[RP FECHADA FLASHBACK] - Infancy ...

Já estava há alguns meses morando nas ruas, isto estava transformando-me em alguém totalmente diferente. No começo tudo era difícil, era necessário mendigar dinheiro ou comida para as pessoas que via nas ruas, infelizmente a grande maioria preferia não fazer caridades. Não conseguia muito coisa como pedinte, bastou alguns dias para que precisasse fuçar o lixo em busca de resquícios de alimentos, uma vida horrível cuja qual eu não escolhi. A imagem de minha mãe sendo esfaqueada na minha frente ainda mantinha-se em minha cabeça, raramente conseguia dormir a noite, e quando conseguia, os pesadelos eram inevitáveis. Morar na rua não era algo que eu desejava, no entanto era impossível manter a casa de minha mãe sem trabalhar, ela precisava trabalhar em muito para pagar o aluguel. As palavras ditas pelo assassino ainda martelavam a minha mente, "lamento muito", o que significavam aquelas palavras? No momento eu não sabia, porém com certeza elas ajudariam-me a encontrar o homem, acabar com a vida do filho da puta que destruiu a minha, era justo. Para que isso fosse concretizado no futuro, eu precisava sobreviver.

Sem poder contar com a ajuda frequente dos habitantes, além do fato de que comer o que jogavam no lixo ser extremamente desagradável, restou-me apenas uma coisa. Roubar. Desde pequena aprendi com a minha mãe as coisas que eram erradas, coisas que eu não deveria fazer. Roubar, machucar o próximo faziam parte desta lista. Mas que outra escolha eu tinha? Era minha única alternativa. Um pouco de dinheiro ou comida a menos, não faria diferença para os alvos dos meus furtos. Porém, seriam importantes para a minha sobrevivência, era a única coisa que eu importava-me no momento. Os primeiros atos furtivos foram complicados, alguns por muito pouco não resultaram em tragédia. Obviamente eu não possuía experiência naquilo, as vezes isso resultava em ser pega no ato, as consequências eram visíveis na minha pele. Não ligavam para as minhas palavras, que explicavam o porquê de eu estar fazendo aquilo, tampouco consideravam a minha idade, todos puniam-me severamente. Perdi a conta das vezes em que apanhei até o ponto de desmaiar, antes de ser jogada numa rua qualquer acordando apenas um tempo depois. As vezes acordava com pontapés de comerciantes, estes que preferiam não ter uma garota qualquer jogada em frente a suas lojas. Por vezes decidi acabar com tudo aquilo, livrar-me do sofrimento. Ninguém iria sentir a minha falta. A única coisa que mantinha-me vivo era o desejo por vingança, mesmo eu tendo cerca de onze anos.

No entanto, meses já haviam se passado. Aos poucos consegui lidar com as "feridas". Roubar já era algo comum para mim, já possuía alguma experiência naquilo. As poucas vezes que eu era pega, na grande maioria eu conseguia fugir. Lembro-me muito bem da vez que confrontei o dono de uma das casas, um golpe dado por mim com uma faca fez com que ele repensasse os seus atos, deixando-me ir embora em paz. Caminhava tranquilamente pelas ruas da cidade livre de Braavos. O sol já havia se pondo há algumas horas, a lua minguante embelezava um céu repleto de estrelas, uma bela noite. Haviam pouquíssimas pessoas na rua, nas casas eu podia ver uma leve claridade saindo pelas janelas, as velas acesas indicavam que os moradores ainda estavam acordados. Estava um pouco frio, pelo menos para mim que vestia trapos rasgados que não protegiam-me da baixa temperatura, tais serviam apenas para esconder a minha nudez. — Preciso agir em breve. Eu poderia voltar na casa que assaltei ontem, haviam alimentos deliciosos lá. Embora possa ser arriscado, os donos devem estar atentos. — Os pensamentos invadiam a minha mente, curiosamente enquanto decidia que residência eu iria invadir, precisava agir logo. Não era inteligente assaltar uma casa com os residentes dormindo, afinal, isso indicava que as portas e janelas estariam trancadas. O barulho ao arrombá-las provavelmente seria ouvido.

Parei em frente a uma casa, era perfeita. Grande e luxuosa. Apesar do contentamento, não havia um sorriso em meu rosto, mantinha uma expressão séria. Aliás, qual teria sido a última vez que eu havia sorrido? Nem eu lembrava-me, não havia motivos para isso, minha vida era uma completa infelicidade. — Talvez haja alguma janela destrancada, aparentemente as pessoas estão acordadas. — Começava a caminhar ao redor daquela casa, sem muita pressa, eu era muito paciente. Minha busca teve resultados, uma chamou-me a atenção, por sorte não ficava no alto, facilmente poderia passar por ela. Aproximei-me dela, ela sequer estava fechada, encontrava-se no momento entreaberta. Posicionei ambas as minhas mãos na fresta, e então empurrei para cima. Sem rispidez, de uma maneira delicada para que não causasse barulhos, logo o vidro estava apenas na parte de cima da janela, da metade para baixo estava sem nenhuma proteção, assim eu poderia facilmente entrar na casa. Apoiei ambas as minhas mãos na parte inferior da janela, logo ergui uma de minhas pernas, tal conseguiu alcançar dentro da casa, assim precisei apenas impulsionar o meu corpo para que estivesse totalmente dentro.

O cômodo estava escuro, a única coisa que iluminava o local eram algumas velas, e elas não eram muito eficazes. Algumas estantes com livro, e escrivaninhas, indicavam que não era o local em que eu desejava estar. Precisava encontrar a cozinha, minha barriga não demoraria muito para fazer barulhos, implorando para que fosse alimentada. Caminhava na ponta dos pés, isso fazia com que o barulho produzido por mim fosse praticamente nulo. A minha baixa estatura também ajudava nisso. Estava agora num corredor extremamente longo, haviam algumas velas presas a suportes nas paredes, tais iluminavam um pouco o local. Após alguns passos dados, avistei não muito longe algo que chamou a minha atenção, alguns metros a minha frente havia alguns armários, além de uma peça provavelmente usada para lavar a louça. Seria a cozinha? Talvez, eu esperava que fosse. Caminhei na direção, um tanto despreocupada com o que havia ao meu redor, provavelmente por conta de estar um pouco animada. Subitamente parei, não foi por acaso, e sim por causa de algo avistado por mim, pessoas. Eram dois, sendo um homem e uma mulher. Ela tecia algo enquanto ele não estava fazendo nada, apenas conversando com a sua esposa. Eu poderia tentar aproveitar-me da distração dos dois para passar despercebida, talvez desse certo.

A situação estava um pouco complicada, entre mim e a cozinha havia um outro cômodo, neste encontravam-se os dois. agachei-me no chão e então, como um bebê, comecei a engatinhar na direção da cozinha, aproveitaria-me de uma espécie de sofá que estava entre nós. Poderia sem muitas dificuldades passar por trás dele. Tentava ser o mais silenciosa possível, evitava até mesmo respirar, fazendo apenas quando era necessário. Minha movimentação era quase nula de barulhos, no entanto ainda era ouvível. — Ouviu isso? — Engoli um seco ao ouvir a voz masculina proferindo tais palavras. Paralisei por alguns instantes, estaria encrencada se encontrassem-me. — Não. Provavelmente é algo da tua cabeça. — Uma sensação de alívio tomou conta do meu corpo ao perceber os risos após as palavras da mulher, logo voltavam a falar de outros assuntos, algo que não interessava-me. Instantes bastaram para que eu chegasse na cozinha, finalmente poderia pegar algum alimento antes de sair dali. Havia um receio até mesmo ao abrir as portas do armário, tudo era feito com extrema calma, o que menos precisava ali era ter pressa. Haviam diversos tipos de alimentos, alguns precisavam ser preparados antes de poderem ser ingeridos, logo não interessavam-me. A abundância de fruta, no entanto, era algo que agradava-me. Vários tipos prontas para serem consumidas.

Busquei, e rapidamente encontrei, algum tipo de recipiente que servisse para suportar algumas frutas. Levar todas nas mãos seria uma tarefa difícil. Peguei uma espécie de bacia, era redonda e um pouco profunda, ideal para o que eu queria. Toda fruta encontrada era posta por mim dentro do objeto, não tardaria muito para que estivesse completamente cheia, assim eu poderia ir embora dali. Cometi um erro, justo quando eu estava quase indo embora fiz algo que poderia pôr em risco todos os meus esforços. A ânsia em preencher logo a bacia resultou na queda de um melão, este que espatifou-se no chão. — Merda. — Murmurei. O barulho provocado pela queda certamente chamaria a atenção dos moradores dali, precisava pensar em algo.

Spoiler:

O barulho provocado certamente atrairia a atenção dos residentes. Nunca passou pela minha cabeça o quão barulhento poderia ser a queda de um melão. — Merda. — Murmurei logo que a fruta bateu no chão. Algumas vozes alteradas indicavam que haviam percebido o barulho provocado por mim, eu deveria agir, e rápido. Olhei ao meu redor em busca de algo que poderia auxiliar-me, não tardou muito para que visse uma faca. A lâmina não parecia estar muito afiada, mas deveria bastar para defender-me. Sem mais delongas peguei-a com uma de minhas mãos e então corri para fora daquele cômodo. Ao passar pela porta olhei para todos os lados procurando algum lugar para me esconder, uma escada que dava acesso ao segundo andar encontrava-se não muitos metros a minha direita, logo corri em sua direção.

Através de passos curtos, e rápidos, percorri os degraus da escada rapidamente, não demorou muito para que já estivesse no segundo andar. Dei uma rápida olhada para baixo podendo ver o homem correr para dentro da cozinha. Movi minha cabeça para o outro lado deparando-me com a mulher, esta que já havia me visto ali. — É uma garota, ela está ali, Jon. — Arregalei os olhos ao ouvir as palavras da mulher, pouco antes de correr para dentro de um cômodo aleatório e escuro. — Onde ela está? — Ouvi os gritos que vinham do homem. A mulher nada falou, no entanto os passos vindos da escada indicavam que ela havia informado-lhe da minha localização, talvez apontou com a sua mão.

O local em que eu estava parecia ser um quarto. Por estar quase totalmente escuro, era difícil andar dentro dele sem tropeçar nos móveis. Utilizei do tato para apalpar os mais diversos móveis que haviam ali, provavelmente haveria algum que esconderia-me. Em frente a uma das janelas toquei um tecido, aparentemente era uma cortina. Poderia ficar atrás dela, mesmo que não fosse o melhor dos esconderijos. Colei meu corpo na parede detrás da cortina, pouco respirava, tentava ao máximo não denunciar a minha posição. O homem tardou um pouco para chegar ali, e quando foi levava consigo uma lamparina, sorte a minha que o tecido era escuro, se fosse claro ele com certeza notaria a minha presença. — Eu vou te encontrar. — Disse o homem enquanto vasculhava o quarto, pude ver a sua movimentação através de uma pequena fresta que abri. Primeiro olhou embaixo da cama, nada viu. Na sequência foi até um dos armários, este que ficava à direita do local onde eu estava. Não demoraria muito para ele puxar a cortina, eu tinha de agir rapidamente.

Vi um momento de distração por parte dele, seria essa a minha chance para sair dali? Eu esperava que sim. O homem parecia estar fuçando num grande armário, as inúmeras portas que o móvel possuía, aliado a quantia de roupa que era tirada a todo instante, para que ele pudesse vasculhar cada centímetro daquilo, fazia com que ele demorasse um bom tempo ali. Abri a cortina lentamente, há todo instante observava o outro que parecia distraído, passos lentos e delicados foram dados por mim na direção da porta, me esconderia noutro lugar ou talvez conseguisse sair da casa. Embora ainda houvesse uma outra pessoa ali, tal poderia atrapalhar-me. Ao chegar na porta dei uma rápida olhada para trás, para minha sorte, o homem ainda estava na posição de antes, não demoraria muito para que tivesse a certeza de que eu não estava ali. — Ela saiu do quarto. Ela saiu do quarto. — Maldita seja aquela mulher, a vadia só servia para dedurar-me, sequer incomodava-se em ajudar o marido.

Gostaria de sair correndo para fora daquela casa, mas não conseguiria fazer isso por enquanto. Teria que passar pela mulher se quisesse ir embora, ela era bem maior que eu, não tinha certeza se poderia vencê-la. O esquema agora era ficar escondida mesmo, o cômodo que eu estava anteriormente não era o único ali em cima, precisava distraí-los com agora, para finalmente dar o fora dali. Entrei noutro quarto, este era menor que o anterior. Perguntei-me a razão de haver um outro quarto, afinal, o primeiro já era mais do que o suficiente para o casal. Este era bem mais vazio, não parecia haver lugares decentes para esconder-me. Arregalei os olhos quando ouvi sons que aproximavam-se do quarto, passos apressados que não demorariam muito para chegar ali. Olhei rapidamente para todos os lados, era impossível que não houvesse nada ali para esconder o meu quarto, sem muitas opções fui para debaixo da cama. Um esconderijo tão óbvio.

— Droga, droga. — Pensei. Tinha noção de que não havia sido um bom esconderijo, anteriormente foi o primeiro lugar em que Jon procurou. O silêncio imperou no quarto por alguns instantes, até que senti algo tocar um de meus pés. — Te peguei. — O homem usava de sua força para tentar puxar-me até ele, agitei minhas pernas até que finalmente consegui fazer com que ele me soltasse. Saí rápido de baixo da cama e corri para fora dali. Ao olhar para trás vi o homem já em pé vindo na minha direção, aparentemente estava furioso. Não pude evitar o choque entre mim e um corpo, quase caí, ao contrário do outro que caíra abruptamente contra o chão por ser bem menor. Era um garotinho, cinco anos talvez. Não sabia de onde ele tinha vindo, deveria ser o dono daquele quarto. Não importava, tinha aparecido na hora certa.
---- em andamento -----

Spoiler:

Era incrível como tudo parecia estar dando errado naquela noite. Se eu tivesse um poder que permitiria voltar no tempo, certamente optaria por manter-me longe daquela casa. Apesar do alimento ser necessário, não importava-me mais com ele, tudo que queria no momento era sair dali. Tinha agora uma situação interessante, não poderia deixar escapar o que poderia ser a passagem para fora. A criança manteve-se no chão, antes de ser puxada por mim pela sua blusa. Meu braço esquerdo entrelaçou-se no pescoço do menino, minha mão direita tratou de deixar a adaga colada no seu pescoço. — Para trás. Ou eu mato o teu filho. — Meus olhos mantinham-se fixados no homem e, embora eu estivesse com medo, tentava demonstrar estar calma perante aquela situação.

O olhar do homem apontava o que ele estava sentindo. O medo era comum, afinal, havia uma desconhecida usando o seu filho como refém. O ódio era justamente por causa disso, pela audácia de eu estar com uma faca tão perto da jugular da criança. Lágrimas de pura raiva desciam de seus olhos, seus punhos cerraram-se como se estivesse prestes a partir para cima de mim, no entanto não fez isso. Provavelmente por causa que isso provavelmente resultaria na morte do menino. — Invade a minha casa, tenta roubar o meu alimento e ainda faz isso com o meu filho? Eu vou te matar, desgraçada. — O homem estava furioso, eu temia somente ao pensar no que aconteceria caso ele pusesse as mãos em mim. Não poderia deixar isso acontecer, para isso tinha um refém perfeito.

Me esforcei ao máximo para que eu sorriso de deboche formasse-se em meu rosto, tinha noção de que era eu que deveria ditas as ordens ali. — Devo admitir que tu é ótimo com piadas. Sinceramente, acha que é você quem deve ameaçar-me? Sou eu quem estou com uma faca próxima da jugular do teu filho. Eu não teria quaisquer dificuldades para matá-lo, portanto, controle-se. — Soltei uma gargalhada. Provavelmente eu não teria coragem de matar alguém, especialmente uma criança daquela idade. Por sorte eles não conheciam-se, sendo assim não sabiam do que eu era capaz ou não de fazer. Provavelmente não arriscariam já que a vida do filho deles estava em jogo. — Sua ... Sua. — O ódio se fazia cada vez mais presente na voz do homem, por alguns instantes eu cheguei a pensar que ele não fosse se controlar.

— Acalme-se, querido. Ela está com o nosso filho. — Finalmente a outra pronunciou-se, aparentemente estava mais racional do que o marido, embora ela também estivesse com o rosto repleto de lágrimas. — Ouça sua mulher, idiota. Agora de-me espaço para descer a escada. E mantenham-se longe dela, sabem o que acontecerá caso não me obedeçam, não é? — Ele apenas concordou acenando a cabeça, logo desceu as escadas. Os dois mais velhos afastaram-se um pouco da escada, dando espaço para que eu passasse. Após alguns passos eu já estava lá embaixo, o garoto ainda estava sob o meu domínio. — Solte ele agora, e vá embora. — Falou o homem. Eu poderia muito bem fazer isso, mas por quê não aproveitar-me da situação? Não deveria sair dali com as mãos vazias.

Ri não muito alto, o suficiente para que eles ouvissem. — Ainda não. Encha aquela bacia que está na cozinha com várias frutas e deixe ao lado da porta. — Apontei para a direção da cozinha antes de retornar a faca para onde ela estava. — Não teste a minha paciência, garota. Vá embora. — O homem estava saindo das rédeas, eu deveria fazer algo, e fiz. — Está de brincadeira comigo? Pois eu não estou brincando. Esqueceu o que eu posso fazer com o teu filhinho? — Apertei a lâmina levemente contra o pescoço da criança fazendo um corte superficial ali, as gotas de sangue que saíram de sua pele sujaram uma parte da faca. A criança que antes estava choramingando, deu um grito. — Calado. — Seu choro foi abafado pela minha voz, certamente até mesmo quem estivesse passando pelas ruas ouviria.

Os dois mais velhos olharam-se assustados, logo o homem correu até a cozinha. — A cor vermelha certamente daria um belo toque nesse teu carpete, não acha? — Ri, desta vez falei apenas para a mulher já que o homem estava no outro cômodo. A mulher não falou nada, ficou ali parada olhando-me assustada. O homem não demorou muito para voltar, a bacia estava repleta de frutas. — Deixe no chão, perto da porta. E então afaste-se. — Cumpriu o que propus, a bacia foi deixada no lado da porta, ele retornou até a sua esposa. Aproximei-me devagar da porta, assim que tive alcance suficiente abri a mesma. Soltei o garoto, sem que antes eu desferisse um forte chute em suas costas jogando-o no chão. — Foi ótimo fazer negócio com vocês. — Peguei a bacia e saí correndo dali, ao olhar para trás percebi que não havia ninguém correndo atrás de mim, talvez estivessem mais interessados em consolar o filho.

Spoiler: