[RP fechada - Flashback] - We Remain

— Isso é tudo que podem me dizer? — Indagou Alina. — Não sabem quantos são ou se estão perto... Nada?

Os quatro homens estavam dispostos em diferentes pontos da cozinha, mas todos eram capazes de encará-la nos olhos. O mais velho levantou-se de uma cadeira e resmungou em resposta:

— Nossa missão era apenas vir até aqui e avisá-la da situação. — Ele franziu o cenho. — Além do mais, somos soldados, não mensageiros.

A Greyjoy cerrou os punhos. Não tinha tempo para discutir a incompetência alheia, precisava se preparar logo.

— Você, vá lá fora e recolha lenha para uma fogueira. — Ela apontava para cada um conforme designava as tarefas. — Você, vá acender o fogo com o que temos e já coloque a lâmina de sua espada nas chamas. Vocês dois, tirem tudo de cima dessa mesa, algo me diz que vamos precisar desse lugar livre.

A mulher começava a prender os longos cabelos escuros em um rabo de cavalo quando ouviu o mesmo rapaz respondê-la.

— Quem pensa que é para nos dar ordens assim? — Riu.

— Eu não ligo se acham que sou só a filha de um homem rico que deu sorte, um rosto bonito e indefeso ou a puta do seu capitão. — Ela praticamente rosnava. — Mas para os próximos soldados que passarem por essa porta, eu sou a única chance que eles tem de não sangrar até morrer. — Disse, dando um passo à frente. — Então ou obedecem agora, ou vamos todos sentar aqui e assistir seus amigos agonizarem sabendo que a culpa é de vocês. — As palavras seguintes saíram como um sussurro. — Estamos entendidos?

Ninguém disse nada, mas era como se na testa de cada um deles estivesse escrito "Sim, madame". Os passos pesados ressoaram no piso de madeira enquanto cada um cumpria com as ordens dadas pela jovem.

Movendo-se com rapidez pelos cômodos da casa, recolheu tiras de pano limpo, uma bacia com água e outra vazia. Na segunda volta pelo lugar, recolheu uma garrafa com álcool e alguns outros itens que poderiam vir a ser úteis.

Assim que colocou tudo na bancada mais próxima, a porta se abriu com um estrondo. O que estava buscando lenha anunciou com urgência:

— Eles chegaram.

E, antes que mandasse e visse todos entrarem, a dama de ferro arrependeu-se por não ter dado um longo gole na garrafa de vinho mais próxima. Aquele seria um turno difícil para qualquer um, mas Alina gostava de desafios.

Assim que os homens atravessaram os umbrais da porta, os olhos de Alina percorreram rapidamente todos os seus ferimentos enquanto seu marido explicava a situação. Notas mentais de como trataria cada um eram feitas em questão de segundos até que ela resolvesse se pronunciar.

— Coloquem o garoto com o maior corte no abdome deitado em cima da mesa agora. — Ela apontou o local. — Deixem os menos urgentes sentados e conversem com eles o tempo todo. Nenhum deles pode dormir.

Enquanto os rapazes cumpriam sua ordem, lavou as mãos antes de se aproximar e remover os trapos que cobriam o corte. Analisando o ferimento com cautela, percebeu o quanto aquele à sua frente havia sido sortudo. Mais alguns centímetros de profundidade e seus intestinos estariam do lado de fora.

Umedecendo um pano limpo para remover a sujeira e manchas de sangue no exterior, a Greyjoy resmungou para o soldado que milagrosamente estava desperto.

— Espero que sua foda tenha valido a pena. — O tom era audível para todos na sala.

Teve um sorriso de canto como resposta, mas que se dissipou e foi substituído por uma careta de dor assim que ela começou a antissepsia no abdome do desafortunado com movimentos paralelos ao local aberto. A cada duas ou três repetições do movimento, espremia o pano e o mergulhava em água limpa novamente.

Ao fim do processo, caminhou até o balcão e tomou a garrafa com álcool em mãos contendo o divertimento em sua expressão. Era hora de limpar o seu interior e diminuir o risco de infecção antes de fechá-lo.

— Segurem as mãos e pés dele. — Orientou e logo dois homens estavam nas extremidades opostas da mesa. — Tente não gritar alto demais, pode acabar com o resto de dignidade que ainda tem. — Brincou e dirigiu o olhar a seu marido em seguida. — Memphis, há uma espada lá fora cuja lâmina está no fogo. Preciso que pegue-a porque assim que limpar isso, precisamos cauterizar no menor espaço de tempo possível.

O capitão acenou com a cabeça e saiu.

Encheu um pequeno copo com álcool na mão esquerda e despejou o conteúdo de uma vez só no interior do corte enquanto na destra tinha uma nova tira de pano. O grito veio de forma quase instantânea e não melhorou com a compressa forte no lugar para cessar o sangramento que ainda insistia, bem como remover o excesso de líquido que se acumulou.

Na mesma hora, seu companheiro entrou. A porção de aço da arma estava vermelha.

— Alguém dê um pedaço de couro para que ele morda. — Ordenou ao ver o jovem já começar a se debater. Ele sabia o que estava por vir. — Segurem-o com toda força que tiverem.

Assim que uma tira das vestes de algum dos rapazes estava entre os dentes do que estava sobre a mesa, tomou para si a espada e fez uma prece silenciosa para que o Deus Afogado tivesse misericórdia daquele garoto.

Aproximou as duas bordas do corte e com uma contagem regressiva breve, finalmente encostou o metal quente na pele. O cheiro de carne queimada incensou a cozinha e pareceu competir pelo domínio do lugar com os gritos sufocados por segundos que pareceram uma eternidade até que ela visse que bastava.

O rosto do ferido estava vermelho, sua respiração era ofegante e seus olhos fitavam algum ponto distante. Alina soltou a espada no chão e levou dois dedos até seu pescoço e ficou tensa até sentir seu pulso.

Sorriu.

— Ele está vivo. — Anunciou. — Cubram o local com um pano úmido e coloquem ele deitado em algum outro cômodo. Deem água para que ele beba e me avisem caso ele piore. Seus arranhões e hematomas serão tratados depois, o pior já passou.

Olhou ao redor e percebeu uma onda de alívio lavar o rosto dos presentes. Partilhou daquele lampejo de alegria antes de passar o dorso da mão na testa suada e dizer:

— Tragam o próximo.

O caso seguinte era consideravelmente mais simples, o que não significava dizer que a solução para o problema do garoto seria menos dolorosa. Enquanto ele era colocado na mesa com a ajuda de colegas, virou-se para o marido e lançou um falso olhar de repreensão.

— Tente não se divertir demais com isso. — Sorriu.

Resolveu começar pelos cortes. Era seguro afirmar que o procedimento seria mais tranquilo do que o anterior, especialmente com relação ao comportamento do paciente atual.

O mais preocupante era um corte no antebraço. Com movimentos ágeis, encheu um pano com água já não-tão-cristalina e limpou as extremidades até que a sujeira escorresse, caísse no chão e a garota não visse mais a típica mistura de areia e sangue que encontrava.

Encharcou o último trapo limpo em álcool e o passou primeiramente nos arranhões, fazendo uma breve pressão em cada um para que não houvesse mais sangramento. Por último, deixou-o pousado alguns segundos no ferimento maior.

Ao retirá-lo, rasgou a manga da blusa que utilizava e a utilizou para enfaixar o braço, finalizando o curativo com um nó duplo.

— Vamos para a parte que você não vai gostar. — Ela afirmou em tom travesso e apontou para o soldado mais próximo. — Você, pegue dois pedaços de madeira que sejam mais ou menos do mesmo tamanho e trate de arrumar alguns pedaços de corda.

Pediu para que o rapaz ferido sentasse na beirada da mesa, de forma que a porção do joelho para baixo pendesse no ar.

A diferença estética entre o membro saudável e o deslocado era gritante, de forma que até mesmo o pé do rapaz ficasse com um ângulo estranho. Alina sentou-se no chão de frente para o jovem e cruzou as pernas.

— Está pronto? — Indagou, recebendo um aceno positivo como resposta. — Ok, no três. — Sendo dito isso, Segurou firmemente a panturrilha deste com as duas mãos. — Um... — E ali mesmo executou o movimento.

Um puxão rápido e forte para baixo, seguido de um giro para a porção medial do corpo e um leve encaixe infero-superior. Novamente, a ação foi seguida de um grito hesitante mas também do riso do capitão.

Seu subordinado chegou com os itens que havia solicitado. Colocou os dois galhos retos dos lados do joelho e os envolveu com voltas firmes da corda até que esta acabasse com um nó simples. Nem se quisesse, poderia mover a perna.

— Problema resolvido. Não pise com força no chão e nem ande nos próximos dois dias. — Disse, levantando-se. — Depois disso, estará novo em folha.

Cruzou os braços à frente do corpo e arqueou uma das sobrancelhas em um convite silencioso para que levassem até ela o outro ferido.