[RP Fechada] {Flashback} Ashen Memories

Profecias nunca são o que parecem ser. Primeiro que surgem sem aviso, e terminam tão abruptamente quanto começam, sejam logo após o momento em que foram vistas até eras após. Algumas não faziam sentido - outras eram apenas imagens que apareciam e sumiam com tamanha rapidez que mal era possível interpretá-las.

A magia corria forte em Asshai, e essa era uma das razões pelo qual profecias eram profundamente estudadas, já que frequentemente apareciam nas visões dos sacerdotes através das gerações. Como aprendiz de uma sacerdote, enfim, Daaren começava a compreender que era por meio de profecias que seu Deus se comunicava com os servos, que assim podia prever o futuro. Era uma habilidade rara - apesar de aparecer frequentemente nos sacerdotes vermelhos, ainda poucos sabiam como utilizá-las bem, e menos ainda recebiam mais do que uma em toda sua vida. A mulher que outrora fora mestra de Daaren era uma sacerdotisa que tinha um conhecimento além do comum.

— Por que não posso ver nada nas chamas como a senhora? Por quê? Não possuo fé suficiente? O Senhor da Luz não confia em mim? — Certo dia, Daaren indagou.

— Sua fé pelo Senhor da Luz não lhe servirá de nada se não souber utilizá-la bem. — Lhe dizia.

"Eventualmente, Deus lhe traçará planos e você deverá segui-los com afinco. Como fiéis seguidores d'Ele, temos a responsabilidade de abrir caminho para que tudo ocorra de acordo com os planos traçados pelo Senhor. E só sabemos o plano dele através das chamas - através das visões que Ele nos concede, e é assim que você se torna um verdadeiro sacerdote vermelho.

Nós precisamos estudar sinais nas chamas, pois nem sempre o caminho mais fácil é o mais óbvio, e por menos ainda será o correto. Cada mensagem deve ser cuidadosamente analisada, pois um tropeço na bifurcação que o Senhor da Luz traçou poderá lhe custar sua vida e, pior ainda, sua fé. O que temos de mais importante então, Daaren, não é nosso poder de manipular o fogo, prever o futuro ou ressuscitar entidades mortas. Nossa missão vai além do que nos reserva neste plano mortal: somos guias, apenas, daqueles que ainda não encontraram seu caminho na escuridão."

— Então não te preocupes, meu jovem. Você ainda não vê porque ainda há a mim para guiar as almas perdidas em Asshai, como a ti próprio. Quando, enfim, puderes ver algo que eu não posso, será porque não serei mais necessária nos planos do Senhor.

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A sacerdotisa do templo já era velha quando a conheceu, então já era de se esperar que possuísse saúde ainda mais frágil 15 anos depois. Com uma doença aparentemente sem cura, os poderes da sacerdotisa se esvaiam junto com sua vida. A cidade estava especialmente mais escura naquele dia, o que só acentuava o clima mórbido formado ao redor do templo.

— Jamais te esqueças do que lhe ensinei, Daaren. Jamais te esqueças de liderar o rebanho de ovelhas que são as almas que não foram tocadas pelo Senhor da Luz; seja seu pastor, seja seu guia. E, mais importante, nunca deixe sua fé morrer, e não desvie do caminho que R'hllor lhe traçar. Cuide do templo por mim, nosso mais novo sacerdote.

Ela sorriu. E sua última expressão fora a de uma alegria e dever cumprido. Havia deixado aquela vida com orgulho e grande satisfação. Era tempo de uma nova geração.

Ao final daquele dia, teve sua primeira visão.

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Os olhos de Daaren fecharam-se em agonia. O que tinha visto... O que tinha previsto, deixou-o extremamente perplexo. Ao abrir os olhos, piscou. As chamas bruxuleantes, outrora surrealmente brancas, mostraram criaturas horrendas. Mortos. E seres feitos do mais puro cristal, com olhos brancos, mas opacos, de pupila completamente azulada, avançando contra uma estrutura bem conhecida - a muralha. Uma névoa, com um cheiro fétido de enxofre, saiu das chamas e instalou-se nas narinas do sacerdote. Seres que nunca duvidara da existência, mas que não esperava ver naquela era. Crias do Grande Outro, o inimigo de R'hllor. O apocalipse previsto pelos sacerdotes anteriores.

Daaren se afastou. Saiu de seu transe ao se apoiar na parede ao lado da grande pira que servia como símbolo do Senhor da Luz no templo. O coração acelerado, o sangue correndo quente como nunca antes. Quase conseguiu sentir os próprios olhos arderem em rubro. Seu Deus estava comunicando-o.

— Senhor? — Daaren se virou. Vestia suas túnicas negras, com o capuz sobre a cabeça, projetando-lhe uma sombra sobre o rosto superior. Ao observar o servente do templo, viu que ele se afastava. Repentinamente arregalou os olhos e cobriu a boca com as mãos. — S-seus... Seus olhos!

Exclamou. E Daaren não entendeu.

Com uma urgência descomunal nos passos, quase correu. De fato sentia seus olhos doerem. Queimavam, mas não estava nada quente - ardia, mas era uma queimadura diferente da causada por fogo. Avistou um espelho de mão sobre uma bancada de orações, e foi em sua direção. Pegou-o. Olhou seu reflexo.

Olhos brancos. Opacos. Pupilas azuis.

Lentamente, a cor de seus olhos voltaram ao normal, mas sua aparência nunca esteve tão repugnante. Estava etéreo - seu olhar quase parecia o de um morto. Suas maçãs do rosto estavam salientes, e a pele ficara repentinamente pálida. Inóspito de vida, como se seu sangue estivesse se tornado branco. Percebeu que as queimaduras não eram do fogo, e sim de um gelo tão frio que ardia como se todos os seus órgãos internos tivessem sido congelados.

Severos minutos depois, sua pupila estava negra. Sua pele voltou a se tornar morena, e seu rosto, outrora amedrontador, estava límpido. O gelo em seu coração, entretanto, não desapareceu. Nunca se esqueceria daquilo - jamais sentira tanta dor.

Daaren repousou o espelho sobre a bancada, e respirou profundamente. Sua respiração fez com que nuvens de vapor fossem expelidas dos pulmões, como se estivesse no inverno. Pesadamente, ouviu as palavras ressoarem em sua cabeça.

Spoiler: