[RP Fechada - Flashback [+18]] Bone, Flesh and Blood

Melkor

Melkor. 

Mais um capítulo do espetáculo: Humanidade em declínio.

Todos distantes da essência... Vou romper esses intelectos compactos, com um inverno mais pesado que qualquer impacto. Já posso ver que uma parte já se encontra em estado de emergência, em segundos decifrei o olhar da loira, o medo do apocalipse acorrentado em uma neblina impenetrável. ''Impenetrante''? É a sinopse da contagem regressiva, um dia a mais é um dia a menos. Não se engane, vocês já estão no tempo extra.

Todo dia é um teste para mim. Vejo potenciais suprimidos, eu não me salvo dessa afirmação... aonde o espírito é traído pela carne que me veste. Nações; religiões; castelos; fortalezas; cidades; vilas; aldeias; negócios; Casas; política e o governo... vocês se esquecem que são eles que orquestram e controlam o repertório... ditam as regras por detrás dos bastidores. São eles que giram a engrenagem da destruição; agem maldosamente e em prol de benefícios próprios calculam tudo milimetricamente. Vejo tudo distorcido, valores invertidos, não querem o necessário e só visam o poder. Gananciosos e interesseiros, precisam de um corretivo, para então a criação do novo mundo não ter ninguém que cresça sentindo a falta de afeto ou com a índole persuadida nesse inferno INdiscreto. Enquanto o objetivo for objeto vai ser impossível conduzir o mundo para a essência verdadeira. Entenda e se renda ao simples, aprenda a se desprender dessa grande engrenagem podre... rompa a bolha pois ai quando eu chegar, talvez eu não seja tão cruel ao te massacrar.

Extensa vida curta e tensa que eu habito, entre luz e trevas é difícil me situar. Me sinto um hipócrita com ideias tão grandes, pois essas ideias não condizem com o corpo em que habito. No entanto a consciência desperta e atenta... me atenta diariamente, me sinto convivendo com uma serpente. Minhas pernas já não aguentam tanto peso nos ombros, de pé em meio aos escombros só a fé que me sustenta.

Vejo os visitantes como feras, e o pior é que estou a mercê delas. Eles chegam atraentes, loucos para me distrair, sutil nas artimanhas... com pedras grandes de presente, essas eu consigo enxergar e desviar, mas são as pequenas que causam o tropeço. Veja, viemos todos do mesmo ramo, porém em um barco sem remo não chegaremos ao rumo. Eu serei o remo dos humanos e conduzirei todos para o verdadeiro paraíso. Eu quero logo a passagem para minha morada pois essa minha passagem terrena já está demorada demais...

Dentro de mim vive uma Longa Noite pessoal, dentro de mim há uma batalha espiritual sendo travada neste exato momento. O humano rompeu suas raízes, esqueceram o que realmente importa; matou floresta, dividiu crença, inventou doença, inventou remédio, deu chance ao dinheiro, construiu castelos e limitou o acesso. Eu vim pra quebrar essa grande engrenagem maléfica que nos afastou de nossas raízes e de outras formas de conhecimento. Preferiria que todos estivessem em uma tribo primitiva, porém com muito mais conhecimento espiritual; sem linha divisória, extinção da moeda, onde minha consciência seria mais limpa que todos os habitantes de grandes nações.

Westeros vai sucumbir, será a nova Valyria... porém esse continente não vai ferver em lava, e sim sucumbirá ao gelo. Se nós não passássemos tanto tempo buscando algo que está na própria realidade que ofuscamos, talvez eu não precisasse fazer isso... Passamos a vida nos perguntando o sentido dela, sem perceber que ela por si só é um motivo. Que o Grande Outro me ouça, mas que eu me ouça primeiro... já que nesse momento eu sou só Melkor e não um sobranceiro.

[...]

Meus pensamentos estavam mais acelerados que o normal, tornando difícil parecer são. A jovem mulher era séria e bem-apessoada, características de uma Casa estereotipada. Após minha fala enigmática ela respondeu como se tivesse aquilo engatilhado há tempos. Semicerrei os olhos, deixando o azul cinzento menos inexpressivo. -Porto Real é? Talvez seja porquê eu não esteja mandando um patrulheiro para limpar suas celas. Estou muito ocupado para recrutas agora, mas em breve vou recolher o estrume sulista. - Então ela continuou... agora com informações que pouco me importavam e em um tom que me entediava, porém sua voz esbelta me permitia abrir uma exceção e não cortar sua fala no meio. -Como eu disse antes, já faz um tempo que recrutas não aparecem por aqui e ninguém enviaria fofocas reais para a Muralha. Não quero parecer rude, Cersei da Casa Baratheon, mas não me importo com assuntos do sul. Os selvagens estão muito mais... selvagens, é necessário foco profundo para lidar com eles. - A mulher era forte, porém me senti um pouco cômico ao perceber o veneno que escorria encoberto em suas palavras, semelhante ao de Anakin Lannister, o Senhor Comandante antes de mim. -Como quiser. - Aceitei o pedido da loira. Não foi necessário nenhum simples movimento para que os Corvos começassem a trabalhar. Agora eu poderia decifrar suas intenções com mais calma... a fobia social era aguda com tantos homens ao meu redor.

Observei os gestos de Cersei e abri um sorriso simpático no rosto antes de me aproximar. -É um erro comum... Melkor Snow. Eu sou filho de camponeses, senhorita. Não tive a sorte de ter um pai nobre. Meu nome é Melkor, só Melkor. - Meu sorriso foi se fechando... eu gostava da mulher porém meu instinto ainda me trazia a vontade de estocar sua garganta com a espada. Apressei meus passos deixando-a para trás, me dirigindo até a Torre do Senhor Comandante. Os intendentes se adiantavam afobados para deixar tudo pronto, não queriam me interromper lá dentro, portanto quando adentrássemos o recinto a cerveja e o pão já estariam sobre a mesa. -Estou curioso para saber que perguntas são essas... - Olhei para trás, parando de andar e esperando ela me alcançar. -Perguntas que não poderiam ter sido postas em uma carta. - Olhei no fundos dos olhos dela, com uma expressão dura sem resquícios de nada além da frieza explícita. Meus poderes não pareciam funcionar, sentia certa vulnerabilidade perto da mulher, era algo curioso no mínimo.

Adentrei a Sala do Senhor Comandante e pendurei minha capa sobre o cabide. Não fiz a gentileza de colocar a de Cersei, já que uma sulista congelaria com cinco mantos de pele em um outono como esse. -Espero que a viagem tenha sido agradável, senhorita. Com uma comitiva menor eu imagino que passaria por alguns apuros, afinal tal beleza despertaria coragem em qualquer grupo mercenário. - Elogiei a mulher... de certa forma. Puxei uma cadeira para Cersei e puxei uma caneca para mim antes de encostar na parede, deixando a loira sob o meu olhar enquanto bebia a cerveja.

Melkor. 

Renunciou novamente a forma que havia usado como tirano da Rainha: a de um Senhor cruel, alto e terrível. Nessa forma, que ele permaneceria eternamente. Ali, nas sombras negras da Sala do Senhor Comandante, a força de vontade de um Melkor antigo, o deixou fora do alcance dos poderes, e até mesmo dos olhos da Rainha. O antigo Melkor tramou sua vingança contra a Rainha da Noite. Contudo, quando compreendeu o objetivo de Melkor, a Rainha o quebrou em mil pedaços. Aqueles pedaços de um homem destruído pairavam frente à Cersei. Ficou num dilema entre o desejo e um medo imenso. Mas ele se dispunha a desafiar os perigos da Noite e o poder do Grande Outro; Melkor tinha ido longe demais, e aquele seria seu último ato como ele mesmo, um último ato como um filho dos Primeiros Homens. Disse-lhe, portanto, Melkor. -Faz o que ordeno. Se conseguires resistir ao grande poder oferecido por Ela, leve essa arma para o Sul e se prepare para o que virá. - O Senhor Comandante tinha uma feição morta, mas no fundo de seus olhos ele demonstrava sua verdade. Melkor fora um homem que lutou para ser reconhecido, porém em sua busca por poder ele tentou negociar e passar a perna no Grande Outro. Seu corpo consumido por Magia Negra o tornou fraco para não mais resistir ao controle da Senhora da Noite. Este era seu último ato como ele mesmo, nada poderia parecer mais verdadeiro que suas últimas ações. Um grande saco fora depositado sobre a mesa, dentro dele continha as últimas obsidianas utilizadas na Batalha de Inverno. -Agora o último presente, talvez o mais importante, este você deve destruir, se conseguir, ou levá-lo ao Alto Sacerdote do Culto da Sabedoria Estelar. - Aquele era o livro do Necromante. Livro criado pelo Imperador da Pedra de Sangue, também passado nas mãos do primeiro Rei da Noite, cujo seu verdadeiro nome foi apagado da história. Ele governou a partir de Forte Noite. Ele foi o décimo terceiro Senhor Comandante da Patrulha da Noite. Ele era um grande guerreiro que supostamente não conhecia o medo. Um dia, ele viu uma mulher pálida em cima da Muralha e se apaixonou. Ele a trouxe de volta para Forte Noite e nomeou-a rainha e se nomeou rei. Com Feitiçaria, ele ligou os outros irmãos da Patrulha da Noite a ele e governou por treze anos. Foram precisas as forças combinadas de Joramun e seus selvagens e os Starks e os seus exércitos para destruir o Rei da Noite. Depois que ele foi destruído, eles descobriram que ele tinha oferecido sacrifícios para os Outros, e por esse crime, todos os registros de seu nome foram dizimados, porém o livro que ele usou para aprender os meios mais obscuros da magia ficou esquecido até Melkor o achar.

De repente, uma outra voz falou, internamente ela tomou conta do Senhor Comandante, colocando-o sobre sua sombra novamente. Suave e melodiosa, agora o próprio som da voz de Melkor era como um encantamento. As pessoas que escutavam aquela voz desavisadamente mal conseguiam depois reportar as palavras que tinham ouvido; e quando conseguiam titubeavam, pois pouca força restava nelas. A maior parte do que conseguiam lembrar era o prazer que sentiram ao ouvir a voz falando, e que tudo o que ela dissera parecera sábio. Para muitos, apenas a voz era o suficiente para mantê-los cativos; mas para aqueles que eram seduzidos por ela o encantamento perdurava mesmo quando estava longe, e eles continuavam escutando a voz suave sussurrando e incitando-os. Mas ninguém ficava impassível; ninguém conseguia recusar seus pedidos e seus comandos sem um esforço de mente e de vontade, enquanto a rainha tivesse controle dela. -A Senhora Cersei é sábia, destemida e bela. – disse Melkor. -Lhe darei todas as informações, se assim o desejar. Pois encontrei alguém que está à minha altura em cortesia. De um modo gentil, você não sucumbiu ao teste que apliquei em seu coração em nosso primeiro encontro. - A voz que saia da boca de Melkor trazia visões esclarecedoras para a mente da loira, tornando tudo o que ele dizia, sensato e coerente. -Agora começa a enxergar com olhos agudos. Não pode negar que seu coração desejou muito pedir o que estou lhe oferecendo. Por muitos longos anos, você pensou o que faria, caso um grande poder de mudar as coisas chegasse em suas mãos, e veja! Ele está agora ao seu alcance. - As palavras da natureza sabiam como seduzir o coração humano, embora não desprovida de verdades, as palavras tinham muitas interpretações, mas as pessoas enxergam aquilo que querem. -O mal que foi concebido há muito tempo continua agindo de muitas maneiras. Vocês filhos dos Ândalos e Primeiros Homens nunca poderão o derrotar, pois no fundo do seu coração você sabe, vocês são o mal. Os filhos da vida falharam com esse mundo, cabe agora aos progenitores do fim e do recomeço, filhos do Grande Outro, iniciarem o processo de restauração. Eu sei o motivo de sua visita. Não teria sido uma ação nobre, se eu tivesse ameaçando minha hóspede? - As palavras mostravam um grande poder, porém não único, afinal a habilidade de ler mentes também estava presente nos filhos de R'hllor. -Eu te ofereço um grande poder livremente, nós reinaremos quando tudo estiver acabado e recomeçado! E ouça bem, Cersei. - disse ele, vindo em sua direção e falando agora com uma voz mais suave. -Eu disse nós, pois poderá ser nós, se quiser se unir a mim. Um novo poder se levantou. Contra ele, as velhas alianças e políticas não nos ajudarão em nada. Não há mais esperança nos humanos de Westeros ou na agonizante Essos. Aqui esta então uma escolha diante de você, diante de nós. Podemos nos unir a esse poder. Seria uma sábia decisão, Cersei. Existe esperança por esse caminho. A vitória dele se aproxima, e haverá grandes recompensas para aqueles que o ajudarem. Enquanto o poder crescer, os que se mostrarem seus amigos também crescerão; e os Sábios, como você e eu, poderão, com paciência, vir finalmente a governar seus rumos, e a controlá-lo. Conhecimento, Liderança, Ordem; todas as coisas que até agora lutamos em vão para conseguir, mais atrapalhados que ajudados por nossos amigos fracos e inúteis. Não precisaria haver, e não haveria, qualquer mudança em nossos propósitos, só em nossos meios. Quando tudo recomeçar, começaremos um mundo novo, sem guerras e maldade.  - Com frivolidade fez ele esse voto, como sempre; e, em seu íntimo, ela ria. Foi assim que o grande ladrão conseguiu seduzir a que lhe era inferior. As palavras a esquentariam em seus sonhos, e existiriam quando acordadas, porém como se a própria Cersei tivesse inventado a cena, tornando-a real apenas se aceitasse o laço.

Presentes:

Melkor. 

Com um toque de mãos o laço se criou. A luz foi consumida pelas trevas mais uma vez e agora não tinha mais volta. -Escolheu sabiamente, minha amada. - sua voz era encantadora e gentil, como tinha de ser. Melkor se levantou ainda mantendo as mãos de Cersei sob as dele, deu a volta na mesa e parou ao seu lado. -Você não acredita no destino, sabe que não. Tudo é mérito seu, apenas seu, e você sabe que merece ser recompensada. Abrace sua razão. - ele era sedutor com as palavras, capaz de corromper o mais puro dos homens apenas com o poder de sua influência. O influxo que residia em sua voz era até palpável. -Que os falsos e corruptos sucumbam perante a sua purgação. - quando ele terminou de falar, a loira já tinha se levantado. Ambas as mãos entrelaçadas em um vínculo profético, o laço finalmente era consumado com um beijo frio.

Dois corações que batiam como um só. As palavras de Melkor ressoavam, doces, no ouvido de Cersei. Os dedos desatavam os cordões e a língua dele estava na sua boca. A direita deslizava pela cintura de Cersei, mantendo-a junto dele como um nó poderoso. A outra acariciava sua nuca, enterrando-se em seus espessos cabelos loiros enquanto o beijo acontecia. Sem que percebessem, ambos estavam nus. Aquela era a verdadeira canção de gelo e fogo. A dança de Melkor e Cersei.

Melkor. 

Cersei não tinha ciência de seu poder naquele momento. Melkor a envolvia com uma energia tátil, porém aquilo não se resumia a submissão da mulher. Assim como o frio pode desfazer o fogo, o fogo pode desfazer o frio. Profecias não se importam com vencedores, é uma faca de dois gumes. Independente do submisso e do insubmisso, a profecia se concretizará. Uma semente amadureceria devido ao laço, era isso que importava.

A mulher em um súbito ato de clareza se distanciou do Senhor Comandante, ainda que ofuscada. -Você é livre para escolher. Você é livre para fazer o que quiser. Este é o mundo que criarei, mas só com a sua ajuda isso é possível. - ele caminhou na direção da mulher, alto e grave, porém não a emparedou.

Dentro de cada ser humano existe ganância. A cobiça. Sem a cobiça ninguém poderia pecar, é a cobiça o alvo de toda tentação, e esses desejos se encontram dentro do coração dos homens. Melkor sabia disso, porém repugnava esse desejo. Um filho da natureza, mesmo tendo noção desses atributos é criado para destruí-lo, por isso que Melkor era a melhor arma da Rainha da Noite, enquanto ainda era homem. Ela não poderia exercer sua vontade sobre ele para sempre, aquilo o mataria e ela o queria como uma importante peça na restauração dos vivos e do correto. Ele agiria então, estimulando a esperança ou desejo com o propósito de corromper, de perverter. A pessoa seduzida é dominada por encantamento e convencida pelas promessas. Sabendo disso, ele seduz simplesmente dando o que querem como uma recompensa, um modo de vida. Porque ele entende das coisas dos homens e das coisas do divino. Cersei o questionara, então, suas dúvidas se tornaram sua fraqueza e por isso a força de Melkor crescia. -Noutro tempo, andei, seguindo o curso deste mundo, ao lado do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais eu também, antes, andava nos desejos de minha carne e dos pensamentos. És por natureza filha da ira, como os outros também. Mas agora, neste momento, você deu o primeiro passo para seguir o caminho correto, o caminho da verdade. Tanto tempo seguindo a trilha oposta, faz com que o pareça errado. Ainda assim, você é livre para seguir o caminho que quiseres. - ele ergueu sua mão direita, tocando e acariando o rosto da jovem. -Me aceite e lhe darei um coração novo e porei dentro de ti um espírito novo. Arrancarei o coração de pedra da sua carne e lhe darei um coração de carne. E colocarei dentro de ti o meu espírito e minha semente, farei que você ande nos meus caminhos, e lhe ensinarei o meu juízo. E te livrarei de todas as imundícias. - ele se aproximou o suficiente para ela sentir sua respiração e examinar a verdade em seus olhos. -Eu te amo, Cersei. Deixe eu tentar fazê-la me amar também.