu corpo.

Antes Bloodhok apenas estava ali para garantir que não morresse da mesma forma que seu amigo recruta, mas agora havia uma razão amais, não era uma grande razão mas ainda sim significativa para lhe dar novos ares na muralha, agora havia uma promessa para cumprir e coisas para descobrir, para manter sua palavra precisava agora se tornar um corvo.