[RP FECHADA] KING'S SMILE

Já estávamos parados por muito tempo. Mesmo em nossos domínios aquilo era um comportamento perigoso. Era minha primeira vez no comando do Bastardo, um dos navios mais velozes da frota de Ponta Tempestade. Era também minha primeira vez no comando de qualquer navio. A tripulação não tinha qualquer limitação quanto a receber ordens de alguém do sexo feminino, mas parecia incomodada com o fato de termos zarpado sem o consentimento de Peter. Afinal, ele era o Lord. As coisas não estavam melhores agora que tudo que tínhamos diante de nós era mar aberto e vazio. Não havia sinal dos mensageiros de Cyrenna, e eu começa a me preocupar.

As ondas e o vento frio não me assustavam. Os Baratheon eram forjados no mar, criados como parte dele, mesmo que não fossemos tão próximos das águas como os Greyjoy. Era injusto estabelecer uma comparação como aquela. Mesmo coberta de glórias, a casa Baratheon havia nascido com a Guerra da Conquista, não descendíamos de qualquer divindade lendária, como os Greyjoy alegavam descender. Era conhecido que Urras Greyjoy havia sido o primeiro de sua casa a ocupar o trono das Ilhas de Ferro, mas de onde teria vindo ele? Minha ama sempre me dizia que aquilo não era uma questão para mim, pois as Ilhas eram uma realidade distante e assim deveriam permanecer. Mas eu jamais resisti a uma narrativa.

Urras era um dos muitos filhos do chamado Rei Cinzento. Tal monarca possuía olhos acinzentados como o mar do Norte, o que lhe renderá a alcunha eterna. Diziam que o Rei Cinzento havia trazido fogo a Terra ao irritar o Deus da Tempestade, teria sido ele o primeiro a matar um dragão e ver a carcaça do mesmo ser transformada em pedra pelo Deus Afogado, além de ter se casado com uma sereia para que seus filhos pudesse viver tanto em terra quanto no mar.

Ele teria vivido e governado por mais de mil anos, tendo cem filhos, que guerrearam entre si pelo controle das Ilhas de Ferro. No fim, após quase se destruírem, os dezesseis irmãos restantes entraram em uma acordo, dividindo as terras entre eles. Todas as casas da região desde então alegam possuir o sangue do Rei-Deus Cinzento, que descansa ao lado do trono do seu Deus Afogado. Não havia espaço para essas lendas entre os veados coroados de Ponta Tempestade. Éramos oque éramos e assim seríamos até o fim, vindos de sangue bastardo e sangue real, transcendendo o tempo com a mais refinada fúria.

Deixei meus devaneios quando velas azuis surgiram ao longe. Todos os homens esticaram seus pescoços e eu não contive um sorriso. Pedi que todos ficassem em alerta, mas sabia que logo identificaria a águia dourada de Arryn. Caminhei pelo convés e me pendurei na frente do navio, estreitando os olhos para o horizonte. Não sabia oque Cyrenna havia preparado, mas meu estômago já revirava com a expectativa.

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Não foi preciso muito tempo para que o navio se aproximasse. Não fiquei surpresa ao notar que haviam muitos guardas a bordo, como se a carga fosse tão valiosa quanto a própria senhora do Vale. Meus homens permaneceram ressabiados, até que uma prancha foi estendida entre os dois navios, de âncoras baixadas um paralelo ao outro. Um dos meus guardas tomou a frente, enquanto um cavaleiro do Vale, de semblante calmo e sério, atravessava o caminho suspenso sobre as águas. O homem parou diante de mim e fez uma profunda reverência, imediatamente me peguei invejando a postura militar dos homens de Arryn, que perdiam todas as limitações humanas e mais se pareciam com as aves de rapina que traziam no peito.

O poder e a majestosidade eram inatos a Casa Arryn e seus subordinados. No Vale não havia nada sem beleza, mesmo a morte, era bela e sedutora como uma taça prateada de vinho. Muitos anos antes, na Guerra da Conquista, outra mulher tinha se elevado sobre o Vale como Senhora Regente. Para muitos, parecia destino da região ser comandada pelas mães de seus legítimos senhores. Seu nome era Sharra Arryn, a Bela, viúva e rainha no lugar do rei-menino Ronnel Arryn. Sua beleza era tão famosa quanto o seu nome, e pelo que ouvira de Cyrenna Lannister, nisso ambas era também parecidas. Era esperança de Sharra se unir a Aegon, o Conquistador, através do casamento, para fazer do filho herdeiro de toda a vastidão da Westeros conquistada. Mas a pureza de sangue era algo muito importante para os Targaryen, logo, a proposta foi recusada.

Assim, o Vale foi pra guerra, e teria vencido, não fosse pelo dragão Vhagar. Mesmo os belos e bem treinados homens de Arryn caíram perante o fogo da Valíria, mortos no Portão Sangrento. Sharra voltou ao Ninho na intenção de se refugiar com seu filho e reorganizar suas tropas, mas para seu profundo desespero, encontro o menino sentado no colo de Visenya Targaryen, perguntando se poderia montar o dragão Vhagar. A mãe não teve outra saída senão dobrar o joelho, contentando-se com o título de Guardião do Leste para o seu amado filho. Sharra havia sido pega de surpresa pela vulnerabilidade do filho, e eu duvidava que Cyrenna fosse se deixar cair na mesma armadilha. A leoa não permitiria que o fedelho fosse tocado nem mesmo por um dragão.  

- Lady Cyrenna manda seus cumprimentos e recomenda mais uma vez o máximo de zelo, minha senhora. - Disse o homem, enquanto outros se movimentavam atrás dele. - Tranquilize sua senhora. O objeto está em boas mãos. - Garanti. O homem franziu o cenho. - Objeto? - Questionou. E antes que fosse minha vez de parecer confusa, uma figura miúda de cabelos escuros apareceu acompanhada de uma ama. Não parecia ter mais de quatro anos, parecia assustado e esfregava os olhos. Era um menino. Usava vestes finas e parecia muito bem tratado, e logo meu coração foi tomado por espanto e potencial alegria. - Isso é algum tipo de brincadeira, Sor? - Perguntei. O homem se limitou a acenar, enquanto outro soldado pegava a criança no colo e atravessava de um barco pro outro com ela.

Dei um passo para trás por instinto. Ele parecia um pouco mais novo que Brienne, olhando de perto. Minha voz sumiu, e coube ao cavaleiro falar por mim. - Tudo que precisa saber será explicado pela ama. Ela acompanha o pequeno senhor desde seu nascimento. Apenas adianto que seu nome é Orys. Orys Snow. - Meus olhos queimaram quando o pequeno ergueu os olhos para mim ao ouvir seu nome. Não havia dúvidas, a criança não possuía o olhar de Cersei mas certamente tinha o seu sangue. Assim como Sharra eu estava diante do meu rei-menino. O que teria acontecido com minha irmã em sua jornada? O que teria feito ela se distanciar de Orys? Me abaixei até conseguir encará-lo, e corri minha mão enluvada pelo seu rosto, ainda sem conseguir acreditar. As lágrimas queimaram meu rosto sem o menor pudor, enquanto eu sorria como uma tola. - Bem-vindo ao lar, Orys. - Disse.

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