[Corrida de cavalos] Prova One Post

Por fim o momento chegara, e a princesa tentava controlar o rebuliço de emoções que a abalavam. A prova de cavalos estava prestes a acontecer, e ainda que tivesse noção das habilidades que conseguia revelar quando se encontrava sobre o dorso de Orys sabia que, certamente, cavaleiros muito mais experientes competiriam contra si.

Talvez por sentir o nervosismo da cavaleira, quem sabe, Orys manifestou-se ruidosamente. Leana levou a mão até à cabeça do cavalo branco, acariciando o seu pelo demoradamente e sorrindo. Porque é que se sentia tão ansiosa à conta do desfecho daquele evento? Afinal, além de ser uma competição, era uma oportunidade para a menina e o cavalo se apresentarem a Porto Real e a todos os seus convidados e mostrarem do que eram capazes quando trabalhavam em conjunto. Não havia nada a temer; ela só tinha que subir para o dorso do seu cavalo e fazer o mesmo que fazia habitualmente.

Olhou em volta à procura da sela e das rédeas de Orys, não as encontrando de imediato. Quando as encontrou, apressou-se a prendê-las ao seu companheiro de tantas aventuras e explorações, os dedos ágeis atando o couro das rédeas à sela trabalhada com detalhes em ouro. Após preparar o animal e confirmar que tanto Orys como ela própria estavam prontos para a competição, Leana respirou fundo e abandonou os estábulos provisórios que tinham sido construídos especialmente para o torneio e para os participantes das justas e prova de cavalos, que precisariam de deixar os seus cavalos num lugar próximo ao ponto onde as provas ocorreriam.

Esperava não chamar especialmente à atenção, porém o belo vestido cor-de-sangue com bordados luxuriosos em linha dourada e mangas rendadas em padrões flamescentes que mais pareciam chamas de verdade a tentarem ganhar vida e sair do tecido, bem como a tiara dourada sobre os fios prateados, não deixavam muita sombra de dúvidas. Aquela era Leana Targaryen, a mais jovem das filhas de Daemon Targaryen e Megga Baratheon. E, ao que parecia, a notícia sobre o infortúnio que quase retirara prematuramente a vida da menina já corria pelas bocas do povo. À sua passagem as pessoas segredavam umas às outras, fixando os seus olhares intensos e avaliativos e fazendo com que a jovem princesa se sentisse desprotegida, quase como se estivesse a meio da Caminhada da Expiação.

Memórias do incidente matinal voltaram-lhe a atravessar a mente, enviando um arrepio electrizante através do seu corpo. Ainda que tivesse tentado deixar o assunto cair no esquecimento, a ideia de que alguém queria a sua morte e que, de facto, quase a conseguira, era assustadora. Se não fosse por Zakintia, Leana podia não estar a respirar naquele momento, prestes a participar na sua primeira prova. Sorriu com o pensamento da Sacerdotisa Vermelha, que além de ser a sua salvadora, parecia ser também alguém amável e de bom coração, preocupada, realmente. Depois de se conhecerem ainda tinham ficado a conversar por algum tempo, tendo também a honra de serem acompanhadas por Aileen Arryn, irmã do Lord do Ninho da Águia, e nesse período de tempo relativamente curto tanto a mulher de vermelho como a bela Lady Arryn tinham-se tornado quase ídolos da menina.

Por fim, chegou à tenda onde a competição iria acontecer, uma das maiores por sinal. Olhou instintivamente para a bancada onde a sua família esperava pacificamente pelo início da prova, cruzando o seu olhar com o da mãe. Cortou o contacto visual logo a seguir, assim que os organizadores da competição chamaram a atenção dos participantes - que eram muitos mais, comparativamente com algumas outras provas - e anunciaram que o evento teria início em alguns minutos, ordenando que os cavaleiros se colocassem nas suas posições. Aquele era o momento.

Leana puxou levemente as rédeas, movendo-se em conjunto com o cavalo num trote ritmado e colocando-se em frente à pista correspondente ao número que lhe fora atribuído. Sete. Os batimentos dos tambores soavam quase como um grande coração pulsante, aumentando o seu nervosismo mas, ao mesmo tempo, dando-lhe uma concentração que até ali não tivera. Encheu o peito de ar, segurou as rédeas firmemente e focou a sua visão no ponto onde a pista acabava, libertando o ar que inspirara. Nós conseguimos, Orys. O rufar dos tambores intensificava-se, martelando nos seus ouvidos e ecoando na sua mente. Ela estava pronta para descobrir qual seria o desfecho daquela prova.

E os tambores pararam de tocar.

A jovem sacudiu as rédeas com alguma violência, ouvindo o relinchar do cavalo, que logo arrancou velozmente. Os outros cavaleiros e cavalos também arrancaram, porém Leana não estava concentrada em nenhum deles, apenas no seu objetivo.

O vento varria os seus cabelos e o vestido que trajava, trazendo-lhe de volta aquela euforia e a sensação de liberdade que sempre a preenchiam quando montava Orys. Eram aquelas sensações que a tinham motivado a participar na competição: a ligação entre a cavaleira e o cavalo e a forma como os dois se deslocavam, rompendo o ar como se de uma flecha se tratassem. Velozes e imparáveis.

Já não faltava muito para alcançar a meta. As coisas ao seu redor passavam por si como se nada fosse, desaparecendo para lá do seu ângulo de visão. E o fim da pista aproximava-se furiosamente ordenando-lhe que parasse, pelo que a menina segurou as rédeas com ainda mais força, os nódulos dos seus dedos brancos. Quando já estava mesmo a beirar a meta, puxou-as, interrompendo assim aquela corrida. Então, um pensamento ocorreu-lhe: e se, de facto, ganhasse?