[RP Fechada|Flashback] 1/?

O misterioso papel e suas enigmáticas escrituras estavam na mão do rapaz, ao bater na porta daquele local. Era uma construção sóbria e sem muitos adornos. Localizava-se numa das ilhas da Baía de Braavos. Sozinho no meio do azul do céu e do mar, aquele pedaço de terra, se não fosse aquela construção, não teria serventia nenhuma. Os olhos do rapaz já tinham analisado toda a redondeza, e agora focava na porta acinzentada que separava-o de respostas.

Suas pesquisas não tinham sido tão profundas à ponto de conseguir pensar no que estaria esperando por no interior da construção. Se quer podia fazer alguma estimativa, e pouco tempo teve também. Viu-se levando um pequeno susto ao ranger da porta tomar os seus ouvidos. Um pequeno tranco de seu corpo levou sua cabeça um pouco para trás, fazendo parte de seu cabelo cair em seu rosto. Quando retirou o cabelo para melhor enxergar, vê um homem à sua frente. Não era novo, isso tinha certeza. As verrugas marcavam-lhe o rosto como a água marcava o mais pedregoso dos litorais. O olhar do homem era imóvel e pousava sobre o rapaz. Este, por sua vez, estendeu o braço e entregou o pedaço de papel.

Sem antes que o rapaz pudesse perguntar o que significaria aquele enigma, a boca do velho começou a se mover. Não sabia dizer o porquê, mas ver aquela feição imóvel se mover fazia o rapaz sentir-se na pele daqueles que um dia viram as terras se abrirem, que viram o improvável, o impossível. De seus lábios secos e rachados soaram palavras de questionamento sobre a identidade do visitante. Antes mesmo que pudesse se apresentar decentemente, a escuridão tomou o rapaz.

[...]

De repente, ouviu o tintilar de correntes. Percebeu então que tinha acordado, porém não enxergava nada. Levou a mão até próximo do rosto para sentir os olhos, porém elas se travaram no meio do caminho, presas a correntes no chão. O rapaz sentia-se simplesmente destruído. Seu corpo nunca estivera tão dolorido. Mesmo com o pânico de não enxergar, teve se de manter parado, sem isso pensava que morreria. No meio da escuridão e do profundo silêncio nunca antes experimentado pelo rapaz, começou a ouvir a sua respiração falhar. No mesmo momento, desde a ponta dos dedos até o cerne de seus ossos passaram a ser tomados por uma indescritível insensibilidade. Estaria morrendo? Foi isso que pensou antes de adormecer.

Pensou que pudesse ser tudo um sonho, porém ao acordar estava na mesma situação de antes, porém não conseguia mais se mover. Pensava estar estirado no chão, mesmo que não pudesse ter certeza disso. Pigarreou e viu que sua garganta ainda estava apta ao socorro. Começou a gritar. No primeiro grito, sentiu seu ouvido estourar. Sua voz ecoava no recinto em que estava e voltava intensificado na cabeça do prisioneiro. Após alguns berros, acostumou-se. Tinha a impressão de que, inevitavelmente, alguém chegaria.

Não soube quanto tempo se passou, mas começou a sentir gosto de sangue em sua boca e decidiu parar de gritar. Foi tomado por um pequeno momento de calmaria, ou seria descanso? Não seria capaz de distinguir. Eis que sentiu um nível enorme de adrenalina ver no teto um feixe de luz e ouvir uma porta se abrindo. Não foi capaz de olhar diretamente para a porta, até porque não conseguia se mover. Ouviu palavras que indagavam o motivo que trazia o rapaz ali. Não reconheceu aquela voz, porém sabia que não era a mesma do homem do rosto imóvel.

Nunca se sentiu tanto arrependimento. Mesmo que não estivesse por sentir nada, aquela dúvida do que estava acontecendo, aquela ânsia por saber se tinha enlouquecido corroía a sanidade que restava no rapaz. E no momento em que pôde ver a luz, todos esses sentimentos tomaram o seu corpo. Toda essa reflexão deveria ter tomado mais tempo do que ele gostaria, pois quando ia tentar falar alguma coisa, a porta se fechou e na escuridão ele se perdeu novamente. O desespero de ver a luz escapar de suas mãos foi tamanho que engasgou-se com sua saliva misturada em sangue, tendo de cuspir para cima, voltando a sentir o sangue em seu rosto instantes depois.

[...]

Por mais que se esforçasse, não conseguia ter ideia do tempo que estava ali. O passar dos dias, tão natural em todos os anos de sua vida, tornava-se uma incógnita. Procurou manter-se pensando em outras coisas que não no seu arrependimento. Os livros de seus estudos vieram à mente. Todas aquela divindades, o que estariam por fazer? Seriam elas reais? Ele duvidava sinceramente.

Ouvia a sua respiração, que antes falhava e soava tão frágil como asas de borboleta, torna-se um pouco mais contínua. Num súbito, sentiu as pontas dos dedos. Assustou-se e pensou que estava por enlouquecer. O chão era áspero e frio. Pequenos grãos estavam soltos da superfície e pareciam massagear a pele que tinha alguma sensibilidade. Com movimentos circulares, toda a sua atenção se voltou para o chão, para os seus dedos. Antes estava por se sentir morto, e na realidade poderia muito bem estar. Mas agora não, tinha as pontas dos dedos para mantê-lo no mundo real.

Aqueles pequenos grãos, muitas vezes, intrometiam-se entre o dedo e a unha do rapaz, fazendo com que ele pudesse reconhecer cada coisa que lhe acontecia naquela escuridão. Sabia que se deixasse sua atenção escapar novamente das sensações terrenas, poderia não voltar a ter uma mente saudável - se é que ainda a tinha.

Paulatinamente, de seus dedos, a sensibilidade espalhou-se pela mão. Pôde perceber maiores nuances do chão em que estava deitado sabe-se lá quanto tempo. Pequenas depressões, como se aquele local estivesse extremamente gasto, se espalhavam pelo comprimento de sua mão e dedos. Abria a fechava os dedos, como sentia-se no controle de si.

Com algum esforço, a recuperação do rapaz tornava-se mais veloz. Enfim pôde concluir que conseguiria se levantar daquele chão. Logo se viu sentado, porém as pernas ainda estavam fracas demais. Tocava-as e nada sentia. Mesmo que estivesse aliviado, aquela era uma situação que não compreendia. Havia sido um veneno? Ou realmente tinha morrido e passado para outro plano, como alguns dos livros haviam dito que ocorria?

Há tanto tempo lá estava que nem sequer sabia se seus olhos estavam abertos ou fechados. Já estava de pé e sentia que o seu corpo nunca estivera tão conectado com sua mente. Era como se o seu respirar acompanhasse cada terminação nervosa, como se pudesse controlar o som que seu passo faria, o peso que gostaria de ter sobre o chão. Até mesmo como seria a sua aparência... Mas isso era só impressão. Chegou, uma vez, até a sorrir, ao sentir-se de pé. Tateou a parede. Estava num quarto enorme. Não a toa quase tinha ficado surdo com os gritos.

Depois de minutos de procura, encontrou a porta. Procurou por alguma maçaneta, mas nada encontrou. Deu 5 passos para trás. Sua ideia era correr com tudo em direção à porta, para tentar derrubá-la. Quando tentou correr, caiu. Ainda não estava totalmente adaptado à nova forma de ter o corpo. Ao se levantar, a porta se abriu. Mal conseguiu ver a luz, ela cegava. Teve de fechar os olhos.

Habilidade Treinada:

   

Quando a luz já não incomodava, o rapaz olhou ao redor. A sala em que estava era grande e não tinha nada além das paredes acinzentadas. Seus membros ainda estavam presos às correntes, porém no chão, ali onde a porta se abrira, havia uma chave. Foi até a chave e tentou, com ela, se livrar dos ferros que marcavam sua pele, deixando-a em carne vermelha. Sentiu a liberdade ao poder se mover sem algum tipo de tilintar. Com um passo apenas, viu-se fora de sua prisão.

  Sabia que estava no interior da casa que visitara da última vez que viu o céu azul. Deparou-se com um salão enorme. Vigas erguiam-se, rijas e poderosas, sustentando toda a estrutura que parecia engolir os pequenos serem que por ali passavam. Estátuas pareciam vigiar o salão. Nenhuma delas representava um ser humano, eram todas divindades. Das mais diversas fés, desde o Estranho dos Sete até o Leão da Noite de Yi Ti. Todos eram misteriosos, suas identidades eram incógnitas.

  No lado oposto ao que o rapaz tinha surgido, havia uma porta. Nela, uma pequena sombra humana parecia balançar ao oscilar da luz de velas. De imediato, Syndor nada fez. Queria fugir, livrar-se daqueles que o aprisionaram anteriormente. Mas para onde estaria a saída? Seria possível encontrar? Não tinha muitas esperanças. Baseando-se na magnitude do salão em que estava, o resto daquela "Casa" não deveria ser menos grandioso.

 A sombra continuava o seu balançar, parecia até assemelhar-se a uma dança. Curioso, o rapaz começou a correr com cautela em direção à sombra. Quando estava à menos de 4 metros da porta, percebeu que esta levava à uma bifurcação e a sombra parecia estar no caminho da direita. Saltou para o local e de repente a sombra sumiu. Quando olhou para o fim do corredor, havia uma figura humana correndo. Com o corpo coberto por mantos brancos e negros, aquele vulto parecia rasgar o ar, tamanha a velocidade com que se deslocava pelo corredor.

 Sem qualquer chance de alcançar o sujeito, Syndor correu apenas para tentar seguí-lo, afinal de contas, ele deveria ter alguma resposta. Quase não era possível de se ouvir os passos do homem da sombra. Se comparados com os barulhos que Syndor fazia ao correr, eram absoluto silêncio. O corredor em que estava parecia ecoar quaisquer sons que viessem a dançar neles. A corrida continuava e com certa facilidade, Syndor acompanhava o caminho, até porque não haviam bifurcações, até...

O rapaz, sem mesmo perceber, se encontrava numa espécie de redoma, feita de pedra, que tinha possuía 6 caminhos diferentes a se seguir, sendo um deles de onde Syndor viera. Olhou ao redor e no primeiro giro já não sabia por onde tinha vindo. Eram tão semelhantes, tão simétricos... Num primeiro momento, sentiu o coração bater mais forte, sentia-se perdido. E se nunca mais saísse dali? Tinha de se acalmar.

Para tanto, sentou-se. Já tinha lido sobre isso. Meditação. Levar os sentidos ao extremo, ou, para outras interpretações, ao mínimo. Treinara poucas vezes e por isso muitas vezes perdia o controle de sua calma. Ao colocar a mão sobre os joelhos, levou toda a sua concentração aos ouvidos. Respirou fundo e tentou fazer com que o único som que chegasse ao seu ouvido fosse o de seu coração batendo.

Quando já não ouvia nada, apenas seu coração, soltou levemente o ar, como se fosse o momento de ouvir alguma coisa. Uma pedra se descolando do chão ao passo de alguém, a respiração ofegante de alguém que corre por muito tempo, ou até mesmo o rasgar do ar de alguém muito rápido. Sabia que poderia ser possível algumas das coisas dada a reverberação causada pelos corredores.

Não perdia a concentração. Inspirava mais uma vez e no meio desta, ouviu algo. Primeiro pensou ter sido alguma impressão, porém vinha exatamente de um dos corredores, o mais próximo ao seu lado esquerdo. Se assemelhava a um pedaço de ferro arranhando pedra. O que seria? Não era possível saber, mas algo ou alguém estava por trás, já era o suficiente.

Levantou-se num rápido movimento, chegou até a sentir certa tontura, e correndo, adentrou o corredor de onde ouvira o barulho. Aquele corredor, que antes permitiria três grandes homens andarem lado a lado, foi se estreitando, até fazer com que Syndor, não um homem muito forte ou grande, arranha-se os ombros caso não tomasse cuidado. Com os olhos no final do caminho, havia uma pequena vela, e ali a sombra parecia dançar novamente.

O coração começou a bater mais forte e já até respirava pela boca, tentando obte o máximo de ar possível daquele ambiente inóspito e sufocante em que estava. Quando deixou o corredor, deu de cara com o mesmo salão enorme com as divindades que representavam a morte nas mais diversas fés. Porém havia algo diferente, a vela estava no meio do salão.

O oscilar da vela parecia fazer as estátuas balançarem, de um lado para o outro, todos ao mesmo movimento, todos à mesma palavra. O silêncio, que antes parecia eterno naquele recinto, era quebrado por uma voz. Não era possível distinguir se era masculina ou feminina. Um vulto surgiu de baixo do Estranho. Syndor levou os olhos até o vulto, que tinha as vestimentas brancas e negras que antes avistara.

- Estávamos te esperando.

Habilidade Treinada: