[RP FECHADA] Flashback – And A Force Was Born

And a Force was Born

A RP é fechada e conta com a participação de Septã Joy, Septã Elia e Septã Roslin, qualquer intromissão de terceiros será devidamente ignorada. Começará com o post de Septã Elia.
And a Force Was Born é um flashback das três septãs, durante o desastre de Porto Real, retratando o momento em que as três se conheceram e decidiram recriar a fé militante.
O tempo está agradável, como o costume na capital, ameno e ensolarado. Existem algumas nuvens no céu, algumas delas negras, demonstrando fogo ainda aceso.

A septã da fé olhava as nuvens tão negras como o carvão subirem e se espalharem pelos céus da capital, os gritos e a destruição se misturavam com o cheiro de morte e queimado, retratando os sete infernos. Elia continuava andando pelas ruas, com as mãos juntas em forma de prece, atenta a todo cataclismo que a rodeava.

Aquilo era culpa do rei. O dragão era a fúria dos deuses, Daemon não honrava seus deuses como era devido e toda aquela desgraça acontecera. Nem a rainha, muito menos os príncipes e princesas, se mostravam interessados na fé, e seus súbditos morreram por isso.

Elia continuava caminhando pelas ruas, sangue e desespero a cercava, mas ela sabia que a mãe a guiava naquele momento. Enquanto subia a colina de Visenya, o caos acalmava um pouco, dando origem a perguntas curiosas, e alguns feridos, mas ainda estava lá, firme e forte, como o veneno de uma serpente.

Foi aí que chegou a seu destino, saberia que lá haveria abrigo, respostas e descanso para a serva: o grande septo Baelor. Esses eram seus mais profundos desejos, incluindo observar a grandeza feita por Baelor I, o mais puro dos reis. Qual foi sua desilusão ao passar a multidão e ver o monumento reduzido a escombros.

A mulher sentiu uma raiva percorrer seu corpo enquanto seus olhos se fixavam nas grandes pedras, restos de um passado glorioso da fé, e nos cadáveres de irmãos e irmãs, cujo o estranho guiava para a paz. Conseguia ouvir alguns comentários maldosos, de infiéis dizendo que o septo deveria ter sido destruído antes, como eles podiam negar tão facilmente a fé de seus antepassados? Como eles podiam virar as costas para aqueles que o trouxeram a este mundo? Como eles se mostravam tão indiferente às mortes na sua frente?

Virou costas à destruição, andando na direção de onde tinha vindo. Ouvia os comentários se tornarem mais frequentes, mais venenosos, mais obra da triste perdição humana: R'hollr. Nunca sentira uma raiva tão grande na vida, todos aqueles que negavam os sete deveriam ser queimados, deveriam morrer. Elia suspirou.

— Pai, perdoe seus filhos, pois eles não sabem de nada. Mãe, os abrace quando a noite estiver mais escura e seus falsos deuses não os puderem aquecer. Ferreiro, dê-lhes força para seguir em frente, quando seu deus não corresponde suas preces. Guerreiro, os ensine a lutar quando seu deus os deixa sozinhos. Donzela, proteja a castidade de todas as filhas de tais infiéis, pois elas não merecem sofrer pelos atos de seus pais. Velha, ofereça-lhes sabedoria, pois neles esta é escassa. Estranho os guie depois de sua morte e faça a justiça, os jogue nos sete infernos. — Pediu.

Quando acabou sua oração, já estava longe do septo e mais perto da calamidade novamente. Crianças choravam, mulheres lamentavam por suas perdas e homens praguejavam sobre a inutilidade dos Targaryen. Parecendo que a seguia, os comentários continuavam chegando em seus ouvidos, como sempre.

Ao longe viu uma criança, deitada no chão, chorando e olhando para o céu. A septã correu até a pequena criança, mas se apercebeu que era tarde demais. O pequeno tinha os olhos fixos no céu, não reagia à luz do sol, o que denunciava que fosse cego. Seus lábios pálidos, seu pulso fraco e a cor azulada da pele, denunciavam uma hemorragia interna, das grandes.

 — Que os deuses te tenham, criança.  —  Murmurou. O garoto se assustou com a voz da mulher e tentou se afastar. Elia analisou o corpo da criança, identificando algumas fraturas e um pé deslocado. Ele iria morrer em breve e ela não poderia fazer nada para o ajudar, exceto ficar do seu lado enquanto o estranho não chegava para levar sua alma. — Calma, pequeno, sou apenas uma velha septã, não posso te machucar.

Ele pareceu relaxar um pouco. Mesmo que seus olhos não reagissem, parecessem sempre distantes e sem vida, eles se direcionaram à septã, enquanto ele estendia a mão para ela. Elia envolveu a mão da criança nas suas, fazendo o máximo para as aquecer, mesmo sabendo que isso não o levaria a lado nenhum.

 — O monstro já foi embora?  — Perguntou com sua inocência, comparando o dragão a uma monstro. A criança não deveria ter mais do que sete anos e estava naquele estado, a septã sentia tanta pena dele, mas sabia que seu destino estava condenado.

 — Sim, criança. Bateu suas asas monstruosas e voou para o inferno de onde veio. — Tentou falar num tom de voz doce, para não amedrontar a criança. — Nada tema, os deuses estão cuidando de você.

 — Estão? — Aquela pergunta animara o espírito da Septã. Ela adorava espalhar a palavra dos sete.

— Claro! Eles amam suas pequenas crianças. — Ela sorriu, mesmo sabendo que ele não veria.

— Minha mãe costumava cantar algo parecido... — A criança parecia querer continuar, porém parou subitamente. Elia estava pronta a perguntar o que estava acontecendo até ele começar a tossir compulsivamente. A septã não teve tempo de agir, segundos depois, estava vomitando sangue.

Era mais uma confirmação que a hemorragia era mais avançada que a septã imaginava, e agora sabia que se localizava no estômago. Mesmo estando toda suja de sangue, Elia pegou na criança e a colocou em seu colo, sabia que ela estava na reta final.

 — Feche seus olhos, deixe o estranho te guiar, pequeno... — Murmurou para que apenas os dois ouvissem. Ele obedeceu, fechou seus olhos e deu um longo suspiro. Alguns minutos depois, seu coração bateu pela última vez. Elia secou uma lágrima solitária que corria por sua face e olhou para o lado, uma irmã silenciosa esperava por ela.  — Irmã, cuide bem desta alma pura da mãe, em meu nome, Septã Elia do Vale.

A mulher não reagiu, muito menos falou. Elia colocou o corpo frágil no chão e se afastou, deixando-a fazer o seu trabalho. Como ela se sentia mal por ter chegado atrasada até aquele garoto, se ela não tivesse ido ver o Septo, se ela não tivesse seguido seus desejos humanos fúteis ela teria salvado aquela vida inocente.

 — Mais um pecado... — A voz severa do pai sussurrou em seu ouvido.

 — Quando aprenderá, Elia? — Foi a vez da voz tanto masculina quando feminina do estranho lhe sussurrar.

 — Sei que pequei. Que eu possa ter vossa misericórdia.  — A septã suspirou, enquanto os deuses a humilhavam em sua cabeça.

Mas ela mereceu, era realmente sua culpa. Elia deveria se desligar de sua humanidade, ela deveria apenas servir aos deuses e a seus servos, deveria se desligar de seus desejos tolos e idiotas, pois isso apenas a atrasaria.

Habilidade Treinada:

"Fumo e cinzas carregavam o ar com o seu peso ardente, fazendo com que todo o sistema respiratório da mulher se ressentisse. Os seus pulmões tentavam expulsar as toxinas do organismo através da tosse quase compulsiva, e o seu esófago ardia como um fogo que queimava tudo à sua passagem, asfixiando-a e fazendo com que o simples ato de inspirar se tornasse dolorosamente difícil. Mas a Septã tinha uma missão naquele momento e, aproveitando os conhecimentos em medicina que adquirira durante o seu período de aprendizado na Cidadela, arrancou um pedaço de pano das suas longas e modestas vestes, ensopando-o num balde de água suja e opaca, espremendo o tecido de forma a ainda deixar que alguns pingos escorressem da sua mão para os pulsos descobertos, e destes pelo seu braço. Ignorando o odor forte que a água emitia encostou o tecido às vias respiratórias, utilizando-o como um método para filtrar o ar tão poluído. Caso contrário, a intoxicação poderia alcançar níveis tão alarmantes que a mulher chegaria a perder os seus sentidos, sofrendo graves queimaduras nas vias respiratórias - que eram altamente sensíveis às temperaturas extremas da fumaça - e até mesmo enfrentar perigo de morte. Mas Joy não pretendia encontrar o Estranho naquela tarde tão caótica.

Caminhando alguns passos, não hesitou em auxiliar uma jovem donzela cuja perna tinha sido ferida quando parte de uma viga caíra sobre a mesma. Baixou-se de forma a ficar ao mesmo nível da bela moça, contemplando a aura de inocência que a Donzela lhe concedera por uns breves instantes, antes de começar a analisar a queimadura. Por sorte, não tinha sido nada grave. A queimadura não fora profunda, muito menos fora grave ao ponto de correr o risco de cicatrização deformante; não tinha uma extensão maior que a palma da mão da garota, possuindo um caráter isolado e situando-se na barriga da perna - uma região que não apresentava articulações. A área queimada já começara a inchar, mas tal não provocaria mais do que alguma dor - tinha mais sorte que muitos outros tinham tido.

- Você teve sorte, minha querida. A Mãe protegeu-a, pelo que a queimadura é apenas superficial. Eu irei buscar água, entretanto peço-lhe que rasgue um pedaço do seu vestido pois a ferida precisa de ser esfriada, além de limpa. - Instruiu à jovem de longos cachos acobreados, sorrindo levemente perante a sua expressão de temor. Joy fora uma pessoa completamente diferente da nobre, naquela idade. - Não tema, você ficará bem em menos de nada. Eu não me demoro.

Dito isto, ergueu-se novamente sobre os seus pés, iniciando uma caminhada primeiro em busca de algum balde que estivesse desocupado, e depois dirigindo-se à zona costeira para recolher alguma água. Quando já realizava o seu percurso de volta, gritos de horror foram ouvidos; mais perto de si do que qualquer outro que ouvira naquele dia. Um homem de meia idade extravasava a sua dor, abanando o corpo frágil de outro, mais velho, que claramente estava a ter um ataque cardíaco. A mulher de fé largou o balde pesadamente no chão, correndo para perto dos dois homens. - O seu coração está a falhar. Se não me deixar agir, o seu ente querido não viverá para conhecer algo mais para lá de toda esta destruição. - Disse firmemente ao seu companheiro, debruçando-se sobre o corpo deitado ao observar que o homem mais novo afastara-se, enxugando as lágrimas que corriam livres.

Apressou-se a rasgar a camisa que este trajava, sentindo-lhe o pulso através da artéria aorta, no pescoço. O seu coração parara de bater. Determinada, a Septã apoiou as duas mãos, abertas, uma sobre a outra, apoiando o punho sobre o osso do esterno - aquela era uma técnica que aprendera num livro sobre primeiros socorros. Sobre o homem e de braços esticados, a loira utilizou o peso do seu próprio corpo para empurrar com força, repetindo o movimento vezes consecutivas de forma a despertar o órgão adormecido, na esperança de que este não se encontrasse já morto. Repetiu o ato as vezes que achou necessárias, sem grandes resultados. Sentindo a vida esvaír-se do corpo inerte a uma velocidade absurda, Joy lançou-se numa derradeira tentativa: respiração boca-a-boca. Exerceu a mesma pressão no peito do homem, desta vez alternando e encostando os lábios aos seus, cobrindo o seu nariz com uma das mãos e apertando a sua mandíbula com outra. A sensação era estranha, além de altamente imprópria, mas Joy tinha que tentar aquilo de que fosse capaz para salvar a vida daquele humano que não deveria ter vivido muitos mais anos do que aqueles que ela mesma vivera.

Forçou o ar a atravessar as suas vias respiratórias vezes e vezes sem conta, sem mais sucesso do que aquele que já alcançara anteriormente. Infelizmente, a morte daquele homem estava confirmada.

De súbito, um sentimento avassalador de desespero e angustia preencheu o seu peito. Aquela podia não ter sido a primeira morte a que a mulher tinha assistido, mas era, sim, a primeira em que se tivera que deparar com a máscara de puro desgosto que o outro homem usava, o flagelo de perder alguém que se amava. Juntou as mãos numa prece, fechando os olhos e proferindo em tom solene: - Estranho, guia este teu filho pelos caminhos do além e julga-o justamente, tanto pelos seus pecados como pelas suas virtudes. Mãe, tende misericórdia de mim, pois não consegui salvar esta pobre alma que padeceu às minhas mãos. Velha, dái-me o conhecimento para que mais vidas não sejam ceifadas em vão. - Voltou a dirigir o seu olhar ao homem inconsolável, incapaz de ouvir os seus gritos de dor que chegavam surdos aos seus ouvidos. - Quem me dera ter podido fazer mais do que fiz. Mas os Deuses têm um propósito para cada alma que levam, e ninguém morre em vão. Sete benções.


Desconsolada, a loira voltou atrás para buscar o balde de água, voltando as costas àquele cenário que ficara gravado no seu peito e na sua memória como mais uma das sombras que a atormentavam quando a noite caía. Voltou para junto da nobre donzela, perguntas impertinentes invadindo o seu pensamento. Será que os seus deuses tinham, de facto, um propósito para as almas que ceifavam de forma tão cruel? Não. Questionar o julgamento dos Sete é o primeiro passo para a perdição.

Assim que a figura frágil da jovem entrou no seu campo de visão, esta dirigiu os pequenos olhos pedintes para si numa expressão que era um misto de alívio e dor. A queimadura podia não implicar nenhumas complicações, mas certamente infligia um grande sofrimento. Voltou a baixar-se, ficando de joelhos como se fosse fazer mais uma das suas preces, mas desta vez aceitou o pedaço de tecido que a garota lhe estendeu, ensopando-o na água salgada e escorrendo-o. Deitou um vislumbre à ferida: bolhas grandes já se tinham formado sobre a pele queimada, pele essa que escamara em determinados pontos. Aquela não era certamente uma bela visão. Com o tecido pendente sobre a perna ferida, fez questão de lhe dirigir algumas palavras:

- Lamento, mas isto vai doer.

Assim que terminou de proferir aquelas palavras impiedosas pousou o pano sobre a ferida, e a reação foi imediata. Um esgar de dor foi ouvido, junto com o arfar da nobre que esforçava-se visivelmente para ser corajosa e suportar o ardor imenso que sentia naquele momento. Em condições melhores que aquelas, num castelo ou septo, a Septã poderia dispôr de leite de papoula para acalmar a aflição da garota, bem como tratar o ferimento com leite de fogo ao invés de água do mar mas, na falta de melhor, aquele era o unguento ideal para uma ferida como aquela. Além de limpar a ferida e evitar que esta infeccionasse, os sais minerais que se encontravam na composição deste líquido tão abundante em redor daquela cidade ajudavam a que a cicatrização fosse muito mais rápida, diminuindo o tempo de cura.

Não levou muito tempo a lavar a queimadura e logo tratou de a proteger, pedindo à jovem que rasgasse um pedaço ainda maior do seu vestido, que por sua vez rasgou em três e demolhou-os na água salgada. Uma vez que a queimadura não tinha uma grande extensão, cobriu-a com o maior dos três pedaços, utilizando os outros dois - simples fitas de tecido - para atar o pedaço maior à perna, acima bem como abaixo da ferida, sempre com o cuidado de não deixar que o pano ficasse prensado contra a pele machucada. Após prender aquela gaze improvisada, o seu trabalho estava finalizado.

Segurou as mãos da garota entre as suas, afagando-as suavemente. - Sete benções, minha querida. Continue desinfetando e limpando a ferida regularmente, pelo tempo que for necessário, e não infetará. Os Deuses são misericordiosos. Verá que a sua perna voltará a ser como antes de toda esta heresia em menos de nada. - E, com um último aceno, despediu-se.

Levantando-se, percorreu com o olhar horrorizado o panorama que a cercava, pedindo uma vez mais aos seus Deuses para que fossem, de facto, misericordiosos para com aqueles que ficavam, tanto como para com aqueles que já tinham partido, ou partiam agora. Pedia para que não deixassem outra catástrofe como aquelas ocorrer, e para que as bestas que a tinham causado - incluindo as feras guardadas pelos Targaryen - fossem disseminadas, extintas. Rezava para que a existência dos monstros de fogo e sangue cessasse, e para que a paz pudesse finalmente reinar em Westeros. O que não podia acontecer até que os homens deixassem de ser tão vis e tão viciosos; apenas quando compreendessem os mantras e dogmas que os Sete pretendiam ensinar a todos, apenas nesse singelo momento, seriam capazes de abraçar com compaixão os seus iguais, e trabalhar em prol de um mundo melhor.

Toda aquela situação atormentava o coração humilde da mulher. Todo aquele sacrilégio, toda aquela dor. Pela primeira vez desde que encontrara a luz dos Sete, sentia-se impotente, desprotegida e indignada - não com as entidades superiores, mas sim com as pessoas e a sua falta de discernimento. Era claro que aquele era um castigo dos Deuses! Era claro que, se os homens não fossem tão pretensiosos quanto ao seu poderio sobre a Força Maior, se não fossem tão pecaminosos e tão ignorantes, nada daquilo teria acontecido. Joy queria gritar, queria pregar a fé a plenos pulmões porém, no seu âmago, sabia que ninguém seria capaz de a ouvir. E, essa sim, seria a perdição de toda a humanidade.

O tempo passou sem a loira sequer se dar conta, e apenas foi capaz de voltar a atentar verdadeiramente no que acontecia ao seu redor no momento em que uma voz se lhe dirigiu. Septãs, disse a voz. Só então Joy foi capaz de perceber a presença de mais duas mulheres, suas irmãs, mulheres de fé. As três Septãs tinham-se reunido ali, naquele momento - ou melhor, tinham sido reunidas -, e a mulher não precisou sequer de ouvir as palavras daquela que se proferia para compreender a sua mensagem. A mensagem dos Deuses. Os Sete eram poderosos, isso era inquestionável. E eles tinham, de facto, um plano. Nada daquilo fora em vão. Toda aquela destruição, aquelas mortes... Joy olhou para as próprias mãos, de onde as quais ainda era capaz de sentir a vida do homem que tentara salvar a esvaír-se. Fora para aquilo que ela tinha sido convocada; não para salvar e ajudar aqueles que podia, mas para algo maior que a sua própria existência. Para acabar com a profanação da sociedade em que viviam, e garantir um mundo melhor para as gerações vindouras."

Habilidade treinada: