[RP Fechada] --- Sorry my love

Todos os homens carregam o homicídio no coração.

As aflições da carne nunca se compararam as do coração. Demônios sempre habitaram o íntimo de Kormon, e em noites sombrias tomavam formas para assombra-lo. O loiro naquela madrugada virou em todas as direções possíveis de sua cama, buscando encontrar uma posição confortável o suficiente para o corpo acalmar e adormecer, mas encontrava apenas uma única coisa em sua mente, algo que impedia seu ser de encontrar paz; a imagem de Mérope em sua mente.

Não mais dormiria. Dez minutos passaram e o nobre estava de pé á frente de suas ervas e frascos, destilando o sulco adocicado de flores azuis juntamente com o chá fervido das mais calmantes sementes encontradas em toda Westeros. A mistura aos poucos assumia uma coloração perolada com fraca tonalidade rosa, não incolor porém boa o suficiente para ser misturada ao vinho. Meia hora oi o suficiente para o homem conseguir preparar uma pequena dose, fraca e não muito útil para os seus verdadeiros propósitos soníferos, mas ainda assim forte o suficiente para acalmar uma pessoa e agir sobre o sistema nervoso contendo descargas de adrenalina.

Algumas gotas caíram como choro sobre uma taça do mais velho entre os vinhos de Dorne armazenados em sua adega, uma cor abraçando a outra até encorparem de forma homogênea. Kormon esperava que aquilo funcionasse, principalmente pela sede que sua irmã poderia ter depois de passado algumas horas presa, caso contrário seu esforço seria em vão.


O bater oco de dedos sobre a porta apenas serviu como solenidade, não foi esperado uma resposta até a passagem ser escancarada. Alguns servos invadiram o cômodo onde Mérope descansava, nada dizendo para a morena enquanto arrumavam em um canto alguns quitutes, entre eles pedaços generosos de pão, torta de morango, bolo de limão, a taça de vinho e uma tigela repleta de cozido. Velas aromáticas passavam a perfumar e iluminar o ambiente, feitas da mais pura cera de abelha. Músicos no corredor tocavam uma sonata composta por uma única nota chamada "amor". Pouco tempo foi necessário até tudo estar organizado como ordenado, deixando o último detalhe ser atribuído pelo próprio lorde.

O homem alto e loiro, vestido com uma espécie de roupão feito da mais fina seda. A peça  era em sua maior parte colorida com uma viva tonalidade vermelha, adornada com detalhes pretos. Sobre as mãos de Kormon, que estava com sua barba por fazer, um emaranhado de rosas azuis coloria o local, cada uma das flores repleta do mais inebriante perfume campônio, colhidas plantadas e colhidas especialmente para servir como presente á belas e importantes visitantes que fossem ao Dente Dourado.

Os passos do lorde pareciam pedir permissão para completarem o toque sobre o solo, tão vagarosos que o tempo parecia congelar. Todos os empregados se foram ao notarem á presença do homem, ficando apenas os músicos á tocar seus instrumentos no corredor, suas músicas sendo abafadas pelo fechar da porta. Uma atormentadora troca de olhares surgiu entre o homem e a mulher. Não conseguia esconder o que suas almas sentiam. As flores pousaram sutilmente junto a cama da loira.

- Mérope...

A voz arrastada do homem não parecia ter a mesma calmaria e sedução persuasiva, parecia mais natural, regada com uma tristeza cultivava por anos de existência em um inferno pessoal. Kormon observou a marca deixada sobre o semblante de sua irmã, sentindo seu coração ser apertado como uma mão invisível o agarrasse dentro do peito.

- Você...

As palavras começavam a embargar entre as cordas vocais, as quais pareciam ter dado um nó. O lorde por um momento deu de costas para a mais nova, segurando um pequeno vaso com a destra. Um segundo passado, o objeto feito da mais bela cerâmica quebrava sobre a parede, estraçalhado assim como o coração do loiro estava.

- Droga, o que você me obrigou a fazer!

Os olhos verdes brilhavam não contendo lágrimas sinceras. Quando Kormon voltou a virar o corpo em direção á mulher, traços umedecidos formavam caminhos pelo seu belo rosto, mostrando fraquezas apenas conhecidas por Mérope.

- Você quase colocou tudo a perder, feriu nossa confiança e me obrigou a tomar atitudes hóstil e repugnantes! Droga, eu a amo tanto, olhe seu rosto, não, isso não é nós, não é o que sentimos.

Os lábios rosados tremiam sem controle. Humanamente o homem colocou-se de joelhos entre as pernas da mulher, pousando á cabeça em seu colo, deixando o melancólico pranto tomar conta de suas feições. As mãos de dedos longos tomaram ás de Mérope, trocando calores corpóreos entre carinhos amorosos.

-E-eu... eu estive a pensar. Peço perdão não pelo tapa, mas por nunca ter ousado enfrentar nossos pais, por tê-los deixado afastarem você por tantos anos. Apenas estive completo quando você retornou ao lar, deixando o maldito Rochedo para trás, assumindo um papel que nenhuma outra mulher jamais conseguirá preencher, o de minha amada companheira. Não posso perdê-la, entende o quão importante tudo isso é para mim?

O rosto aos poucos foi erguido sem vergonha alguma, deixando ambos os olhares cruzarem.

-  Você não é o meu sol, lua ou estrelas, você é minha vida. Eu a amo como nunca antes consegui amar ninguém, nunca fui amado.

A mão esquerda do lorde tocou a região não ferida do rosto, acariciando a bochecha rosada da loira. Os lábios encontraram os da mulher, roçando apaixonados sem ousar completar o beijo. Certamente aquele momento não teria apenas flores e amores, ele estava preparado para isso.

- Eu a amo tanto...

Murmurou, afastando-se para longe, escorando o corpo sobre o batente de uma das janelas, contemplando a escuridão como uma velha companheira, apesar de muito querer vislumbrar á beleza da lua, astro prateado que simbolizava Mérope em sua vida, um imenso farol capaz de ofuscar as estrelas e iluminar á escuridão.


Obs: Aas músicas tocadas pelos músicos são uma versão medieval/instrumental das composições modernas "Let her go", 'Stay with me", "I'm not the only one", "Love somebody" e "Thinking out loud". Todas elas também foram utilizadas como inspiração ao post, sendo ouvidas durante a confecção do texto.

Habilidade treinada: