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Black Lion

Inexpugnável. É assim que o Vale se vê. Protegido de Westeros por suas montanhas. Eles chamam a entrada para suas terras de Portão Sangrento, porque durante a Era dos Heróis uma dúzia de exércitos supostamente se quebraram contra ele. Mesmo que tivessem passado, as estradas do Vale são estreitas, íngremes e traiçoeiras. Metade dos homens teria caído para a morte certa ou teria a vida ceifada pela neve das montanhas. Ou assim a sabedoria comum diz.

Mas o Vale já foi conquistado. Essas ostentosas montanhas não detiveram os Ândalos que chegaram pelo Mar Estreito. O povo do Vale conta que Sor Artys Arryn, o general Ândalo, voou nas costas de um falcão gigante e matou o Rei Grifo no topo da montanha mais alta. Durante a Conquista de Aegon, uma de suas irmãs fez o mesmo. Voando em um dragão sobre o Portão Sangrento até o Ninho da Águia, onde o rei rapaz Arryn rendeu o Vale em troca de um passeio sobre a fera. Estão percebendo o tema aqui? A racionalização de derrotas com bestas míticas e caprichos de crianças em vez de reconhecer a causa fundamental. A arrogância do isolamento.

Os homens do Vale são tão orgulhosos de suas montanhas que não podem admitir qualquer defeito nelas. Como as montanhas, assim também é com o seu sangue. Os primeiros Ândalos desembarcaram no Vale como seus lordes mais poderosos gostam de se gabar. Em suas veias corre o sangue da mais antiga nobreza Ândala em Westeros. Mas em seus cérebros corre uma tolice ainda mais antiga, a de que o sangue tem importância. Se tivesse, esses lordes de sangue puro deveriam ter sido capazes de exterminar os clãs das montanhas séculos atrás. Mas esses saqueadores primitivos, cujas tribos se parecem mais com canis do que com famílias, continuaram por muito tempo a infestar o Vale. Até já raptaram uma Arryn uma vez. Antes de Tyrion Lannister, um estrangeiro, meu ancestral, nenhum lorde do Vale havia pensado em usar os clãs em seu proveito. Que um povo desesperado e belicoso poderia ser útil, sem mencionar barato. Mas talvez os lordes do Vale considerem tais ideias abaixo deles. Afinal, o isolamento do Vale produz uma abundância de honra em balidos piedosos que governam suas decisões em vez da prudência. Como um homem cego que só pode imaginar onde seu cavalo o está levando. Duvido que Jon Arryn havia se preparado para a guerra civil quando levantou os estandartes ao invés de entregar seus protegidos. A honra exigiu e Lorde Arryn obedeceu. Ele teria feito o mesmo se os garotos não fossem lordes de duas grandes casas que podiam por em campo exércitos poderosos. Mas talvez eu lhe dê muito pouco crédito. Afinal de contas, se a guerra se virasse contra eles, somente Lorde Arryn tinha um belo e impregnável castelo para o qual se retirar. E ele foi sábio o bastante por levar a pobre Lysa Tully a sua cama para ganhar as Terras Fluviais como aliado.

Jon Arryn ganhou. E Jon Arryn morreu. Sabiamente, o Vale ficou de fora de todo o caos subsequente. Suas plantações não queimaram ou secaram nos campos por falta de mão de obra. Sua força não foi esgotada em marchas forçadas por escaramuças fúteis. No Vale, a vida prosseguiu como sempre foi. Calma. Orgulhosa. Um mundo de alta honra imperturbado por exércitos e homens de baixo nascimento mas com grande ambição. Inexpugnável. E eu tinha eles ao meu lado.

Minha conversa com Damon me fazia refletir diante do fogo que resplandecia na lareira. -O outono está acabando, o inverno se aproxima... - Falei diante do fogo, Damon tinha a expressão tão preocupada quanto a minha. Nenhum de nós vivera tanto tempo para ver um inverno e, depois de vinte e cinco anos de primavera, mais vinte anos de verão, o fim do outono traria surpresas traiçoeiras para nós filhos do calor. -Os Starks vivem nos avisando, não é mesmo? - A porta se afastou e uma silhueta se manifestou. Para minha surpresa, a noite ficaria mais agradável. Lá estava ela, minha primogênita, Cyrenna. Parada ao lado da porta, sua voz estimulou meu velho ouvido. Sorri de canto para a loira, era o máximo que eu faria para demonstrar minha felicidade. Depois de tantos anos sem ver Cyrenna, ela merecia um sorriso meu, que ela guardasse muito bem a cena. -Não se engane, o tempo não parou para você também. - Cyrenna é umas das poucas pessoas que merece minha total confiança. Anos e anos falando de famílias e legado. Na verdade, os mesmos sermões com variações mínimas e entediantes que decorei de Margaery, minha mãe. Eu poderia dizer que Cyrenna é a única que prestou atenção e está seguindo eles. A realidade é que ela pode ter muito mais a contribuir para o legado do que meu filho e herdeiro.

Treino:

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Black Lion

Rhaegar Targaryen jazia morto no fundo do Tridente, seu exército real destruído e em retirada. Os dias de reis dos Dragões estavam claramente contados. Até esse momento, teria sido tolice de Tywin -meu bisavô- comprometer Rochedo Casterly, seja com a coroa ou com a rebelião. O que ganharia nossa família apoiando um louco delirante? Ou entrar em uma cruzada para colocar Robert Baratheon no trono? Mas o caos não beneficia a ninguém. Tywin foi inteligente... era hora que a Casa Lannister fizesse o possível para assegurar o retorno da paz e prosperidade às terras.

Meu bisavô Tywin Lannister, trouxe dez mil soldados aos portões de Porto Real para acabar rapidamente com o derramamento de sangue. O rei Aerys enviou corvos por meses, implorando pelo apoio dos Leões para terminar a revolta. De certa forma, suas súplicas haviam sido respondidas.

Como Tywin suspeitava, Aerys abriu as portas da cidade e recebeu seus homens. O plano era bem claro... li sobre essa história inúmeras vezes. Esmagar os homens restantes de Aerys e remover os membros restantes da família real tão rápido e eficientemente quanto possível... qualquer outra alternativa significaria mais anos de guerra e os Sete Reinos fragmentados. Tywin escolheu um meio sangrento porém eficaz, e mesmo assim ele cometeu um erro deixando que a Mãe dos Dragões sobrevivesse, assim como seu irmão que morreu precocemente, Viserys.

Já Aerys conseguiu a morte pelas mãos de seu Guarda Real, Jaime Lannister. Aerys o havia mantido por perto durante a rebelião, pensando que era inteligente manter o filho de Tywin como refém caso ele decidisse apoiar a causa rebelde. Bem, esse provou ser seu maior erro pois quando chegou a hora, Jaime cumpriu seu dever como um Lannister... e enfiou a espada nas costas do Rei Louco. Com isso a coroa de Robert Baratheon estava assegurada. O novo rei reconheceu nosso papel na ascensão ao trono, assim que se deu conta de quão uteis lhe seriam as riquezas e o poder de Rochedo Casterly se quisesse manter seu reinado sólido. Com isso, minha avó Cersei foi oferecida como sua rainha... se Aerys não tivesse recusado a mesma oferta anos atrás, talvez as coisas tivessem sido diferentes.

Com Robert e Cersei coroados como rei e rainha dos Sete Reinos, era um novo dia. O dragão foi vencido... e os Sete Reinos daquele dia em diante pertenciam ao Cervo. E ao Leão. Engraçado como a grande engrenagem se comportou daí em diante, talvez seja a hora do Leão ficar por cima mais uma vez... Serra não cometeria o mesmo erro de Aerys.

Meditava sobre os planos conversados com Serra enquanto bebericava do vinho dornês oferecido por Lorde Arryn. Sua expressão séria já não era presente com a aparição de minha filha e sua moderada barriga de grávida. -Um leão com asas de águia. Vamos ouvi-lo rugir tão alto como a honra. - Brinquei. Deixaria os dois conversarem antes de iniciarmos os assuntos importantes, afinal eles não se viam há meses.  

Treino:

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